CULTURA

Sabato: antes do fim

Falar do escritor argentino Ernesto Sabato, 91 anos, é sempre uma tarefa difícil. Pode-se ficar no óbvio e dizer que é o mais importante romancista vivo da América Latina.
Por César Fraga / Publicado em 13 de maio de 2002

 

Sabato antes do fim

Foto: Daniel Mordinski

O escritor argentino dedica suas obras mais recentes aos jovens

Foto: Daniel Mordinski

Falar do escritor argentino Ernesto Sabato, 91 anos, é sempre uma tarefa difícil. Pode-se ficar no óbvio e dizer que é o mais importante romancista vivo da América Latina. E é. Mas o principal não é o legado de sua obra, por mais fundamental que ela seja.

Os romances O Túnel e Sobre Heróis e Tumbas (ambos relançados recentemente pela Cia. das Letras) certamente fazem parte das grandes obras literárias da humanidade.

Em O Túnel, sua estreia em 1948, mostra a trajetória de um pintor que enlouquecia por não conseguir comunicar-se com ninguém.

Na verdade, os personagens de carne e osso que, por meio de suas paixões mais triviais, metaforizavam as angústias metafísicas do autor, ou da humanidade sob a ótica do autor.

Sobre Heróis e Tumbas, lançado originalmente em 1961 e traduzido em vinte idiomas, Sabato cruza três linhas narrativas: a paixão febril de Martín por Alejandra, o surgimento traumático de uma nação e a história da Seita Sagrada dos Cegos, casta maléfica de poderes esotéricos e milhões de súditos no mundo.

Porém, mais recentes, fora do universo da ficção estão dois livros que Sabato afirma ter escrito para a juventude.

La Resistencia (lançado na internet em 2000) e Antes do Fim, suas memórias, lançado no mesmo período, inclusive no Brasil, também pela Cia. das Letras.

“As ficções permitem ao escritor grandes aventuras. As memórias em geral são um pouco falsas. Ninguém trata mal a si mesmo”, afirma Sabato de sua relutância a escrever as referidas memórias.

Já na abertura do livro ele confessa: “escrevo isto, sobretudo, para os adolescentes e jovens, mas também para aqueles que como eu, se aproximam da morte e se perguntam para que e por que vivemos e lutamos, sonhamos, escrevemos, pintamos, ou simplesmente empalhamos cadeiras. Assim, entre recusas a escrever estas páginas finais, estou fazendo isso quando meu eu mais profundo, o mais misterioso e irracional, me inclina a fazê-lo. Mas também de pássaros que levantam meu ânimo quando ouço seus cantos, ao amanhecer; ou quando minha velha gata vem deitar-se em meu colo; ou quando vejo a cor das flores, às vezes tão minúsculas que é preciso observá-las de muito perto”.

Trata-se, antes de mais nada, de um livro de confissões que nos fazem entender melhor o emaranhado mundo que nos cerca.

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