CULTURA

Morre cantor e compositor Erasmo Carlos, aos 81 anos

Ao lado de Roberto Carlos e Wanderléa, Erasmo Carlos emplacou o movimento Jovem Guarda e forjou a parte mais rebelde da história do rock no país
Por Gilson Camargo / Publicado em 22 de novembro de 2022

Foto: Carlos Mafort/Divulgação

Erasmo morre aos 81 anos como um dos maiores nomes da música brasileira e parte – possivelmente a mais doce e rebelde – da história do rock no país

Foto: Carlos Mafort/Divulgação

O cantor e compositor Erasmo Carlos morreu, na tarde desta terça-feira, 22, aos 81 anos, no Hospital Barra D’or, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. A causa da morte não foi divulgada pela família do artista.

Na manhã de segunda-feira, Erasmo foi levado ao hospital em estado grave de saúde e chegou a ser intubado devido a complicações decorrentes da síndrome edemigênica contra a qual vinha lutando nos últimos meses.

Associada a patologias cardíacas, renais ou vascular, a doença se caracteriza pelo desequilíbrio bioquímico que dificulta a manutenção de líquidos nos vasos sanguíneos.

Em agosto do ano passado, Erasmo teve covid-19 e ficou hospitalizado por oito dias. No início do mês, o artista foi acometido por um quadro de edema e ficou internado por nove dias.

Gigante gentil

A morte de um dos mais representativos nomes do rock e da música pop das últimas décadas, provocou comoção e reações nos mais variados setores, além da cena musical.

“Erasmo Carlos, muito além da Jovem Guarda, foi cantor e compositor de extremo talento, autor de muitas das canções que mais emocionaram brasileiros nas últimas décadas. Tremendão, amigo de fé, irmão camarada, cantou amores, a força da mulher e a preocupação com o meio ambiente”, destacou em rede social o presidente eleito Luis Inácio Lula da Silva.

“Agora eu choro só, sem ter você aqui. Perdemos Erasmo, este belo rapaz. Nosso Tremendão! Quanta tristeza!”, reagiu em sua rede social a cantora Maria Bethânia.

“Morreu o queridíssimo amigo Erasmo Carlos, que lástima!”, postou Ney Matogrosso.

O cantor Zeca Pagodinho lamentou: “Vai com Deus, Erasmo, querido amigo! Você fará muita falta pra nós… Que as tantas boas lembranças que você deixa sejam um conforto para todos os que te amam”.

“Perdemos hoje um dos gigantes da música brasileira. Vá em paz, Erasmo Carlos. Que Deus conforte a família e os amigos”, reconheceu o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ).

“Ele era (é, e sempre será) um gigante, em todos os sentidos. Erasmo era um dos gênios da nossa música. O doce rebelde, um menino roqueiro. Com Roberto, formou a dupla mais consistente que nós pudemos ver até hoje”, exaltou a cantora e compositora Fafá de Belém.

“A perda de Erasmo Carlos é sentida por todos os brasileiros. Cantor, compositor e instrumentista, o Tremendão dedicou 50 anos à música e à cultura do nosso país, embalando as vidas de gerações de brasileiros. Meus sentimentos à família e aos amigos”, destacou o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB-SP).

“Obrigado, meu amigo Erasmo, por ter me cedido a Honra de ter sido parte da sua vida e da sua Obra. Até um dia. Fica em Paz!!”, despediu-se o guitarrista e produtor Rick Ferreira, que tocou com Erasmo durante 30 anos, até 2009.

“Um espírito colossal com um coração bondoso. Não era à toa que seu apelido era Gigante Gentil. Super pai, super avô, super-homem. Eu adoro a narrativa descritiva de suas composições e as cenas cinematográficas que ele sabia criar como ninguém para ilustrar as situações vividas nas canções”, postou a cantora Marisa Monte.

Grammy

No dia 17 de novembro, Erasmo recebeu o Grammy Latino na categoria Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa pelo álbum O Futuro Pertence à… Jovem Guarda, de 2022, seu último lançamento.

Em uma rede social, o cantor e compositor destacou o prêmio: “É tão importante entender o conceito, quanto ouvir música. Existem várias formas de amor e eu preciso de todas. Obrigado a todos que contribuíram para mais essa vitória. Esse Grammy é o reconhecimento do nosso trabalho. O Futuro Pertence à Jovem Guarda”.

Rock, MPB e cinema

Nascido Erasmo Esteves, em 5 de junho de 1941, na juventude participou de movimentos musicais ao lado de Tim Maia e Jorge Ben Jor com quem vivia a cena carioca do rock e foi influenciado na carreira musical. Nos anos 1960, com Roberto Carlos e Wanderléa, compôs os mais cultuados hits da Jovem Guarda, como As curvas da estrada de Santos e Gatinha manhosa. A fama a partir das parcerias com Roberto Carlos o manteve por seis décadas no topo da música popular e da cultura brasileira.

No cinema, estreou em Minha Sogra É da Polícia (1958), dirigido por Aloisio T. de Carvalho. Destacou-se como ator em Os Machões (1972), longa no qual atua ao lado de Reginaldo Faria e Flávio Migliaccio, pepel que lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Atuou ainda em O Cavalinho Azul (1984) e Paraíso Perdido (2018).

Experiência sensorial

Foto: João Castrioto

Foto: João Castrioto

No início dos anos 1970, lançou o LP Carlos, Erasmo…, sétimo álbum de discografia iniciada em julho de 1960 com a edição de single de 78 rotações por minuto gravado pelo artista como integrante do conjunto The Snakes. Primeiro álbum de Erasmo na Philips, esse disco apontou um caminho para o artista e consolidou virada esboçada a partir de 1969, destaca o crítico Mauro Ferreira.

“Ainda aturdido e perdido com o fim da Jovem Guarda, em junho de 1968, Erasmo refletiu sobre a vida na confessional balada Sentado à beira do caminho, parceria com Roberto Carlos apresentada na voz do Tremendão em single editado em maio de 1969”, destaca.

Para ele, Sentado à beira do caminho foi o marco inicial da discografia adulta do artista. Ficaram para trás a forjada fama de mau, as canções de amor pueril e os rocks adolescentes da Jovem Guarda, movimento pop encabeçado por Erasmo com Roberto Carlos e Wanderléa a partir de agosto de 1965.

“Entraram em cena as experiências sensoriais com as drogas, as responsabilidades da vida adulta – simbolizadas pelo casamento com a namorada Sandra Sayonara Esteves (1946-1995), a Narinha – e a sintonia com a ideologia hippie, já perceptível na foto de João Castrioto exposta na capa do LP Carlos, Erasmo… e na atmosfera e poética de algumas músicas do álbum, sobretudo as da canção Gente aberta, uma das seis parcerias de Erasmo com Roberto Carlos incluídas entre as 13 faixas do disco”, repara o jornalista carioca.

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