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Morre Avelino Capitani, o Anjo Loiro

Ex-dirigente do Partido Comunista Brasileiro, anistiado da ditadura militar, passou a morar em Porto Alegre, onde viveu até a sua morte ocorrida no sábado, 17 de setembro
Por Marcia Anita / Publicado em 18 de setembro de 2022

Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Avelino Capitani recebeu a Medalha Negrinho do Pastoreio durante o governo estadual de Olívio Dutra

Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Sob aplausos, foi sepultado na manhã deste domingo, 18, no Cemitério João XXIII, em Porto Alegre, aos 82 anos, Avelino Capitani. Este é o nome do marinheiro que, na década de 60, fez parte da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais e que, ao lutar por melhores condições de vida e de trabalho, foi perseguido, preso e torturado na ditadura civil/militar. Para sobreviver, teve de fugir e se esconder. Passou boa parte de sua vida clandestino.

Uma vez, ao ser ferido, subiu os morros do Rio de Janeiro, conseguindo escapar do cerco que teria resultado em sua morte. O homem alto e loiro chamava atenção. As características físicas aliadas à coragem para enfrentar aquele período turbulento, bem como suas fugas espetaculares fizeram com que ficasse conhecido como o Anjo Loiro… ou Charles… ou Charles Anjo 45…

Há uma música de Jorge Ben Jorge chamada Charles Anjo 45, que conta a história de um herói do morro, “protetor dos fracos e dos oprimidos” e que “sem querer foi tirar férias numa colônia penal”.

Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Preso, torturado, Capitani fugiu e viveu anos na clandestinidade

Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Capitani, ou Charles foi “um guerreiro até o fim”, como disse sua companheira por mais de 40 anos, Teresa Lucena, durante o velório.

Na clandestinidade, ele passou por diversos países e foi anistiado em 1980. Porém, todos os seus direitos, profissionais e financeiros, só foram restituídos em 2003. Participou de organizações de classe e partidos políticos, entre eles o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) e o Partido Comunista Brasileiro (PCB).

A causa de sua morte foi um câncer pulmonar. Mas há alguns anos exames mostraram diversas lesões em seu cérebro, que ocasionaram uma demência.

O médico que fez o diagnóstico informou que estas lesões teriam mais de 50 anos, provocadas por pancadas do tempo em que lutava box. A juventude, observou o médico, pode ter servido como proteção, mas aos poucos, com o tempo, a doença vai se instalando.

Teresa então explicou que seu companheiro nunca havia lutado box. Ele sempre lutou pela vida e as lesões e consequente demência são resultados da tortura sofrida.

Homenagem

Antes de ser sepultado, amigos e parentes prestaram diversas homenagens ao homem que “sempre quis saber o que há além daquelas montanhas”, título de um de seus livros. Avelino Capitani também era escritor, com diversos livros publicados.

De mãos dadas, familiares, amigos e companheiros de ideais ouviram sua música preferida, Tocando em frente, de Almir Sater. E, claro, Charles Anjo 45. Também cantaram juntos A Internacional, hino dos internacionalistas e uma das músicas mais conhecidas no mundo.

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