CULTURA

Artistas gaúchos estreiam websérie sobre violência doméstica e de gênero

Produção em nove episódios encena casos reais de agressões relatados por mulheres de todo o mundo. No Brasil, feminicídios aumentaram com o isolamento social imposto pela pandemia
Por Gilson Camargo / Publicado em 12 de agosto de 2020
Os relatos de vítimas reais de violência doméstica e de gênero são interpretados pelo elenco em nove episódios

Arte: Divulgação

Os relatos de vítimas reais de violência doméstica e de gênero são interpretados pelo elenco em nove episódios

Arte: Divulgação

A produção inédita será exibida às segundas-feiras, às 19h, a partir de 24 de agosto, nos canais do projeto no Youtube, no Facebook e no Instagram, com episódios de 15 minutos. A websérie Confessionário – Relatos de Casa é uma iniciativa de um grupo de artistas gaúchos e de uma advogada especializada em cuidar de casos de violência contra mulheres, que resolveu contornar as limitações impostas pelo isolamento social e abordar a violência doméstica e de gênero em todo o mundo.

No Brasil, a violência de gênero piorou com a pandemia. Entre março e abril, os casos de feminicídio aumentaram em 22% em 12 estados brasileiros em relação ao mesmo período de 2019, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

A série é uma obra de ficção com base em depoimentos reais com o objetivo de encorajar a denúncia em casos de violações. A concepção é da atriz e diretora de teatro Deborah Finocchiaro e do diretor de cinema Luiz Alberto Cassol.

A primeira temporada terá nove episódios com atrizes interpretando as histórias criadas a partir de relatos reais. Além da violência física, a série também relata casos de violência psicológica e moral.

Arte, questionamentos, transformações

A motivação para a criação do projeto aconteceu pela dura realidade de mulheres que vivem em situação de opressão e violência doméstica, e pelo aumento do número de casos durante esta pandemia, explicam os autores. “Cremos que a arte leva a caminhos de questionamentos e transformações. Queremos contribuir para a integridade e a humanização dentro dos lares, das cabeças, das vidas”, explica Deborah.

“O número de casos de violência física, moral e psicológica que mulheres sofrem diariamente aumentou drasticamente na pandemia. Também criamos o Confessionário para falar sobre a violência contra crianças e os diferentes tipos de violência que a sociedade naturaliza e faz crer que não seja debatido e enfrentado. A arte é transformadora e promove, na reflexão, a apropriação de conhecimento, a liberdade de pensamento”, complementa Cassol.

Débora Finochiaro (D): "Queremos contribuir para a integridade e a humanização dentro dos lares, das cabeças, das vidas”

Foto: Igor Sperotto/ Banco de Dados Fundação Ecarta

Débora Finochiaro (D): “Queremos contribuir para a integridade e a humanização dentro dos lares, das cabeças, das vidas”

Foto: Igor Sperotto/ Banco de Dados Fundação Ecarta

Não silenciar

Os episódios, que têm 15 minutos cada, apresentam uma personagem relatando a sua história em primeira pessoa para uma suposta campanha, intitulada “Confessionário”, que pretende encorajar outras mulheres para que exponham as suas próprias histórias.

Também haverá a participação da advogada Gabriela Ribeiro de Souza, que ao final de cada “depoimento”, trará informações sobre fatores de risco, tipos de violência, formas e contatos para denúncia, números, estatísticas, entre outras informações relevantes.

“Os relatos devem vir à tona porque não podemos compactuar, através do silêncio, com a banalização da violência, com o descaso. Para democratizar o acesso. A linguagem confessional pretende encorajar, estimular outras mulheres para que contem as suas histórias, para que elas saibam que não estão sozinhas”, acrescenta Gabriela.

Desafios da produção

As gravações foram realizadas com a participação remota de cada membro da equipe e do elenco, que atuaram a partir de casa, respeitando o isolamento social. “O maior desafio foi chegar no ‘humano’, na verdade, ultrapassar a tecnologia para tocar na alma”, revela Deborah.

Cassol revela que é tudo diferente de uma gravação normal, num set. “É remota, com cada profissional em sua casa. Depois de definida toda a questão de argumento, roteiro, narrativa, partimos para questões técnicas. Gravamos por uma tela de computador, o que seria tecnicamente chamado de plano geral, o maior enquadramento, e com mais duas câmeras em frente à tela do computador. O diretor de fotografia vai fazendo outros enquadramentos. Usamos computadores e celulares, tudo de acordo com cada episódio”, detalha.

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