ECONOMIA

Brasil tem mais gado bovino do que habitantes humanos, diz IBGE

Mesmo com rebanho bovino 15,4% superior à população humana em 2022, no mesmo período cresceu a fome no país. Mercado focou nas exportações
Por César Fraga / Publicado em 22 de setembro de 2023
Brasil tem mais gado bovino do que habitantes humanos, diz IBGE

Foto: EBC/Agência Brasil

Com a demanda interna enfraquecida e poder de compra da população reduzido, a exportação de produtos pecuários derivados dos rebanho bovino, sobretudo as carnes, foi a alternativa adotada para o escoamento da produção. As exportações atingiram um recorde e a China consolidou-se como importante mercado para as carnes

Foto: EBC/Agência Brasil

O Brasil tem mais gado bovino do que pessoas. São 234,4 milhões de cabeças de gado bovino para 203,1 milhões de cabeças humanas. É o que revela o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na pesquisa Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) divulgada na última quinta-feira, 21 de setembro. O número de habitantes foi extraído do Censo Demográfico 2022 do mesmo instituto.

No mesmo período de 2022, outro relatório. Este intitulado O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI)”, divulgado em julho passado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), apresenta uma piora dos indicadores de fome e insegurança alimentar no Brasil, o que contrasta com a pujança da nossa produção de bois.

Segundo o relatório, 70,3 milhões de pessoas estavam no ano passado em estado de insegurança alimentar moderada, que é quando possuem dificuldade para se alimentar (o que inclui falta de proteínas). O levantamento também aponta que 21,1 milhões de pessoas no país estavam em condição de insegurança alimentar grave, caracterizado por estado de fome.

Segundo o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate a Fome, Wellington Dias, essa piora é reflexo do desmonte das políticas públicas sociais que vivemos nos últimos anos.

Já para Rafael Zavala, representante da FAO no Brasil, o relatório mostra uma tendência de que será difícil atingir a meta de acabar com a fome no mundo até 2030. “Além dos problemas de saúde causados pela pandemia globalmente, o mundo enfrenta dois grandes desafios: a fome e a má nutrição. Um em cada dez pessoas no mundo passa fome. Vemos que o mundo produz alimentos suficiente, mas há um grande problema de distribuição. Contudo, o caso do Brasil é diferente, graças as políticas publicas fortalecidas recentemente e à gigante produção alimentar, estamos certos de que o país irá sair novamente do mapa da fome, sem dúvidas”, ponderou.

Brasil tem mais gado bovino do que habitantes humanos, diz IBGE

Foto: Assessoria de Comunicação - MDS

Em 2022 70,3 milhões de pessoas estavam em estado de insegurança alimentar moderada e mais de 21 milhões passando fome

Foto: Assessoria de Comunicação - MDS

Recorde bovino e crescimento de outros animais

Com 15,4% superior à população humana, em 2022, o rebanho bovino cresceu pelo quarto ano consecutivo e alcançou novo recorde da série histórica. Os dados são da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), do IBGE. O crescimento de 4,3% fez o número de cabeças chegar ao no patamar atual.

“A produção de bovinos vem aumentando, desde 2019, devido aos bons preços da arroba e do bezerro vivo. Houve um processo de retenção de fêmeas para reprodução, devido aos preços mais atrativos. Ainda temos em 2022, uma consequência desse comportamento iniciado no final de 2019. Mas a expectativa é de que a alta dos preços tenha se encerrado em 2022, quando observamos, também, aumento no abate de fêmeas”, explica Mariana Oliveira, analista da PPM.

Toda as criações de animais pesquisadas apresentaram crescimento, menos a de de codornas (-8,2%). Os bovinos e suínos aumentaram 4,3% cada um; o de bubalinos 3,0%; equinos, 0,9%; caprinos, 3,9%; ovinos, 4,7%; galináceos, 3,8%; e galinhas, 2,4%. Houve ainda recorde nas produções de mel, que cresceu 9,5%, e de ovos de galinha com alta de 1,3%.

“Com a demanda interna enfraquecida e poder de compra da população reduzido, a exportação de produtos pecuários derivados do rebanho bovino, sobretudo as carnes, foi a alternativa adotada para o escoamento da produção. As exportações atingiram um recorde e a China consolidou-se como importante mercado para as carnes, seja ela de frangos, suínos ou bovinos”, analisa Mariana Oliveira.

Rebanho bovino cresceu em todas as Grandes Regiões em 2022

O rebanho bovino cresceu em todas as Grandes Regiões em 2022. Mato Grosso lidera com 34,2 milhões de cabeças, ou 14,6% do efetivo nacional. Em seguida veio o Pará (10,6%) ultrapassando Goiás (10,4%). No ranking municipal, São Félix do Xingu (PA) manteve a liderança, alcançando 2,5 milhões de cabeças.

Valor da produção pecuária cresce 17,5% e chega a R$116,3 bilhões

O valor de produção de todos os produtos pecuários levantados na pesquisa, incluindo os da aquicultura, chegou a R$116,3 bilhões, significando um aumento de 17,5%. A produção de leite concentrou 68,8% deste valor, seguida pela produção de ovos de galinha (22,4%). No ranking municipal, considerando os seis principais produtos (leite, ovos de galinha, ovos de codorna, mel, lã e casulos de bicho-da-seda), Santa Maria de Jetibá (ES) apresentou o maior valor da produção, com R$ 1,6 bilhão, dos quais 95,0% são provenientes da venda de ovos de galinha, produto no qual lidera o ranking. Castro (PR) assumiu a segunda posição com R$ 1,2 bilhão, 98,7% proveniente da produção de leite. Bastos (SP) fecha o TOP3, sendo o segundo maior produtor nacional de ovos de galinha.

