EDUCAÇÃO

Esperança no professor

Publicado em 5 de maio de 1998

No texto que escreveu no início do livro Thiago Gonzaga – Histórias de uma vida urgente, o professor de matemática, Regis Gonzaga, denuncia o caráter perverso da situação do trânsito no país e faz um apelo à atuação dos profes-sores.

“O desaparecimento de um filho eqüivale a ficarmos aleijados, a perdermos para sempre uma parte do corpo, do coração, da alegria de viver. Porém, mesmo nos dias de maior sofrimento, nos quais cada objeto, recanto da casa ou ruído evoca a presença do Thiago, não aceito e não posso aceitar a idéia de destino, de fatalidade, através da qual a sociedade brasileira isenta-se covarde e mediocremente da carnificina, do apocalipse que virou o trânsito em nosso país. Essa mesma sociedade, que reage com indignação a assaltos e seqüestros, fica anestesiada perante o maior dos horrores.

Um horror provocado pela condescendência geral: autoridades que não fiscalizam, políticos para quem o assunto não rende votos, pais que entregam, criminosamente, seus carros a jovens sem habilitação(…) Até mesmo os educadores, que, pelo seu poder de persuasão, poderiam assumir uma posição frente à grande tragédia deste final do século, silenciam, como se os 50 mil mortos por ano e as centenas de milhares de feridos e aleijados não passassem de uma fantasmagórica estatística.

Mas é nos professores que deposito a maior esperança. Há quase trinta anos tenho trabalhado como professor de matemática em cursos supletivos noturnos, presídios, colégios, cursinhos, e vi e atesto o poder que os educadores possuem de levar seus alunos à reflexão. É preciso, com urgência, em caráter obrigatório, a disciplina de Educação para o Trânsito, do primeiro ao segundo grau. Não uma cadeira dada de forma convencional, mas algo que envolva o aluno em prestação de serviços comunitários, visitas a centros de reabilitação, apoio a campanhas de conscientização pública, etc. Só assim, um rapaz não se sentirá um imbecil ao volante por obedecer regras. Nem um careta por usar cinto de segurança. (…) Olhando para meus alunos, que têm diante de si o ciclo natural da existência, eu sei que devo dizer não à força da morte, que é preciso chamar pela vida. Urgentemente”.

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