AMBIENTE

Noite de vendaval, destruição e pânico em Porto Alegre

Temporal teve tempestade severa com vento acima de 100 quilômetros por hora e metade da média de chuva do mês em apenas uma hora
Por Gilson Camargo / Publicado em 17 de janeiro de 2024
Noite de vendaval, destruição e pânico em Porto Alegre

Foto: Defesa Civil do RS/ Divulgação

Vendaval provocou quedas de árvores e de postes da rede elétrica na capital, ocasionando cortes no abastecimento. Uma pessoa morreu em Cachoeirinha

Foto: Defesa Civil do RS/ Divulgação

Um homem morreu atingido pela estrutura metálica de uma marquise que desabou no Parque da Matriz, em Cachoeirinha, por volta das 23h de terça-feira, 16, em meio ao forte temporal que atingiu a Região Metropolitana de Porto Alegre.

A chuva torrencial com rajadas de ventos que atingiram 100 quilômetros por hora entre a noite de terça e a manhã desta quarta-feira, 17, provocaram morte, destruição e pânico.

Mais de 1,1 milhão de pessoas ficaram sem luz nas últimas horas no estado. A CEEE Equatorial informou que pelo menos 600 mil clientes atendidos da sua área de abrangência estão desabastecidos nesta manhã. Em nota, a empresa informou que o temporal causou “danos significativos em nossas redes”.

Na área da RGE, 574 mil clientes ficaram sem energia elétrica. De acordo com a empresa, as áreas mais afetadas são as regiões Central e Metropolitana e os vales do Taquari, dos Sinos e do Rio Pardo.

Na capital gaúcha, o vendaval provocou alagamentos já no início da chuva. Houve queda de árvores e postes e interrupção no abastecimento e nos serviços de transporte. Mais uma vez, o trecho da linha da Trensurb entre as estações Farrapos e Mercado ficaram embaixo d’água. A empresa informou que os trens estão circulando somente entre Novo Hamburgo e Farrapos, sem previsão de retorno à normalidade.

Defesa Civil

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou que 25 cidades já tinham comunicado uma série de danos e ocorrências causadas pela chuva e fortes ventos, como alagamentos e destelhamento de imóveis.

Segundo o coordenador da Defesa Civil de Cachoeirinha, Vanderlei Marcos, ao menos 19 pessoas foram atendidas nas unidades de saúde do município com ferimentos leves. Embora não haja desabrigados e desalojados, pelo menos 20 famílias tiveram que deixar suas casas, momentaneamente, retornando pouco tempo depois, com o aval da Defesa Civil. Foram contabilizadas mais de 600 residências destelhadas e a queda de mais de 200 árvores e de 150 postes. Dez bairros estão sem energia elétrica.

“Neste momento, estamos com todas as equipes mobilizadas para restabelecer os serviços; ampliando as equipes de podas [de árvores e galhos] e distribuindo lonas. Estamos procurando agir o mais rápido possível, pois a chuva parou, mas há previsão de novas pancadas”, disse.

Imagem: Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)

Na imagem de satélite à esquerda, o volume de chuva acumulado em 48 horas, até as 9h de quarta-feira e, à direita, a precipitação acumulada em 72 horas, até as 9h de quinta-feira

Imagem: Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)

O governador Eduardo Leite usou sua conta pessoal no X (ex-Twitter) para se solidarizar com amigos e parentes da vítima de Cachoeirinha.

“Começamos o dia com rescaldo dos estragos provocados pelos temporais da noite passada. Infelizmente, uma pessoa perdeu a vida durante esse episódio, em Cachoeirinha. Nossa solidariedade a familiares e amigos da vítima”, escreveu Leite, acrescentando que, nas 25 cidades que já comunicaram ter sofrido danos, as principais ocorrências estão associadas à queda de árvores e de postes, além da interrupção de vias públicas. “Foram mais de 500 chamadas ao Corpo de Bombeiros, que está mobilizado para atender a todos”.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) atribuiu a instabilidade a uma ampla e persistente área de baixa pressão atmosférica em superfície que favorece o aumento do fluxo de ar úmido e quente vindo de norte. Essa configuração, combinada ao padrão de ventos em altos níveis, potencializou as áreas de instabilidade entre a Argentina e o Uruguai que, posteriormente, avançaram sobre parte da Região Sul do Brasil.

A instabilidade deve perder força a partir da quinta-feira, 18, quando o sistema de baixa pressão atmosférica se desloca para o mar, mas ainda deixa o tempo instável entre Santa Catarina e no Paraná, especialmente nas áreas do leste e norte desses estados.

Ventos, chuva, raios e granizo

De acordo com a MetSul Meteorologia, foi uma das tempestades mais fortes que atingiu a Porto Alegre na história recente com chuva excessiva em curto período, granizo e um intenso vendaval.

O Aeroporto Salgado Filho registrou vento de 89 quilômetros por hora, mesma velocidade observada no Jardim Botânico. Estações particulares de clubes náuticos no Sul da capital anotaram quase 120 quilômetros por hora. Na Base Aérea, o vento atingiu 107 quilômetros por hora.

Velocidades de vento medidas no aeroporto ou na base em Canoas são por anemômetros em campo aberto. Dentro da cidade, por relevo e/ou construções, o vento acelera e sopra mais forte, sobretudo em andares altos de prédios, informou a MetSul. Isso explica porque ocorreram rajadas tão fortes de 110 130 quilômetros por hora na áreas urbanas.

A chuva, que veio acompanhada de muitos raios e granizo em diversos bairros, foi extrema como o vento em Porto Alegre.

Somente em uma hora, durante o vendaval, a chuva que foi torrencial acumulou 60 mm a 70 mm em diferentes pontos da cidade.

Ou seja, em apenas 60 minutos choveu a metade da média histórica de precipitação de janeiro inteiro na cidade que é de 120,7 mm.

A severidade do temporal em Porto Alegre foi uma das maiores da história recente da capital, com semelhanças com os episódios de tempo severo de outubro de 2015 e janeiro de 2016, anos de forte El Niño como agora.

O mais recordado dos temporais violentos em Porto Alegre é o de janeiro de 2016. As rajadas foram maiores em velocidade, mas a área da cidade atingida por vento destrutivo foi menor, com o pior concentrado nos bairros Menino Deus e Praia de Belas.

No temporal desta noite, o vento atingiu com grande força áreas que escaparam do pior em 2016, como áreas mais ao Sul e o Norte da cidade.

O que causou vendaval tão violento em Porto Alegre?

Por três dias, a MetSul Meteorologia alertava para um cenário meteorológico complexo e pouco comum no verão que poderia trazer condições perigosas de tempo severo.

Um área de baixa pressão em níveis médios e altos da atmosfera (“baixa fria”) avançou durante a terça-feira do Chile para o Oeste e o Centro da Argentina, rumando depois para o Uruguai.

Ao mesmo tempo, uma intensa corrente de vento avançava pelo Norte da Argentina até o Uruguai e o Rio Grande do Sul com ar muito quente que forneceu energia para instabilizar a atmosfera acentuadamente ao encontrar a “baixa fria”, gerando chuva intensa a excessiva com temporais fortes a severos de vento e granizo.

Uma linha de instabilidade chamada “sistema convectivo quase-linear (QLCS)”, avançou do Oeste e do Sul do estado com chuva intensa, granizo e vendaval.

“A linha, ao alcançar Porto Alegre, desenvolveu uma célula de tempestade ainda mais forte, gerando o temporal violento na capital, mas que não atingiu toda a área metropolitana com a mesma severidade”, explica a estação em nota.

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