AMBIENTE

Organizações se mobilizam por uma melhor gestão de resíduos sólidos em Porto Alegre

Uma das primeiras capitais do país a ter coleta seletiva, Porto Alegre enfrenta problemas na gestão do lixo, falta conscientização da população e maior empenho do poder público
Por Silvia Marcuzzo / Publicado em 15 de dezembro de 2023
Coletivo de entidade se mobiliza pela gestão de resíduos sólidos em Porto Alegre

Foto: Igor Sperotto

Porto Alegre enfrenta problemas com o lixo: Só com o transporte de caminhões e a destinação final no aterro de Minas do Leão, o custo por mês foi R$ 2,8 milhões para o transporte e R$ 4,6 milhões para aterrar

Foto: Igor Sperotto

Nas últimas administrações municipais, Porto Alegre vem sofrendo com a questão da gestão dos resíduos sólidos. Pior do que isso, foi promovido um desmonte e o sucateamento de um sistema que envolvia coleta, separação e apoio à reciclagem, capaz de minimizar danos ambientais e gerar emprego e renda para famílias da periferia.

Com isso, o lixo virou um dos maiores problemas urbanos da atualidade. O poder público não tem demonstrado intenção de implementar políticas para o enfrentamento dessa realidade e a população não sabe separar corretamente os resíduos.

Na capital dos gaúchos, dezenas de famílias perderam um referencial de trabalho e renda. Atualmente cerca de 4% dos resíduos sólidos são reciclados. O resultado mais visível é muito lixo espalhado pelas ruas, mas o problema envolve saúde pública e inclusão social.

Os valores pagos aos catadores das 17 Unidades de Triagem que recebem resíduos pela coleta da prefeitura foram sendo reduzidos depois da pandemia por questões de mercado.

O terceiro maior gasto da prefeitura, depois das rubricas da Saúde e da Educação, é com o gerenciamento de resíduos.

Só com o transporte de caminhões e a destinação final no aterro de Minas do Leão, o custo no mês de setembro foi R$ 2,8 milhões para o transporte e R$ 4,6 milhões para aterrar.

Enquanto isso, cada Unidade de Triagem recebe da prefeitura de Porto Alegre cerca de R$ 5,4 mil por mês para funcionar. E isso não é suficiente para pagar as contas.

Porto Alegre sem lixo

Entidades se mobilizam por uma melhor gestão de resíduos sólidos em Porto Alegre

Foto: Silvia Marcuzzo

O encontro do projeto POA sem Lixo, incluído recentemente entre as ações prioritárias do Pacto Alegre, visa a promoção de mudanças na estrutura de produção, consumo, descarte das embalagens comercializadas e descartadas no município

Foto: Silvia Marcuzzo

O primeiro passo para mobilizar a sociedade para melhorar a gestão de resíduos em Porto Alegre foi dado na manhã desta sexta-feira, 15, no campus da Unisinos.

O encontro do projeto POA sem Lixo, incluído recentemente entre as ações prioritárias do Pacto Alegre, visa a promoção de mudanças na estrutura de produção, consumo, descarte das embalagens comercializadas e descartadas no município.

A ideia é congregar empresas, coletivos, organizações, diversos segmentos sociais para que sejam realizadas ações de inovação, políticas públicas e educação da população para a promoção da reciclagem.

A iniciativa integra o projeto Cluster para Ecossistemas Circulares e de Inovação (chamado Ecoar), aprovado no edital Fapergs 02/2022.

Para a coordenadora geral da proposta, professora Istefani Carísio de Paula, da Engenharia de Produção da Ufrgs, o encontro foi muito produtivo, com diversidade e empolgação de gente que anda incomodada com a situação da coleta de resíduos na capital.

Marcaram presença empresários de startups, como Trashin, Greenthink, Blocoeco, pesquisadores das universidades do Pacto Alegre – PUCRS, Ufrgs e Unisinos, incluindo o Núcleo de Caracterização de Materiais (NucMat) – ambientalistas, representantes do Movimento de Catadores, do coletivo POA Inquieta, entre outros.

Durante o evento, a representante da Apoena Socioambiental Joice Pinho Maciel, que presta serviços técnicos para diversas Unidades de Triagem (UTs) de Porto Alegre apresentou a Carta de Apoio aos Catadores e Catadoras de Porto Alegre, da Campanha Coleta Seletiva Viva POA.

Sucateamento das unidades de triagem

No documento que o coletivo vem tentando entregar ao prefeito Sebastião Melo (MDB) são reivindicadas melhores condições de trabalho e pagamento justo para o funcionamento das Unidades de Triagem.

“A situação das UTs é seríssima, os prédios, a maior parte da prefeitura, nunca receberam qualquer tipo de reforma. O que a prefeitura paga é um valor insuficiente para a manter a operação”, acrescenta Istefani.

Com o aumento extremo da temperatura no verão é impossível permanecer nas Uts, que não contam com qualquer sistema de ventilação. Algumas estações ficaram alagadas com as chuvas desse ano.

Além disso, muita gente está abandonando a forma mais organizada de executar a separação de resíduos devido ao baixo valor que tem sido pago pelos materiais recicláveis.

“Nunca passamos por uma crise tão intensa quanto a atual”, explica Paula Medeiros, do Fórum Municipal de Catadores. Ela, no entanto, disse que saiu otimista da reunião. Segundo Paula, o Centro de Educação Ambiental na Vila Pinto, que foi criado pela sua mãe, Marli Medeiros, já foi beneficiado com trabalhos e pesquisas de alunos de universidades da cidade.

A meta agora é colher resultados e promover impactos positivos em termos ambientais e sociais, até 2025.

Em junho de 2023, foi entregue o diagnóstico do contexto dos resíduos sólidos em Porto Alegre.

Na próxima fase, será desenvolvida uma ferramenta capaz de gerenciar os dados de rastreamento das embalagens durante todas as etapas do ciclo.

A proposta ainda tem por objetivo agregar valor para cada elo da cadeia, a fim de promover o engajamento de todos os stakeholders envolvidos.

 

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