CULTURA

Um firme e vibrante NÃO: navilouca em turnê pelo Brasil

Leo Felipe* / Publicado em 14 de julho de 2015
Mostra inaugurada em Porto Alegre se tornou projeto itinerante, possibilitando que obras dissidentes, anárquicas e políticas circulem por outras localidades

Fotos: Leo Felipe

Mostra inaugurada em Porto Alegre se tornou projeto itinerante, possibilitando que obras dissidentes, anárquicas e políticas circulem por outras localidades

Fotos: Leo Felipe

Foram nove meses de trabalho. E se a criação colaborativa é uma característica importante de muitas obras que seriam apresentados na exposição, ela também se repetiu na concepção e produção da mostra. Colaboraram comigo o pesquisador JorgeBucksdricker (na curadoria) e os artistas Alexandre Navarro Moreira e Flávia Felipe, que, além de apresentarem obras, também emprestaram ao projeto seus talentos como montador e produtora. O resultado pôde ser visto entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015, na Galeria Ecarta, com proposições de mais de 40 artistas de distintas procedências e gerações, cujo ponto em comum é a contestação aos padrões dominantes e o ativismo político e comportamental.

De exposição pensada especialmente para o espaço da Ecarta, Um firme e vibrante NÃO se tornou projeto itinerante, possibilitando que as ideias dissidentes, anárquicas e políticas da contracultura exploradas na exposição coletiva se irradiassem para além de Porto Alegre.

Caxias do Sul foi a primeira cidade a nos receber. Graças ao esforço de nossa parceira Carine Turelly, coordenadora da Unidade de Artes Visuais da Secretaria de Cultura de Caxias do Sul, a Galeria de Arte do Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho acolheu Um firme e vibrante NÃO entre março e abril. Lá tivemos a oportunidade de adaptar a exposição para o “cubo branco”, o espaço neutro e iluminado típico dos museus, onde obras de arte são usualmente expostas. O resultado foi surpreendente e nossa mostra ganhou um jeitão “gringo” (com o perdão do trocadilho). Para ocupar o espaço amplo da Galeria de Arte do Centro Ordovás, novas obras foram acrescentadas à seleção: a série fotográfica de 1978 Íntimo exterior, de Telmo Lanes, e o conjunto de cartazetes produzido pelo grupo KVHR entre 1978 e 1980.

A segunda itinerância de nossa navilouca nos levou mais ao Sul. A Casa Paralela é um espaço independente mantido em Pelotas pelos artistas Adriane Hernandez, Chico Machado e Thiago Reis. Nossa exposição foi readaptada para um ambiente mais doméstico e ganhou o acréscimo de um desenho de Mário Röhnelt do início da década de 1980.

A experiência em Pelotas, cidade universitária com grande vocação para a cultura, foi surpreendente. A abertura contou com um ótimo público interessado em conhecer as publicações, cartas e postais, pintura, desenho, escultura, gravuras, cópias xérox e demais obras da exposição. Houve ainda uma instigante conversa entre curador e o Patafísica Mediares do Imaginário, um grupo de estudantes de arte que propõe mediações que estimulem a imaginação dos visitantes. Outro destaque na aventura pelotense foi a presença dos punks do Ocupa 171.

O grupo desfraldou uma bandeira anarquista dentro da galeria, coroando nossa experiência de arte, ativismo e diálogo. A mostra fica em cartaz na Casa Paralela até 17 de julho.

O próximo destino de Um firme e vibrante NÃO é bem mais ao Norte, na cidade de origem (ou escolha) de parte significativa de artistas presentes na exposição. A relevância de nosso projeto foi reconhecida por edital da Prefeitura Municipal de Recife, Pernambuco, visando à ocupação de um dos espaços de arte mais ativos da capital pernambucana, o Museu Murillo la Grega. Ainda não há previsão de abertura, mas a equipe está animada com a possibilidade de viajar tão longe, reforçando laços (afetivos, profissionais, institucionais) e conectando duas regiões que criam cultura fora do principal eixo da produção artística brasileira. Para onde mais os (bons) ventos nos levarão?

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