CULTURA

A ideologia do neoliberalismo

Luiz Carlos Barbosa / Publicado em 25 de agosto de 1999

O historiador inglês Perry Anderson é um daqueles intelectuais comprometidos com a superação da ignorância para desnudar a má fé dos discursos ideologizados. A obra mais recente do ex-editor da Revista Nova Esquerda, lançada no Brasil pela Jorge Zahar, mais uma vez confirma essa militância, abordando um tema contemporâneo essencial para decompor a fanfarronice triunfalista dos neoliberais. “As origens da pós-modernidade” é um verdadeiro inventário dos conceitos atribuídos a este que foi um dos termos prediletos da mídia brasileira dos anos 80. É uma leitura obrigatória para quem deseja entender por que hoje a direita no país tenta privatizar também a palavra modernidade, reduzindo-a a banalidades que, via de regra, enaltecem o livre mercado e condenam direitos sociais elementares. Guiado pela avaliação crítica da obra do pesquisador pioneiro no estudo da pós-modernidade, Fredric Jameson, Anderson analisa as nuanças conceituais e examina a parafernália ideológica que notabilizou propagandistas do fim da história, como o americano Francis Fukuyama.

BRUMAS DE NOSTALGIA
José Pedro Mattos Conceição prende o leitor com suas “Brumas de Xangri-lá”, uma reunião de crônicas bem-humoradas. Ele resgata episódios e modos de vida dos anos 60 e 70, com um sentido crítico de quem faz uma avaliação envolvido por uma bruma de nostalgia. Mas sem remorsos da juventude que viveu. O advogado e professor de Direito na PUCRS, que estréia com esta edição da Tchê!, reaviva uma ponta de orgulho na geração que combateu a ditadura mas não deixou de namorar, dançar e beber muito “samba”, quando a grana estava curta para a cuba-libre.

MALUQUINHO E O MILÊNIO
O cativante “Menino Maluquinho” especula sobre a chegada do novo milênio com a consciência de que “Outro como eu só daqui a mil anos”. Esta é a mais nova obra do enternecedor Ziraldo lançada pela Melhoramentos e que dispensa comentários, embora dê para antecipar o óbvio: o protagonista que virou personagem de cinema e teatro anda meio contrariado com a contagem do tempo e lança conjeturas desconcertantes, mas todas elas encharcadas das duas qualidades que o narrador profetiza para as crianças do próximo milênio, curiosidade e ternura. Depois de ganhar um CD-Rom interativo, ao completar 30 anos, o clássico “Flicts”, também da Melhoramentos, chega à 38ª edição – com 180 mil exemplares vendidos – e simultaneamente a uma versão em esperanto, com tradução de Cristóvão Resende. Como diria Ziraldo, para que todos saibam, como confirmou o astronauta, igualmente há 30 anos, que a cor da lua é Flicts.

GUERRA ERRADA
Na edição passada encontrou-se um erro na resenha sobre “O homem que inventou a ditadura no Brasil”, de Décio Freitas. Por uma associação desatenta, foi mencionada a guerra civil espanhola. O certo é que a obra “Gringo viejo, de Carlos Fuentes, foi inspirada na guerra civil mexicana, de 1910.

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