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“Os deputados sabem que a reforma da Previdência é danosa”

Por Gilson Camargo / Publicado em 1 de abril de 2019
“É preciso que se combinem dois movimentos essenciais: levar ao conhecimento da sociedade os malefícios do desmonte da Previdência e transformar a indignação em mobilização”

Foto: Cleia Viana/ Câmara dos Deputados

“É preciso que se combinem dois movimentos essenciais: levar ao conhecimento da sociedade os malefícios do desmonte da Previdência e transformar a indignação em mobilização”

Foto: Cleia Viana/ Câmara dos Deputados

O líder do PSol na Câmara Federal, deputado Ivan Valente (SP), acredita que, apesar da pressão da grande imprensa e do mercado financeiro, o governo não teria votos suficientes para aprovar a proposta de reforma da Previdência, PEC 06/2019, devido aos desentendimentos entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL), “um criador de casos” e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Eles andam em sentidos opostos, mas se ajustam”. Em seu sétimo mandato como deputado federal, ressalta que os votos serão influenciados pelo temor dos parlamentares a uma reação da sociedade. “Os deputados sabem que a proposta é danosa para suas bases e seus estados”, avalia nesta entrevista.

Extra Classe – O senhor acredita que a reforma será aprovada?
Ivan Valente – Difícil dizer. Há um desejo do mercado comandado pelo grande capital e os grandes meios de comunicação que a proposta seja aprovada. Tornou-se um mantra. Mas a proposta representa perda para os trabalhadores e os que dependem da seguridade social, representa ainda o desmonte da proteção criada com a Constituição de 1988. O resultado sairá do embate de classes no Brasil. Pesa ainda a incompetência do governo Bolsonaro que é gerador de crises por excelência.

EC – Como os partidos de oposição avaliam o atual estágio do apoio que o governo tem ao projeto na Câmara?
Valente – O embate entre Maia e Bolsonaro mostrou que o governo e a Câmara andam em sentidos opostos, mas eles se ajustam, ambos são favoráveis. Os deputados sabem que a proposta é danosa para suas bases e seus estados. A oposição tem que ir às ruas, explicar o projeto para a sociedade e organizar a resistência popular.

EC – Que a projeção de votos contrários e a favor o senhor faria neste momento?
Valente – Hoje a proposta não passaria. A base do governo está estraçalhada e Bolsonaro é um criador de casos com suas pautas comportamentais delirantes. Resta saber se a pressão do mercado e da grande imprensa será suficiente para fazê-lo perceber que eles querem o desmonte da Previdência de forma ampla e rápida e assumir esta pauta como prioritária.

EC – Como avalia a mobilização dos movimentos sociais contra a reforma?
Valente – As ruas já deram uma resposta ao desmonte da Previdência e da Seguridade Social no dia 22 de março. Mas é preciso mais. É preciso que se combinem dois movimentos essenciais: levar ao conhecimento da sociedade os malefícios do desmonte da Previdência e, ao mesmo tempo, transformar a indignação em mobilização. É o nosso maior desafio. O governo Bolsonaro é um representante do grande capital, seu governo gira entre comunidades fundamentalistas, um conservadorismo tosco e as forças do mercado financeiro e do agronegócio. Ele veio para colocar em marcha um país cindido e obscuro. Não vamos permitir este retrocesso. As ruas darão o seu recado e as forças civilizatórias terão que assumir maior protagonismo político para barrar o neoliberalismo, o atraso e a perda de direitos.

EC – Em que aspectos a reforma é mais danosa para a sociedade?
Valente – Ela é danosa em várias frentes: retirada da Constituição, fim da aposentadoria por tempo de contribuição, não mexe com os militares senão apenas superficialmente, não ataca a sonegação e a retirada de recursos com a desvinculações de receitas da União (DRU), a capitalização é a financeirização de um direito social básico e elementar, a redução dos benefícios para valores menores que um salário mínimo, enfim, a lista de maldades é muito grande. A questão central é que os mais pobres, mulheres, trabalhadores rurais, portadores de deficiência e outros, perderão garantias mínimas de sobrevivência, aprofundando o grave quadro da crise social e de distribuição de renda no Brasil.

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