EDUCAÇÃO

Tendências para os próximos cinco anos

Estudo realizado nas redes pública e privada aponta os 12 recursos tecnológicos que estarão presentes no cotidiano das escolas brasileiras
Por Grazieli Gotardo / Publicado em 3 de março de 2013

Foto: Igor Sperotto

Igor Sperotto

Igor Sperotto

Utilizar computador, celular, tablet, GPS e outras tantas novas tecnologias vindas com a era da informação e das redes sociais não é mistério para as crianças do século 21. Porém, os nativos digitais frequentam escolas que utilizam o formato de ensino tradicional do século 19, na lógica da era industrial, quando uma matriz (o professor) era usada para produzir (ensinar) em grande escala (todos sentados e quietos numa sala de aula).

Com o intuito de avaliar como está a inserção das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) nas instituições de ensino fundamental e médio no Brasil é que o Sistema Firjan aplicou pela primeira vez no país o estudo da organização internacional Horizon Report As Perspectivas Tecnológicas para o Ensino Fundamental e Médio Brasileiro de 2012 a 2017: Uma Análise Regional do NMC Report. O objetivo é prever as tecnologias emergentes nas salas de aula brasileiras para os próximos cinco anos, bem como os desafios para a sua implantação. O trabalho reuniu 30 especialistas em educação e deve ser repetido a cada dois anos.

Entre as 12 tecnologias apresentadas, os ambientes colaborativos ou híbridos estão em primeiro lugar. “Quando citamos colaborativo queremos colocar que não se trata apenas da relação professor-aluno e sim professor com aluno, alunos entre si, professores e professores, enfim, utilizando as redes colaborativas para gerar um fórum mais rico e interessante de debate. Quando falamos em aprendizado híbrido queremos sinalizar que a EaD é uma tendência misturada com o presencial”, explica Bruno Gomes, assessor de Tecnologias Educacionais do Sistema Firjan.

No Rio Grande do Sul, a Rede Marista, que reúne mais de 20 instituições de ensino básico, é pioneira na utilização de ambientes colaborativos virtuais. “O Ambiente Marista Virtual existe há seis anos e faz parte do projeto da instituição de ser um canal bidirecional entre as escolas e toda a comunidade escolar. Atualmente, utilizamos a plataforma Moodle 2.0.”, afirma Mauricio Anony, supervisor de Tecnologia da Rede Marista. O ambiente é utilizado desde a educação infantil, para o acompanhamento dos pais, e nos demais níveis de ensino, onde os professores ou alunos podem inserir conteúdo, criar blogs, fóruns, fazer temas de casa, provas e palestras virtuais, criar banco de questões e conselho de classe. Para 2013, a rede também inicia com projeto-piloto de laboratórios móveis e interativos em duas unidades, inserindo tablets no ensino fundamental.

O que vem sendo chamado de “gamificação do ensino” é a segunda maior tendência apontada pelo estudo do NMC Report e significa trazer para o ensino a teoria dos jogos eletrônicos, em que o desenvolvimento de habilidades não tem limites e a solução de problemas gera o pensamento crítico. Para o professor Militão Ricardo, que estuda e dá cursos para professores sobre as novas tecnologias no ensino, os games têm características importantes como a questão visual, muito rica e interativa, a não passividade do aluno e os níveis de dificuldade. ”Os jogos tratam o ensino de forma mais lúdica e envolvem desafios. O aluno tem níveis crescentes de profundidade e dificuldade. Isso acaba com a uniformização industrial do ensino e pode acontecer no ambiente presencial ou na internet”, destaca.

Em terceiro lugar, aparecem os celulares e tablets, que já são a grande aposta de instituições de ensino devido à mobilidade, riqueza de recursos e interesse dos alunos pela ferramenta. Diversas redes de ensino privado já estão incluindo o equipamento nas listas de material escolar ou fornecendo algumas aulas com tablets, especialmente no ensino médio.

No Colégio Anchieta, de Porto Alegre, que desde 2011 adota as lousas interativas, em 2013 passa a inserir tablets e livros didáticos on-line para os alunos do ensino fundamental (anos finais) e ensino médio. Conforme o coordenador de Unidade de Ensino, Carlos Alberto Sffair, a iniciativa faz parte da preocupação em introduzir a tecnologia no ensino e tornar as aulas mais atrativas, aproximando professores e alunos. “Estamos trabalhando com duas editoras que fornecem não apenas o livro didático impresso, mas também a versão on-line. O conteúdo pode ser acessado no site da editora, local em que alunos e professores também encontram material complementar”, destaca Sffair. A instituição forneceu ainda tablets aos professores e treinamento para a melhor utilização do equipamento.

TENDÊNCIAS ATÉ 2017

Em 1 ano ou menos:
• AMBIENTES COLABORATIVOS – são ambientes on-line e/ou off-line que facilitam o trabalho em grupo e a interação, permitindo que o aprendizado aconteça onde o aluno estiver.
• APRENDIZAGEM BASEADA EM JOGOS – utilizar a lógica dos jogos eletrônicos para o ensino de conteúdos. Os jogos trabalham com níveis de difi culdades diferentes em que o “jogador” sempre pode ir além e se aperfeiçoar, trabalha com a interação não passiva e a solução de problemas, que gera o pensamento crítico.
• CELULARES E TABLETS – mobilidade, riqueza de recursos e baixo custo permitem que celulares e tablets ampliem o leque de recursos pedagógicos, deixando as aulas mais atrativas.

