GERAL

“O melhor momento da vida”

Publicado em 7 de outubro de 1997

O romancista Luiz Antônio de Assis Brasil é o Patrono da Feira do Livro deste ano. Flávio Ledur, vice-presidente da Câmara do Livro conta que “para a Feira deste ano, a escolha por parte da diretoria da Câmara Rio-Grandense do Livro foi unânime”. “Todos entenderam que era chegada a hora de Luiz Antônio de Assis Brasil”. E justifica ” Poucos como ele têm divulgado tanto a literatura produzida no estado, seja no restante do país, em outras partes do mundo, como na própria aldeia. Portanto, mesmo conscientes de que muitos outros seriam igualmente merecedores da homenagem, acreditamos tenha a escolha sido justa e adequada aos objetivos maiores da 43ª Feira do Livro de Porto Alegre“.

O ex-Presidente da Academia Brasileira de Letras, Josué Montello, também apreciou a escolha do homeageado. Ele afirma ter ficado satisfeito de ver o nome de Assis Brasil nesta liderança, “porque ele tem os valores essenciais que são representati-vos do Rio Grande do Sul e do Brasil”.

Com catorze livros publicados, o autor recebeu várias premiações, entre eles o Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras (1982), com A prole do corvo; o Prêmio Literário Nacional de Romance, (1988) do Instituto Nacional do Livro, com Cães da província; Prêmio Açorianos, (1994), da Secretaria Municipal da Cultura, por Pedra na Memória e Os senhores do século (1996). Videiras de Cristal (Mercado Aberto, 1990).

Extra Classe – O senhor tem dito que é prematura a escolha de seu nome para Patrono da Feira, por que?
Assis Brasil – Acho, mesmo, que foi prematuro, e isso porque é uma distinção normalmente concedida a pessoas com uma longa trajetória na cultura e nas letras. A minha tem apenas 21 anos, e isso é pouco, muito pouco. O Cyro Martins, por exemplo, quando foi patrono, já passava dos setenta anos. Quanto ao meu caso, estar recebendo a homenagem tão cedo pode significar na preguiça de continuar escrevendo.

EC – Alguém da família Barreto vai fazer o seu romance Videiras de Cristal virar filme, o senhor já sabe quem?
Assis Brasil – Ainda não está definido, mas talvez seja o Fábio.

EC – Já há perspectivas para filmagens? Tem alguma idéia sobre quando pretendem lançá-lo?
Assis Brasil – Não, o que sei é pela mídia. Parece-me que iniciaria as filmagens na primavera de 98.

EC – Com certeza, um romance seu virar filme é um reconhecimento e tanto do seu trabalho, mas como o senhor define isso, nesta altura da sua vida pessoal e literária?
Assis Brasil – Encaro com muita naturalidade, visto que sempre escrevi pensando muito na “visualidade” das minhas cenas romanescas. Se alguém se lembrou de filmar um livro meu é, por certo, por haver descoberto essa intenção.

EC – É verdade que o recém lançado Concerto Campestre também vai para o cinema?
Assis Brasil – De fato, já cedi os direito de filmagem para o Henrique de Freitas Lima, o diretor de Lua de Outubro. O Henrique leu os originais e ficou fascinado pela história, lendo-a em apenas uma noite. Considero-o um diretor competente e com certeza fará uma bela adaptação de um dos meus livros que considero com maior visualidade.

EC – Um depoimento em relação à Feira, talvez alguma vivência marcante em uma das outras quarenta e duas edições.
Assis Brasil – Foi quando lancei meu primeiro livro, Um quarto de légua em quadro, e vi que na fila de autógrafos estava Maurício Rosenblatt. De tão nervoso, escrevi o nome do ilustre homem com um T a menos, e ele me disse, na brincadeira: “Ei, não me corte o tê”. Retifiquei, às pressas, e o Maurício então olhou e suspirou, risonho: “Agora sim, sou eu”.

EC – Há alguma coisa que o senhor queira dizer? Então, por favor.
Assis Brasil – Quero apenas dizer que estou passando pelo melhor momento da minha vida. Tanto na vida como na literatura.

SÍMBOLO DE PADRÃO CULTURAL

Cadeira 29. É o lugar que o escritor Josué Montello ocupa, há 42 anos, na Academia Brasileira de Letras. “Sabes quantos livros eu já escrevi? Só romance 28, no conjunto são 131, entre ensaios, História, Teatro e Literatura Infantil” comemora en-vaidecido. O experiente autor diz que “o Rio Grande do Sul, pela sua representatividade nacional, e com os altos valores da sua cultura, tem uma posição marcante nas letras do país”. O acadêmico avalia que essa representação decorre “de todo um passado altamente significativo para nossa cultura. Uma literatura gauchesca, associada à literatura tradicional, configura-se com Simões Lopes Neto, Augusto Meyer, Roque Callage, em uma significação no país que representa uma comunhão nacional, sem prejuízo das autenticidades gaúchas”. Amigo do criador do Capitão Rodrigo, entende que “essa literatura, que tem romancista como Erico Verissimo, contistas como Simões Lopes Neto, e poetas da maior significação internacional, é por si mesma um testemunho da cultura altamente representativa do Brasil e que se reflete na sua Feira de Livros”. Montello confessa guardar saudade de alguns dos que considera valores fundamentais da cultura gaúcha, “notadamente Erico Verissimo, Dionélio Machado, Alcides Maya, Moysés Velhinho, Álvaro Moreira, e que correspondem um patrimônio nacional que o Rio Grande do Sul proporcionou ao Brasil”.

Neste mês, a Academia Brasileira de Letras comemorou o seu primeiro século. Josué Montello é autor do texto do recém lançado livro sobre os Cem Anos da Academia Brasileira de Letras, com apresentação da presidente Nélida Piñon. Memórias Póstumas de Machado de Assis, de 780 páginas e já na terceira edição, foi seu último trabalho. E, logo poderá ser encontrado, em seis volumes, o Diário completo de Josué Montello.

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