EDUCAÇÃO

Desmotivação toma conta de jovens que se dedicam à ciência no Brasil

Além da falta de financiamento, assédio moral e sexual estão impactando, aponta estudo da Academia Brasileira de Ciências
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 16 de maio de 2023
Essa é uma das conclusões das primeiras análises que estão sendo feitas por uma pesquisa da Academia Brasileira de Ciências (ABC) O perfil do cientista brasileiro em início e meio de carreira

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Essa é uma das conclusões das primeiras análises que estão sendo feitas por uma pesquisa da Academia Brasileira de Ciências (ABC) O perfil do cientista brasileiro em início e meio de carreira

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Quatro em cada dez jovens cientistas no Brasil estão desmotivados. Essa é uma das conclusões das primeiras análises que estão sendo feitas por uma pesquisa da Academia Brasileira de Ciências (ABC) O perfil do cientista brasileiro em início e meio de carreira.

O cenário se agrava com dados revelando que cerca da metade dos pesquisadores que concluíram doutorados entre 2006 e 2021 consideram que não vale a pena ser cientista no Brasil.

Os motivos vão além da dificuldade de obter financiamento para se realizar pesquisas de ciência no Brasil. No panorama que está sendo feito, outra face sombria começa a se revelar, a do assédio.

Durante suas carreiras, 67% das mulheres e 49% dos homens cientistas disseram ter sido assediados moralmente.

Já no âmbito da perseguição sexual, 47% das mulheres e 12% dos homens sentiram na pele essa realidade.

Segundo os dados levantados, 17% dos pesquisadores entrevistados tentaram sair do Brasil nos dois últimos dois anos, período em que o governo Bolsonaro praticamente inviabilizou a produção de ciência no país.

A afirmação “não valer a pena ser cientista no Brasil” esteve em quase metade das entrevistas destes pesquisadores.

Sub-representação na ciência

O trabalho da ABC está consolidando informações sobre os jovens doutores no país.

Com uma presença de 52%, mulheres são maioria no ambiente acadêmico.

Mas, apesar de avanços obtidos pelas políticas de cotas, os dados ainda registram que a maior parte da população brasileira tem sub-representação.

Entre os jovens doutores no país, 4% se declaram negros e 20% pardos. Indígenas, somente 0,2%.

A predominância na pesquisa nacional é de brancos, com 73% de participação.

A pesquisa sobre o perfil do jovem cientista brasileiro é coordenada pelas professoras Raquel Minardi, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Chies, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e Jaqueline Mesquita, da Universidade de Brasília (UnB) e pelo pesquisador Alessandro Freire, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).

O projeto, criado em 2020 por grupo de trabalho composto por 74 membros afiliados da ABC, recebeu 4.115 respostas válidas em julho e agosto de 2022.

O questionário foi divulgado para programas de pós-graduação em todo o Brasil e, com apoio do Itamaraty, para pesquisadores que estão fora do Brasil.

A pesquisa abordou financiamento, bolsas de produtividade, liderança científica, internacionalização, diversidade e inclusão, divulgação científica e diáspora científica.

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