2 a 3 anos:
• REDES – banda larga com acesso fácil e barato.
• GEOLOCALIZAÇÃO – ferramentas que utilizam o sistema de GPS.
• APLICATIVOS MÓVEIS – softwares educacionais gratuitos e colaborativos.
• CONTEÚDO ABERTO – conteúdo gratuito para desenvolvimento de
habilidades.

4 a 5 anos:
• INTELIGÊNCIA COLETIVA – conhecimento produzido em grupos ou redes.
• LABORATÓRIOS MÓVEIS – recursos antes apenas em laboratório agora na palma da mão.
• AMBIENTE PESSOAL DE APRENDIZAGEM – organização pessoal das ferramentas de aprendizagem.
• APLICAÇÕES SEMÂNTICAS – aplicativos que organizam informações e fazem associações.

Fonte: Horizon Report/Brasil 2012

Deficiência de infraestrutura

Uma das grandes dificuldades apontadas pelo estudo para a ampliação da utilização das tecnologias é a fragilidade da web no país e a baixa velocidade. “O Brasil está anos atrás das principais potências mundiais quando falamos de internet de alta velocidade democratizada para as escolas”, a rma Bruno.

O problema é con rmado pela professora doutora Léa da Cruz Fagundes, coordenadora do Laboratório de Estudos Cognitivos (LEC), da Ufrgs, que trabalha há 30 anos com a formação de professores na utilização de tecnologia em sala de aula nas escolas públicas do RS.

“A questão da infraestrutura é uma realidade, mesmo nas escolas que temos bons laboratórios de informática, quando uma turma inteira entra na rede as outras caem e ninguém mais pode usar a internet” conta. Ela também relata que a falta de um provedor público de qualidade de internet faz com que os governantes precisem contratar serviços privados, que são caros e de baixa qualidade. E cita o exemplo das cidades do sul do RS, na fronteira com o Uruguai, que começaram a perder alunos para as escolas daquele país, pois lá todas são informatizadas com internet de qualidade e pública.

Formação de professores é desafio

A formação dos professores é outra barreira importante na inclusão das TICs na educação. “Aula como transmissão do conhecimento do professor para o aluno é um paradigma do século 19 completamente superado”, a rma a professora Léa. Porém, as universidades também seguem formando professores na linha do “senta aqui e  ca quieto que eu vou ensinar. Como se o aluno fosse absorver o conhecimento do professor”.

Experiências feitas pela pesquisadora em escolas de Porto Alegre com a introdução da tecnologia na sala de aula trazem resultados considerados excelentes para professores e alunos. Um dos projetos acompanhados pela professora inseriu notebooks nas aulas de turmas do ensino fundamental de uma escola pública da capital com alunos de baixa renda e sem acesso à informática em suas casas. O resultado foi que em cinco dias de aulas com os computadores (cada aluno tinha seu notebook) eles já estavam fazendo pesquisas e descobrindo coisas que iam além de seu nível de estudo.

“Uma das curiosidades que eles tiveram foi sobre o sol, que batia muito forte na sala de aula, pois não havia cortinas. Isso os levou a pesquisar tudo sobre o sol, porque é tão quente, do que é formado, posição no espaço e função para Terra. E um ajudava o outro quando descobria algo novo que podia ser feito nonotebook”, conta Léa. Os alunos também tiveram a liberdade de mudar o formato da sala de aula e sentaram uns de frente para os outros para melhor interagir. “Isso tudo é cultura digital, é uma grande mudança na civilização que estamos vivendo”, alerta.

Sala do futuro: um novo espaço de aprendizagem

Como seria a sala de aula do futuro? Que tal colocar os alunos em pufs ou sofás de forma desordenada, cada um sentando onde e como se sentir mais confortável? É o que propõe o projeto do professor e empresário Militão Ricardo, que fez o projeto de uma sala de aula do futuro como trabalho de conclusão da Universidade de Stanford, em que prevê ambientes com mesa e cadeiras na volta, sofás e pufscolocados de forma que os alunos olhem uns para os outros para conversar. “Porque a gente não pode sentar num sofá de forma mais confortável, em que todos se sintam mais à vontade. Claro que isso pode não se adaptar às crianças muito pequenas, mas os próprios jardins de infância, há muito tempo, tem um ambiente mais livre”, destaca ele.

Pesquisa recente realizada por pesquisadores da Universidade de Salford, no Reino Unido, apontou que a forma como a sala de aula é desenhada impacta em 25% no desenvolvimento do aluno. Depois de um ano de análises, os pesquisadores descobriram que seis dos parâmetros de design cor, escolha, conexão, complexidade, conexão e luz – tiveram efeitos signi cantes nas notas que os alunos obtiveram. Os resultados mostram também que 73% da variação no desempenho dos alunos pode ser explicada pela variação de algum dos parâmetros analisados no estudo.

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