CULTURA

Literatura no picadeiro

César Fraga / Publicado em 8 de setembro de 1997

No início de setembro a cidade de Passo Fundo foi palco, ou melhor, picadeiro do maior show literário do país, segundo alguns, do planeta. Foi a realização da 7? Jornada Nacional de Literatura, que reuniu escritores e jornalistas dos mais variados lugares do país e do mundo para discutir e, principalmente, promover o hábito da leitura. Durante o evento, diariamente, foi mantida uma média de público de aproximadamente 3 mil pessoas na platéia. A sede dos acontecimentos foi o circo de lona dos Irmãos Power, que durante a Jornada foi chamado de Circo da cultura. Foram 3.125 inscritos para participar de 02 a 05 de setembro das diversas atividades, desde mostras de cartuns e artes plásticas até oficinas de teatro e fotografia. Os principais temas discutidos foram políticas culturais na era da globalização, literatura memória e censura, literatura e futebol, regionalismo na literatura, sátira na literatura, e amor e ironia em diferentes linguagens.

Entre os estrangeiros estava o escritor, poeta e ensaísta antilhano Edouard Glissan, 69 anos, vice-presidente do Parlamento Internacional de Escritores. Glissan propôs que Passo Fundo se transformasse na primeira cidade da América Latina a participar do parlamento. A inclusão do município significa, entre outras coisas, dar abrigo a escritores perseguidos em seus países por motivos políticos. Outra presença marcante foi a do chileno Antonio Skármeta, autor de Ardente paciência, original no qual se baseou o roteiro do filme O carteiro e o poeta, sobre a vida do poeta chileno Pablo Neruda. Ele defendeu a tese de que por meio da sátira é possível desmistificar as pessoas e deixá-las mais humanas. Mia Couto, autor moçambicano, não gosta da forma acadêmica como os assuntos da arte geralmente são tratados e se declarou bastante satisfeito com a informalidade do evento, devido ao caráter popular adotado.

Nos bastidores era possível ouvir comentários de Moacyr Scliar elogiando a Jornada e considerando-a sem precedentes e parâmetros de comparação em qualquer outro lugar do mundo. Segundo ele, nenhum evento em que tivesse participado, reuniu mais de 500 pessoas para discutir literatura. Mesma opinião tem Ziraldo que, ao lado de Inácio de Loyola Brandão, é considerado o embaixador da Jornada junto a imprensa do eixo Rio-São Paulo. Conforme Ziraldo, o processo de reconhecimento de determinados fatos culturais por parte da grande mídia é muito demorado. Mas avalia que, no caso da Jornada de Passo Fundo, o reconhecimento já está chegando.

Tânia Rösing, coordenadora geral do evento já está se preparando para a oitava jornada, em 1999. Segundo ela, o principal objetivo do evento é promover o gosto pela leitura. Objetivo que já está sendo sentido não apenas na cidade mas também nas imediações, onde várias papelarias, seguindo tendência inversa a de outros municípios, estão passando a vender mais livros em conseqüência da grande procura por parte do público.

 

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