POLÍTICA

Feminicídio: tese da defesa da honra vai para a Câmara

Já considerada inconstitucional pelo STF, Câmara dos Deputados colocará pá de cal em tese que até pouco tempo foi considerada atenuante na defesa de réus que praticaram feminicídio
Da Redação / Publicado em 8 de agosto de 2022

Feminicídio tese da defesa da honra vai para a Câmara

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em um cenário de crescente número de feminicídios no país – oito mulheres por minuto sofrem algum tipo de violência –, na mesma semana  em que a Lei Maria da Penha completa 16 anos, segue para a Câmara dos Deputados a lei que afasta a possibilidade de a defesa do acusado usar as teses da legítima defesa da honra, da defesa de valor moral ou da violenta emoção para atenuar os crimes de feminicídio e de violência doméstica e familiar contra a mulher.

O projeto (PL 2.325/2021) da senadora Zenaide Maia (Pros-RN) foi a aprovado por duas Comissões do Senado e enviado diretamente para votação na Câmara dos Deputados.

O Supremo Tribunal Federal já havia decidido, em 2021, pela inconstitucionalidade desses dispositivos no Código Penal, mas, para Zenaide Maia, era preciso que o legislador também garantisse isso no texto da lei.

Na opinião da senadora, a proibição do uso da tese de legítima defesa da honra nos crimes contra a mulher representa a virada de “uma página vergonhosa da nossa história”.

‘O Brasil está deixaando para trás o machismo estrutural, a noção de que a mulher é uma propriedade do homem, que tem o direito de agredir e tirar a vida. Não! É crime e tem consequências. A sociedade não tolera mais esses resquícios de um tempo em que a mulher não tinha vez. Espero que, em breve, tenhamos uma legislação que esteja de acordo com os nossos tempos, pondo um fim nessas teses machistas e pensamentos ainda da época da Colônia”, disse.

Autora da proposta, Zenaide Maia citou o famoso caso em que Doca Street usou a tese da legítima defesa da honra para aliviar a pena por ter assassinado a sua esposa Ângela Diniz. Com a reação das mulheres, houve um novo julgamento, depois do qual o tempo da condenação foi aumentado.

Feminicídio tese da defesa da honra vai para a Câmara

Foto: Roque Sá/Agência Senado

Para a senadora Zenaide Maia, a proibição do uso da tese de legítima defesa da honra nos crimes contra a mulher representa a virada de “uma página vergonhosa da nossa história”

Foto: Roque Sá/Agência Senado

Maria da Penha completa 16 anos

A Lei nº 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, que criou mecanismos para enfrentar e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, completou no domingo,  7, 16 anos. Para lembrar a data, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) lançou a campanha Agosto Lilás. O objetivo é promover ações de conscientização para o fim da violência contra a mulher, além de divulgar o canal de denúncias Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher).

Campanha de conscientização contra feminicídio

“A cada minuto, oito mulheres sofrem violência no Brasil. Não se omita. Denuncie”. Esse é o tema da campanha Agosto Lilás, de alcance nacional.

De alcance nacional, a campanha será veiculada nos meios digitais e na TV aberta. Em Tocantins, Piauí, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Acre, estados com maiores taxas de feminicídios, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as ações também serão divulgadas em rádios, ônibus e outdoor social. Em três grandes metrópoles – São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília – os conteúdos abrangerão ainda relógios digitais sincronizados com o mobile, outdoor social, elevadores de edifícios residenciais e mídias externas voltadas a passageiros de metrôs e trens, além de mobiliários urbanos.

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