Produção de leite cai 1,6% e preço médio atinge maior valor da série

A produção de leite foi estimada em 34,6 bilhões de litros em 2022, redução de 1,6%. A produção tem sido decrescente desde 2020, quando alcançou o recorde da série (35,3 bilhões de litros). A alta dos custos e a redução das margens têm desestimulado a produção. O número de vacas ordenhadas caiu 1% e representou 6,7% do efetivo total de bovinos em 2022, o que pode indicar desinvestimento na produção de leite – observamos que produtores estão migrando ou arrendando terras para a produção de grãos, como a soja, estimulados pelas altas nos preços dos grãos nos últimos anos.

Os preços do leite subiram 19,7% e corroboram com essa informação ao manterem-se em alta acumulada desde 2017 e fechando 2022 a R$2,31 por litro, o maior valor da série. “Com isso, mesmo com a queda no volume, o valor de produção do leite aumentou 17,7% para R$ 80,0 bilhões”, ressalta a analista da pesquisa.

Entre as Regiões, o Sul manteve a liderança reconquistada em 2021, com uma participação de 33,8%, seguido de perto pelo Sudeste com 33,6%. Na contramão das demais regiões, que apresentaram quedas, o Nordeste, terceiro maior produtor nacional (16,5%) desde 2017, vem aumentando sua produção. Esse crescimento é fruto, principalmente, das condições climáticas favoráveis na Região nos últimos anos e de investimentos em genética e tecnologia. Minas Gerais manteve a maior produção, com 27,1% do total ou 9,4 bilhões de litros. Entre os municípios a liderança permanece de Castro (PR), com 426,6 milhões de litros. Carambeí (PR) ficou em segundo lugar, com 255,6 milhões de litros. Cabe destacar que seis dos dez principais municípios em produção de leite foram mineiros e três do Paraná.

Criações de suínos e de galináceos batem recorde

O rebanho de suínos cresceu 4,3% em 2022, chegando ao recorde de 44,4 milhões de animais. A Região Sul reúne 51,9% do efetivo nacional. Com a Peste Suína Africana na China, o crescimento do rebanho de matrizes e de suínos foi estimulado, e passamos a ter a China como principal destino das nossas exportações de carne. Além disso, as associações ligadas ao setor vêm trabalhando para reduzir os gargalos no consumo interno de carne suína, trazendo novos cortes e facilidades no preparo, e o consumo per capita nacional vem crescendo.

O efetivo de galináceos subiu 3,8% também atingindo o recorde de 1,6 bilhão de animais, com destaque para o Paraná com 470,3 milhões (29,7%). A Região Sul lidera com 49,3%. O Brasil é o maior exportador mundial de frangos, e a Região Sul, liderada pelo Paraná, concentra a maior parte do abate de frangos do Brasil. Em 2022, o Brasil teve incrementos no abate e nas exportações, esta última influenciada pelos casos de gripe aviária nos principais países produtores de frangos, visto que o Brasil é livre da doença.

Cascavel (PR), em 2021 e em 2022, manteve a maior quantidade de galináceos do País (21,1 milhões de cabeças), seguido agora por Itaberaí (GO), com 16,2 milhões de galináceos, e por Santa Maria de Jetibá (ES), com 15,7 milhões de galináceos, dos quais 13,0 milhões são galinhas, o maior efetivo do país.

Criação de galinhas cresceu 2,4% e chegou a 259,5 milhões de aves

O efetivo nacional de galinhas em 2022 chegou a 259,5 milhões e o Sudeste foi responsável por 35,1% desse total, ou 91,2 milhões de animais. Entre as unidades da federação, São Paulo lidera, com 21,2% do total nacional de galinhas. Santa Maria de Jetibá (ES), com 13,0 milhões de galinhas, tem o maior efetivo do país, seguido por Bastos (SP), com 11,0 milhões e Primavera do Leste (MT) com 4,3 milhões de galinhas.

A produção de ovos de galinha subiu 1,3% para o recorde de 4,9 bilhões de dúzias. O Sudeste destaca-se com 39,9%, seguido do Sul com 23,1% e o Nordeste, com 19,6%. O ovo, por muitos anos tratado como vilão, hoje é reconhecido como um produto saudável. O preço mais acessível também influencia em uma demanda crescente por essa proteína, levando a recordes sucessivos na produção coletada na pesquisa. Parte destes ovos também são destinados à incubação e viram frangos de corte, atividade que também esteve em expansão em 2022.

Piscicultura e criação de camarões atingem recorde de produção e de valor

A produção nacional de peixes atingiu novo recorde de 617,3 mil toneladas. A atividade segue em franca ascensão no País, com destaque para a produção de tilápia, que representou 66,1% do total de peixes produzidos. O valor de produção total também apresentou aumento (16,4%), chegando a R$ 5,7 bilhões. O Paraná, maior produtor de peixes, produziu 27,1% da produção nacional e 75,7% da Região Sul. Rondônia apareceu na segunda posição, tendo se destacado na criação de peixes redondos.

A criação de camarão foi de 113,3 mil toneladas, com alta de 5,9% frente ao ano anterior. O setor tem mantido ritmo crescente desde 2017, com a recuperação dos efeitos da mancha branca. A produção está concentrada no Nordeste do País (99,6%), destacando-se o Ceará, o Rio Grande do Norte e a Paraíba, com 54,1%, 22,2% e 6,4% da produção, respectivamente. Aracati (CE) liderou o ranking de municípios, com a produção de 12,7 mil toneladas ou 11,2% da produção nacional.

 

*Com informações do IBGE, FAO e MDS

 

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