EDUCAÇÃO

Professores das federais rebatem ministro

Cortes de 30% das verbas por alegada “balbúrdia” em universidades federais leva sindicatos de professores a protestarem contra desmonte da educação
Por César Fraga / Publicado em 30 de abril de 2019
Presidente e ministro são acusados de desconhecerem o meio universitário

Foto: Valter Campanato Junior/ Agência Brasil

Presidente e ministro são acusados de desconhecerem o meio universitário

Foto: Valter Campanato Junior/ Agência Brasil

Nesta terça-feira, 30, o presidente da Associação de Docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Adufrgs), Paulo Machado Mors, expôs a indignação da entidade em referência ao corte de pelo menos 30% dos recursos da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Na segunda-feira, o ministro da Educação Abraham Weintraub, anunciou que o MEC vai cortar recursos de universidades que não apresentarem desempenho acadêmico esperado e, ao mesmo tempo, estiverem promovendo “balbúrdia.

Paulo Pacheco Mors, presidente da Adufrgs protesta contra cortes nas federais

Foto: Manoela Frade/ Divulgação/Adufrgs

Paulo Pacheco Mors, presidente da Adufrgs protesta contra cortes nas federais

Foto: Manoela Frade/ Divulgação/Adufrgs

“Esse corte reflete a intenção de desmontar a educação pública brasileira. Convido o presidente da República e o ministro da Educação a visitarem universidades federais brasileiras para verem como é produzido o conhecimento no país”, declarou. Paulo afirmou que a Academia é “local de diversidade de tratamentos e disciplinas de todas áreas em um convívio típico da universidade, coisa à qual eles não estão acostumados”, protesta. “É um governo e um ministério que até hoje não mostraram a que vieram para a política educacional. Depois de quatro meses ainda não mostraram qual o plano para a Educação e que só fizeram perseguir a academia. Essa medida contras universidades nos deixa indignados, principalmente por tratar-se de instituições muito bem avaliadas. Tanto o ministro quanto o presidente não conhecem a vida de uma Universidade, não sabem nada sobre vida acadêmica”, conclui Mors, que é físico e leciona no curso de licenciatura de Física da Ufrgs.

A Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes) também emitiu nota sobre o assunto. Leia na íntegra:

Nota de repúdio – Proifes Federação

A educação pública, gratuita e de qualidade no Brasil, a liberdade de expressão, e a autonomia universitária sofreram nesta terça-feira, 30, mais um duro golpe em uma sequência de ataques sem precedentes ao exercício pleno do pensamento, da pesquisa científica, da formação técnica e cidadã e do desenvolvimento soberano do país.

As Universidades Federais da Bahia, de Brasília e a Federal Fluminense registraram um contingenciamento de 30% em seus já decrescentes recursos, em retaliação ao que o ministro da Educação do governo Bolsonaro, Abraham Weintraub, classificou como “balbúrdia” sediada nas dependências destas instituições.

Não bastasse a arbitrariedade inerente ao ato, sendo o conceito de “balbúrdia” subjetivo, moral e semanticamente questionável, o ministro da Educação ainda justifica o corte mais acentuado de recursos a estas universidades alegando, falsamente, que teriam registrado redução de qualidade do ensino apresentado.

O PROIFES-Federação recebe com repúdio mais esta investida deste governo contra a autonomia universitária, do pensamento, da liberdade de ensinar, que utiliza o contingenciamento de recursos legal0mente previstos como forma de doutrinação política e subordinação financeira da educação a um pensamento único, autoritário e descabido.

“Os docentes das Universidades e Institutos Federais, e todos os demais profissionais da Educação, resistiremos e responderemos à altura dos ataques, com mobilizações, paralisações, greves e demais atos que, junto a outras entidades, mostrem que estamos atentos, e vamos às ruas, com as centrais sindicais e no próximo dia 15 com todo o movimento de educação”, afirmou Nilton Brandão, presidente do PROIFES.

“As palavras e atos do ministro da educação mostram claramente uma retaliação e uma tentativa de desqualificação da universidade, que é um espaço importante de geração de conhecimento e de manifestação da liberdade de expressão, fundamentais para o desenvolvimento e soberania nacional”, acrescentou a vice-presidente do PROIFES, e professora da UFBA, Luciene Fernandes.

O PROIFES-Federação, fiel aos seus princípios de lutar sempre por uma educação pública, laica, gratuita e de qualidade, com autonomia de pensamento e de ensino, jamais se furtará a defender, com todos os meios à sua disposição, a construção de uma país justo, soberano e independente, e isso passa, necessariamente, pelo fortalecimento da educação em geral, e das Universidades e Institutos Federais em particular, sem mordaças, sem restrições financeiras e sem imposições ideológicas de qualquer natureza.

Brasília, 30 de abril de 2019

 

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