SAÚDE

Prefeitos querem plano estadual para garantir vacinação no RS

Estado registrou mais de 5 mil novas infecções por covid-19 nas últimas 24 horas. Na capital, UTIs do HCPA e Conceição estão no limite
Da Redação / Publicado em 6 de janeiro de 2021
Eduardo Leite (PSDB) e secretários receberam o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), no Palácio Piratini, para teleconferência com prefeitos

Foto: Gustavo Mansur Palácio Piratini

Eduardo Leite (PSDB) e secretários receberam o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), no Palácio Piratini, para teleconferência com prefeitos

Foto: Gustavo Mansur Palácio Piratini

A Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS) registrou 5.014 novos casos e 101 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 465.337 infectados e 9.226 óbitos até esta quarta-feira, 6.

Em dezembro, o estado registrou o maior número de mortos por covid desde o início da pandemia, 1.857 óbitos. Os riscos de agravamento ainda maior da pandemia no estado em janeiro como resultado das aglomerações de final de ano e as estratégias de enfrentamento da crise sanitária diante das indecisões do ministério da Saúde foram pauta de uma reunião virtual entre o governador do estado e prefeitos da região metropolitana.

Os prefeitos cobraram um “Plano B” para assegurar a imunização com recursos do estado e dos municípios. “Essa inoperância do governo federal não pode ser aceita por prefeitos e governadores. Nós precisamos agir, exigir celeridade, organização, bom senso e vontade política. Porque é aqui, nos municípios, que ocorrem os óbitos”, alertou Ary Vanazzi (PT), prefeito de São Leopoldo.

A média de ocupação de leitos de UTI no estado atingiu 76,5%, mas a maioria dos hospitais referenciais no atendimento à pandemia na capital e região metropolitana já não dispõe de vagas para pacientes graves.

Pela manhã, estavam internados no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) 18 pacientes com suspeita de covid-19 e 72 casos confirmados, sendo 45 em estado crítico. A instituição conta com 86 leitos de CTI Covid ativos. São 70 unidades instaladas no Centro de Tratamento Intensivo do bloco B, 12 na Emergência e quatro na UTI Covid 9º Sul.

Nos hospitais do Grupo Conceição, a lotação de leitos de UTI superou 90% às 9h30min. Dos 39 leitos UTI-covid do Hospital Nossa Senhora da Conceição, 37 estão ocupados (94,8%).

A situação também é grave em relação a pacientes graves que demandam UTI por outras enfermidades ou cirurgias, com 94,4% dos 36 leitos não covid ocupados. Na enfermaria para pacientes com suspeita de infecção pelo coronavírus só resta um dos 12 leitos disponíveis.

A situação se repete no Cristo Redentor, onde apenas um dos 12 leitos de UTI estava disponível nesta manhã. Dos 10 leitos de retaguarda, abertos pelo hospital para enfrentar o agravamento da pandemia, nove estão ocupados. No Fêmina, a lotação é de 50%: três dos seis leitos de UTI covid estão ocupados por pacientes em estado grave.

Bandeira preta

Com o indeferimento na segunda-feira, 4, de quatro pedidos de reconsideração ao mapa preliminar da 35ª rodada do Distanciamento Controlado, o estado voltou a apresentar em ao menos uma região a classificação mais alta prevista no modelo, depois de duas semanas sem bandeira preta.

No mapa definitivo desta rodada, com vigência até a próxima segunda-feira, 11, a região de Bagé fica na cor preta, que representa risco altíssimo para coronavírus. Outras 13 regiões ficam em bandeira vermelha (risco epidemiológico alto) e sete em bandeira laranja (risco médio) – Santa Maria, Uruguaiana, Taquara, Novo Hamburgo, Guaíba, Cruz Alta e Erechim.

Nesta quarta-feira, o governador Eduardo Leite (PSDB) participou de uma videoconferência com prefeitos do Consórcio dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) sobre o modelo de Distanciamento Controlado e sobre o enfrentamento ao coronavírus.

“São vocês que estão na ponta e que entendem com detalhes o funcionamento de cada uma das cidades. Por isso, sempre tomamos todas as decisões com relação ao modelo de Distanciamento Controlado levando em consideração as opiniões dos prefeitos”, disse. Convidados a se manifestar individualmente, os prefeitos sinalizaram preocupação com a urgência de um processo de imunização contra o coronavírus e a necessidade de um plano B, para o caso de o governo federal não fornecer as doses da vacina à população.

