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Caminhoneiros autônomos mantêm greve

Há mais de 100 pontos de bloqueio em rodovias do RS nesta sexta-feira, 25, que não serão levantados. A refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas também foi bloqueada. O movimento continua forte.
Por Flávio Ilha / Publicado em 25 de maio de 2018

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado


O presidente do Sindicato dos Transportadores de Carga Autônomos de Ijuí (RS) e vice-presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Carlos Alberto Litti Dahmer, falou com exclusividade ao jornal Extra Classe no final da manhã desta sexta-feria, 25, diretamente de Brasília. Ele acusa o governo Temer de tentar rachar o movimento e afirma que a proposta para acordo não chega próximo das reivindicações e que a greve vai ser mantida.

Extra Classe – Por que a greve dos caminhoneiros não terminou?
Carlos Alberto Litti Dahmer – Porque a categoria, que é bastante heterogênea, não aceita mais ser representada por quem não vive o dia a dia na estrada. Na segunda-feira, 22, tivemos em Ijuí uma reunião de mais de duas horas com representantes de 16 municípios da região noroeste do Rio Grande do Sul, que congrega um grande número de fretistas. A disposição de parar era grande. A greve foi deflagrada no dia seguinte, terça-feira, 23, e, desde então, a adesão aumentou muito. As empresas, dessa vez, ficaram do nosso lado, aderiram aos protestos, e também motoristas autônomos de outras regiões do Estado, do país, principalmente São Paulo, que nos protestos anteriores ficaram meio de fora. A tendência da greve, por isso, ainda é crescer mais, como estamos vendo, apesar do governo ter tentado rachar o movimento.

Extra Classe – O acordo assinado na quinta-feira à noite,24,  é ruim?
Litti – No nosso entender, dos trabalhadores autônomos, é ruim porque não toca em pontos essenciais das nossas reivindicações, como o piso mínimo para o frete, uma reivindicação antiga, e a redução do PIS/Cofins sobre o diesel, que precisa de acerto entre governo e Congresso. Sem isso, é difícil falar em acordo. Reduzir o preço em 10% na origem durante duas semanas não resolve porque nem chega aos fretistas. Na prática, só medidas estruturais, como zerar a incidência de taxas e estabelecer um piso para o frete, podem garantir uma remuneração justa aos transportadores, que hoje, muitas vezes não recebem nem o suficiente para cobrir os custos com combustível, pneus, alimentação, pedágios. Essas reivindicações são antigas, negociamos a isenção de taxas federais há mais de três anos, desde 2014, 2015, e só recebemos promessas. De concreto, nada. Por isso só vamos sair das estradas quando o governo publicar no Diário Oficial a redução do PIS/Cofins.

Extra Classe – Outras greves recentes tentaram e não conseguiram.
Litti – O frete mínimo vem sendo negociado há anos, mas o PLC 121 só foi concretizado no fim do ano passado. Ou seja, não há disposição de votar porque afeta interesses de empresas, que não querem saber de frete tabelado. Enquanto o governo não sinalizar com alguma coisa concreta, e não com acordos pela metade, tentando dividir o movimento, não haverá liberação de estradas. O objetivo do governo é nos desmobilizar, essa trégua de 15 dias é para esfriar o movimento. Depois volta tudo ao que era antes. Mas não foi uma estratégia bem-sucedida. Nossos informes indicam que há mais de 100 pontos de bloqueio em rodovias do Estado nesta sexta-feira, 25, que não serão levantados. Também houve bloqueio da refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas. O movimento continua forte.

Extra Classe – Como se chegou a essa situação?
Litti – 
O governo virou as costas para o setor dos transportes. Não só para os caminhoneiros autônomos, que, já há muito tempo, temos nos virado como dá, mas também para as pequenas empresas, para as grandes empresas nacionais, que estão tentando sobreviver num mercado muito difícil. Não tem como trabalhar com aumentos constantes, praticamente diários, do diesel, que já come mais da metade da nossa remuneração. Não tem como.

Extra Classe – Houve pânico na quinta-feira com a extensão do movimento. Não temem que a sociedade se volte contra os caminhoneiros?
Litti – Acho que a sociedade precisa entender que não se trata de um movimento dos caminhoneiros. Não é. A política de preços afeta todo mundo. Afeta mais quem é profissional, é claro, quem trabalha com isso e não pode deixar o caminhão na garagem, tem que sair pra fazer frete e sustentar a família. Mas mesmo o profissional liberal, o trabalhador comum que pode abrir mão do carro é afetado. A tarifa de ônibus vai subir, os preços nos supermercados vão subir, aliás, já subiram quando o abastecimento ficou comprometido. Então, dizer que é uma greve para atender os interesses de uma categoria não é verdade.

Extra Classe – Há adesões de outras categorias profissionais?
Litti – 
Sim, temos recebido adesões de motoboys, pessoal que faz Uber, taxistas, transporte escolar. O pessoal está se dando conta que não dá pra sustentar a economia com os combustíveis nesse preço. Não dá. Se o freteiro aumenta o preço para compensar o custo alto da matéria-prima, perde pedidos. Os grandes dão um jeito porque diluem o custo no volume alto de cargas e repassam uma parte para o consumidor, que às vezes nem se dá conta. Mas no nosso caso, do pessoal autônomo, é difícil. O cliente não paga mais e ponto. Aí é escolher entre ganhar menos ou não ganhar nada. Como é que fica?

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