ECONOMIA

Após quatro anos de turbulências, Brasil retoma normalidade econômica

Aumento de 22,7 bilhões de dólares nas reservas cambiais e moeda e bolsas em alta com Lula mostram que antagonismo ideológico de Bolsonaro impôs prejuízos à economia
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 21 de julho de 2023

Foto: Unafisco/ Divulgação

Para Roncáglia, turbulências criadas por Bolsonaro impediram que o país crescesse, mesmo quando os fundamentos eram razoáveis

Foto: Unafisco/ Divulgação

O bom desempenho da economia brasileira verificado nos últimos dias sinaliza a normalização da política econômica que está sendo agora praticada de uma maneira mais compatível a realidade de um país em desenvolvimento.

Para o doutor em economia do desenvolvimento pela Universidade de São Paulo e professor da Unifesp, André Roncaglia, o Brasil passou por um processo de inflamação econômica durante o governo Bolsonaro.

A metáfora utilizada pelo economista explica um grau de desajuste da economia que tem efeitos persistentes.

“Foram várias frentes em que o governo Bolsonaro gerou antagonismos ideológicos que acabaram atrapalhando a formação de expectativas, mesmo quando os fundamentos econômicos pareciam razoáveis”, avalia Roncaglia.

Isso, de certa forma, explica porque no mandato do ex-presidente as reservas cambiais do país tiveram perda de 65,8 bilhões de dólares, enquanto nos primeiros 200 dias de governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) houve um crescimento de 22,7 bilhões de dólares.

No paralelo, o dólar encostando na mínima do ano, R$ 4,76, o Ibovespa subindo e a Fazenda Nacional já recuperando R$ 21,9 bilhões da dívida ativa no primeiro semestre. São indicadores que também corroboram a análise de Roncaglia.

Antagonismo e negacionismo

Para ele, houve muito antagonismo por conta do negacionismo na frente ambiental do governo Bolsonaro com parceiros comerciais, o que explica o grau de turbulências na economia. Isso “acabou evidentemente gerando uma tensão e um risco de imagem do país que levou a uma certa desarticulação, principalmente na questão cambial, em que a gente teve a taxa de câmbio batendo quase R$ 6,00 por dólar”.

A imagem do país, segundo Roncaglia, começa a ser restaurada agora. “Com a vitória do presidente Lula, o que a gente vê é um Brasil voltando ao cenário externo com mais credibilidade e os investimentos estrangeiros retornando ao país. Daí a pressão pra baixo sobre o câmbio”, explica.

Esse olhar diferenciado do mundo para o Brasil após os quatro anos de turbulências sob Bolsonaro ajuda também a explicar por que a bolsa de valores está em alta.

“A diminuição dessas pressões cambiais tende a facilitar a atividade econômica e, com menos volatilidade, se apresenta um horizonte futuro mais visível, mais estável”, acrescenta.

Obviamente, percebe o economista, também é notado nitidamente um esforço do governo Lula de tentar produzir uma responsabilidade fiscal que olhe mais para a justiça tributária, regularizando a contribuição dos mais ricos da sociedade.

Ele fala da cobrança de impostos que não estavam sendo pagos em diversas frentes. “Desde os preços de transferência, passando pela questão dos da base fiscal, associada ao ICMS e ao IPI por meio de várias questões tributárias indevidas” estão ajudando bastante na restauração da base de tributação do estado.

“Finalmente, um esforço de restaurar a base tributária para tentar atingir uma responsabilidade fiscal que não exclua o pobre do gasto social, que não exclua o pobre do orçamento, mas – pensando amplamente – incorpora os ricos na base tributária do estado”, conclui Roncaglia.

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