CULTURA

Por que contar histórias para crianças

Por Valéria Neves Kroeff Mayer (Léla) * / Publicado em 16 de junho de 2014

Por que contar histórias para crianças

Fotos: : Nanny Oliveira / Valéria Ochôa -Ecarta

Fotos: : Nanny Oliveira / Valéria Ochôa -Ecarta

Somos um país de poucos leitores e carente de leitura. Falo de leitura mesmo, aquela que lendo nos divertimos, aprendemos, crescemos. Aquela leitura que nos faz compartilhar afetos, estar junto com o outro para trocar ideias e histórias. Estimular a leitura não é uma tarefa fácil. Obrigar o filho a ler o livro da escola não é estimular a leitura. Obrigar as crianças a buscar um livro na biblioteca, sem orientá-las nas leituras apropriadas para sua potencialidade leitora, não é estimular a leitura. Estimular a leitura é brincar com as palavras, é ler junto, é inventar histórias, é fazer desse um momento divertido, mesmo que desafiador.

Gosto de ouvir (com os olhos) o Caio Riter (2009, p.30), quando diz (escreve) que “passo importante para a formação de um leitor é ouvir histórias. Se possível, desde muito, muito cedo. Histórias contadas vão entrando na gente feito carinho, feito seiva em árvore que precisa crescer, desenvolver-se, a fim de dar flores, frutos, sombra. Leitores são árvores frutíferas. Familiares [e educadores] contadores de histórias são seiva que alimentam, que despertam o broto naquelas sementes carentes de tudo, que somos nós quando crianças”.
É interessante observar como num mundo tão cheio de tecnologias, onde muitas relações se constroem e se sustentam no espaço virtual, onde o tempo parece correr num ritmo cada vez mais intenso e novas urgências surgem (ou são inventadas) sucessivamente, a narração oral vem sendo cada vez mais valorizada.

Há muitas razões para justificar a valorização das narrativas orais nos dias de hoje, particularmente gosto de pensar que uma das causas reside no fato de que a arte de contar histórias é também a arte do encontro. Celso Sisto (2010, p.83) diz que “contar histórias aproxima, cria afeto, instaura o diálogo”. Num mundo tão virtual e repleto de tecnologias, parece que o momento da narrativa oral é um momento de encontro não só com a narrativa, mas também com o outro (narrador e ouvinte) em tempo real, num espaço real.

Segundo Regina Machado (2004, p.33), “a atividade de contar histórias constitui-se numa experiência de relacionamento humano que tem uma qualidade única, insubstituível”. O ato de contar histórias, assim como brincar com palavras, em casa ou na escola, oportuniza o encontro em tempo real, entre a criança e a palavra, a criança e o imaginário, a criança e o adulto, a criança e seus pares. Creio que esta já é razão suficiente para sustentar a importância de contar histórias para crianças. Mas ouvir histórias vai além, desperta novas curiosidades, novos questionamentos, a disposição para a crítica, amplia o vocabulário e o desejo pela leitura.

Por esta razão é que o projeto Conversa de Professor, da Fundação Ecarta, tem se empenhado em levar essa discussão para muitos professores, pois como afirma Caio Riter (2009, p.16), “brincar com as palavras não é luta vã. Ao contrário, é condição essencial para fazer brotar em corações ainda ternos, ainda fechados aos preconceitos, o amor pela leitura, o desejo de descoberta”.

*Professora da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e Contadora de Histórias. Integra programa Conversa de Professor, da Fundação Ecarta.

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