OPINIÃO

A importância do letramento midiático no currículo escolar

Por Taís Seibt / Publicado em 6 de junho de 2022
A importância do letramento midiático no currículo escolar

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Trabalhar o letramento midiático de forma transversal nas diferentes disciplinas e níveis de ensino na educação básica é um desafio para professores

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Já faz alguns anos que paramos de nos surpreender com cenas que até viraram meme no passado, como a garotinha que tentava ampliar a foto de uma revista impressa com os dedos, como se estivesse frente a um tablet. Os chamados “nativos digitais” são cada vez mais precoces no uso de dispositivos midiáticos, mas é um erro pensar que eles já “nascem sabendo”.

O professor norte-americano Marc Prensky chamou atenção para isso em seus estudos, rebatizando essa geração de nativos para “inocentes digitais”. Eles são capazes de transitar facilmente de um aplicativo para outro no celular e desvendam o funcionamento de um novo aparelho eletrônico muito mais rápido do que os adultos mais próximos. Contudo, não estão preparados para lidar com a superexposição de sua imagem nas redes, os riscos da captura de dados pessoais, a desinformação e outras ameaças da vida digital.

Uma pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgada em 2021 traduz essa realidade em números: 67% dos estudantes de 15 anos do Brasil – quase sete a cada dez – não conseguem diferenciar fatos de opiniões. O índice está acima da média registrada em estudantes de outros 79 países analisados pela pesquisa, que é de 53%. No estudo, chamado “Leitores do século 21: Desenvolvendo habilidades de alfabetização em um mundo digital”, a organização destaca a necessidade de ensinar não só a ler e escrever corretamente na escola, mas também a distinguir conteúdos, que podem ser de vários tipos, incluindo golpes criminosos para roubar dados (phishing) e propagandas indesejadas (spams), além de teorias de conspiração e mentiras em geral.

Para ler o mundo digital

Partindo do entendimento de que ler é decodificar, podemos considerar que a noção de alfabetização muda conforme mudam as tecnologias: o alfabeto hoje é muito mais do que o abecedário. Para “ler” o mundo digital de forma segura, precisamos aprender não só a decodificar fotos, vídeos, mapas e infográficos, mas também memes, remix, bots, hackers, golpes, discurso de ódio, bolhas informativas, marketing de influência, “fake news”, num fluxo de leitura totalmente fragmentado e não linear.

E ainda será preciso dar um passo além da alfabetização em direção ao letramento digital e midiático. Conceitualmente, a alfabetização é a competência de ler e escrever, enquanto o letramento diz sobre a função social da leitura e escrita. Por isso não basta apenas introduzir novas tecnologias na educação, usando a mídia como recurso de ensino. É preciso desenvolver a leitura crítica das mídias no sentido amplo, para que os estudantes desenvolvam, desde muito cedo, as competências necessárias para participar de forma consciente e ética do ambiente digital.

Letramento midiático

Trabalhar o letramento midiático de forma transversal nas diferentes disciplinas e níveis de ensino na educação básica é um desafio para professores, pois essa discussão quase não fez parte de sua formação docente ou pelo menos era tratada com menos urgência do que agora. No intuito de tornar essa discussão mais presente nas escolas do Rio Grande do Sul, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) lançou este ano o Desafio Nuvem de Educação Midiática, um programa gratuito de formação para professores do ensino básico.

A primeira oficina do Desafio Nuvem, com a presença de pesquisadores do Estados Unidos e do Brasil ocorreu em 21 de maio, mas ainda é possível participar do programa, que terá uma nova oficina online no dia 11 de junho, sábado, das 10h às 12h. Após as formações, os professores serão convidados a elaborar seus próprios planos de ensino voltados à educação midiática, podendo ter o trabalho publicado em um e-book e inspirar outros colegas em suas atividades no futuro. As inscrições estão disponíveis em bit.ly/desafionuvem2022.

Taís Seibt, professora da Escola da Indústria Criativa da Unisinos e coordenadora do Desafio Nuvem de Educação Midiática

 

Comentários