EDUCAÇÃO

Histórias para mudar o rumo da história

O professor Bernardo Lucero De Carli divide seu tempo como professor do ensino privado e em pré-vestibulares populares
Por César Fraga / Publicado em 12 de março de 2020

Foto: Acervo Pessoal

Foto: Acervo Pessoal

Apaixonado por História e educação popular, o professor Bernardo Lucero De Carli inspirou-se nos ensinamentos de Paulo Freire e é uma espécie de professor Robin Hood. Só que ele não tira dos ricos para dar aos pobres. Muito pelo contrário. Nessa história todo mundo ganha no final. E, de quebra, ainda convivem na mesma universidade.

De Carli exerce uma vida dupla. Uma parte do seu tempo é professor do ensino privado em cursos pagos. Noutra parte, não apenas atua como milita pela educação popular em pré-vestibulares populares. São cursos preparatórios voltados para estudantes de baixa renda que sonham entrar nas tão disputadas universidades federais, públicas e gratuitas.

O professor Bernardo, como é conhecido, tem licienciatura em História pela Ufrgs e atualmente leciona nos cursos privados de pré-vestibular Meta (Porto Alegre), Unificado (Camaquã) e Gabarito (Osório). Nos cursinhos populares, atua no Pré-Vestibular Resgate Popular e no Cursinho do PT. Além disso, atuou no Esperança, na Restinga.

“Primeiramente, veio o encantamento pela disciplina de História desde o colégio. Durante o ano de 2009, nas aulas da Faculdade de Educação e nas aulas particulares que ministrava foi que decidi direcionar esse encantamento pela História para a sala de aula”, revela. Em 2010 estreou como professor de turma no Resgate Popular. “Foi como começou a minha construção como professor e como militante da educação popular”, constata.

Para Bernardo, os cursos pré-vestibulares populares são promotores de debate, organização política e mobilização social pela democratização do acesso, ampliação, gratuidade, qualidade e popularização do ensino superior. Esses cursos, além da preparação para o vestibular nas universidades públicas – motivação inicial e objetivo específico – propõem o compromisso com projetos coletivos e uma perspectiva de inserção social e política nas questões comunitárias e acadêmicas como princípios da formação crítica.

Foto: Acervo Pessoal

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“Vejo os pré-vestibulares populares como um movimento social que luta pela democratização do acesso à universidade e pela construção de uma sociedade mais justa, solidária e igualitária”, defende. Ele conta que a maioria dos estudantes aprovados através das aulas dos cursos populares são a primeira pessoa de sua família que vai cursar o ensino superior. “Ou seja, tem uma ‘quebra’ importantíssima na lógica social daquela família”.

O professor conta que testemunhou diversos casos de transformações durante sua atuação nesses cursos, “espaço de educação e luta”, como chama a educação popular. Ele relata o caso de um aluno que entrou no curso popular após ficar cinco anos detento no Presídio Central, depois passou em Direito com o objetivo de ajudar a sua comunidade.

A média de aprovação do Resgate Popular e do Cursinho do PT é acima de 50%. Todos alunos e todas alunas são oriundos da rede pública de ensino e a seleção segue critério socioeconômico.

“Ambos os espaços de sala de aula (privado e popular) no âmbito dos pré-vestibulares são interessantes e desafiadores”, compara. Nos preparatórios Enem e vestibulares privados, a alta concorrência entre os cursos induz a uma constante busca por aprimoramento do conteúdo e do domínio das provas seletivas. Já nos cursinhos populares, o desafio de construir um processo de educação que engloba o conteúdo de três anos do ensino médio em apenas um ano para pessoas que tiveram uma trajetória escolar e econômica precarizada induz o professor a buscar uma constante evolução pedagógica nas aulas.

“Tanto nos cursos populares quanto nos privados busco aplicar, sempre que possível, os ensinamentos de Paulo Freire e, assim, procuro compreender sempre a realidade de cada turma. E, claro, entender a educação como uma ferramenta de transformação social. A busca por uma sociedade mais justa e igualitária”, conclui.

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