EDUCAÇÃO

Festa temática de estudantes de escola privada deprecia trabalhadores

Para promover o recreio temático "Se Nada Der Certo", secundaristas se fantasiaram de gari, cozinheiro, comerciário, faxineiro, vendedor
Por Gilson Camargo / Publicado em 5 de junho de 2017

Foto: Reprodução/Bombô

No imaginário dos estudantes de classe média, comerciário, gari, motoboy ou faxineira são profissões a serem evitadas

Foto: Reprodução/Bombô

Uma atividade organizada pelos formandos do terceiro ano do ensino médio da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH) sugeriu as profissões que os estudantes escolheriam caso viessem a fracassar na vida profissional após a conclusão dos estudos. O “Recreio Temático” ou “Dia D” é uma espécie de festa à fantasia organizada todos os anos pelos secundaristas de diversas instituições de ensino privado do Rio Grande do Sul a pretexto de extravasar a tensão do último ano antes do vestibular e “motivar” os futuros vestibulandos.

Foto: Reprodução Bombô

No “Recreio Temático” denominado “Se Nada Der Certo”, adolescentes utilizaram roupas características de profissões reputadas por eles como fracassadas

Foto: Reprodução Bombô

No caso do IENH, o tema do recreio deste ano foi “Se Nada Der Certo”. Os formandos se vestiram com roupas características de profissões como cozinheiro, churrasqueiro, faxineiro, revendedor de produtos de beleza, mecânico, atendente de supermercado, ambulante, doméstico. O evento foi realizado no dia 17 de maio, mas somente nesta segunda-feira ganhou repercussão e muitas críticas nas redes sociais depois que fotos dos secundaristas passaram a ser divulgadas pelo site Bombô.

A reação dos internautas foi de indignação: “Vocês não têm vergonha de promover um evento classicista retrógrado e desrespeitoso desses?”, questionou um leitor. “Se nada der certo, eu fico zombando das profissões dos outros”, ironizou outro. Em nota, a instituição pediu desculpas pelo que considerou um “mal-entendido com a concepção e realização da atividade que não teve o objetivo de discriminação enfatizado nas redes sociais”.

Foto: reprodução Champagnat

Alunos do Colégio Champagnat, de Porto Alegre, no evento da rede Marista de 2015

Foto: reprodução Champagnat

A repercussão negativa do evento expôs outras instituições que também promovem atividades do gênero. Um post em uma rede social sobre o “Se Nada Der Certo” do Colégio Marista Champagnat, de Porto Alegre teve mais de dez mil compartilhamentos e motivou críticas de pais, alunos e professores na página oficial do colégio. Nas imagens, seus alunos aparecem vestidos de atendentes do McDonalds, de empregadas domésticas, garis e outros profissionais reputados como fracassados no imaginário dos estudantes de classe média. “Um colégio que menospreza e incentiva esse menosprezo em seus alunos contra pessoas que apenas estão tentando ganhar sua vida dignamente, só pode preparar cidadãos que não vão dar certo mesmo. Não na carreira, mas na vida”, reagiu um internauta.

Depois de remover as fotos do evento do seu site, o Champagnat divulgou uma nota, justificando que as imagens eram de 2015 e que desde aquele ano a prática foi abolida do calendário escolar por ter sido considerada inadequada.

O Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) manifestou contrariedade em relação ao caráter discriminatório assumido pela atividade e destacou a responsabilidade das instituições de ensino nesses casos. “O Sinpro/RS lamenta que atividades preconceituosas como essas aconteçam no ambiente escolar. A impetuosidade de adolescentes é expectativa de quem trabalha em educação e são ótimas oportunidades de reflexão e aprendizagens. No entanto o aval de setores da escola privada em relação a atividades desrespeitosas em relação a determinadas profissões é inconcebível”, ressaltou Cecília Farias, da Direção Colegiada do Sindicato.

Confira video do evento do Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH).

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