Leite afirmou que confia na coordenação federal do processo de vacinação, via Programa Nacional de Imunizações (PNI). “Não faz sentido que, em um país como o Brasil, com 45 anos de tradição em campanhas de vacinação, os municípios e os Estados partam para uma disputa, como o que foi visto na aquisição de respiradores”. Durante o encontro, Leite recebeu recebeu uma mensagem do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que afirmou que a medida provisória que viabilizará a aquisição das vacinas por parte do governo federal deve ser assinada ainda nesta quarta-feira. O ministério da Saúde também prometeu divulgar a estratégia de vacinação no país, com previsão de início ainda em janeiro.

Negociação com o Butantan

De acordo com o governador, não está descartada a compra das doses necessárias para a vacinação dos gaúchos. O estado já deu início a um processo de negociação com o Instituto Butantan ao encaminhar expediente manifestando interesse na aquisição de vacinas para os profissionais de saúde. Além disso, a Secretaria da Saúde está adquirindo seringas e outros materiais necessários para garantir a vacinação da população e organizando a logística do processo.

“Como estado, não fugiremos da responsabilidade, caso seja necessário, mas é preciso ressaltar que os recursos serão retirados de outros investimentos para serem realocados à aquisição da vacina, o que pode penalizar a população. Se não houver definição nos próximos dias, passaremos a nos movimentar por aqui para fazer a aquisição das doses que forem aprovadas pela Anvisa”, disse.

A secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, lembrou a experiência do RS com o Programa Estadual de Imunizações (PEI) e disse que o estado tem condições de armazenar e distribuir todos os tipos de vacinas e possui número suficiente de seringas agulhadas para suprir a primeira fase de vacinação.

Plano B para vacinação nos municípios

"Não dá para ficar refém de um governo paralisado, nem espectador de discursos, retóricas e promessas”, protestou Vanazzi

Foto: Valentin de Thomaz/ PMSL

“Não dá para ficar refém de um governo paralisado, nem espectador de discursos, retóricas e promessas”, protestou Vanazzi

Foto: Valentin de Thomaz/ PMSL

“Reiterei hoje na reunião dos prefeitos da região metropolitana com o governador e vou continuar batendo nesta mesma tecla: precisamos urgente da vacina contra a covid para os profissionais de saúde, os idosos e os professores”, disse o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi (PT).

Ele destacou que o país está bem próximo dos 200 mil mortos, com sistema de saúde em colapso e na posição de espectador em relação a todo o resto do mundo, que se agiliza na aquisição dos imunizantes. Assim como a maioria dos prefeitos que participaram do encontro, Vanazzi destacou a urgência de um “Plano B” para assegurar a imunização da população gaúcha, por meio da iniciativa do governo estadual e dos municípios.

“Essa inoperância do governo federal não pode ser aceita por prefeitos e governadores. Nós precisamos agir, exigir celeridade, organização, bom senso e vontade política. Porque é aqui, nos municípios, que ocorrem os óbitos, que a população precisa ser assistida, que há falta de profissionais de saúde, doentes, esgotados e muitos prestes a abandonar o trabalho. Não dá para ficar refém de um governo paralisado, nem espectador de discursos, retóricas e promessas”, alertou Vanazzi.

Devido às restrições impostas pela pandemia, a reunião ocorreu por meio de videoconferência, com a participação presencial do vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, dos secretários Luís Lamb (Inovação, Ciência e Tecnologia e coordenação do Comitê de Dados), Arita Bergmann (Saúde) e Agostinho Meirelles (Articulação e Apoio aos Municípios), e do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB). Também acompanharam remotamente o encontro os prefeitos Jairo Jorge (Canoas), Volmir Rodrigues (Sapucaia do Sul), Leonardo Pascoal (Esteio), Valdir Bonotto (Viamão), José Arno Appolo (Alvorada), Miki Breier (Cachoeirinha), Luiz Zaffalon (Gravataí), Ernani de Freitas Gonçalves (Eldorado do Sul), Marcelo Maranata (Guaíba), Fátima Daudt (Novo Hamburgo), Rodrigo Batistela (Nova Santa Rita), Paulo Corrêa (Glorinha) e Rodrigo Massulo (Santo Antônio da Patrulha), e o presidente da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Maneco Hassen.

Comentários