JUSTIÇA

Oito funcionários da Vale são presos em operação do Ministério Público

Mandados de busca e apreensão ocorrem em Minas, Rio de Janeiro e São Paulo. Detidos são suspeitos de responsabilidade criminal pelo rompimento da barragem da empresa em Brumadinho
Por Gilson Camargo* / Publicado em 15 de fevereiro de 2019
Operação do MPMG com as polícias civil e militar apreendeu computadores e documentos em Minas, Rio e São Paulo

Foto: Deivulgação

Operação do MPMG com as polícias civil e militar apreendeu computadores e documentos em Minas, Rio e São Paulo

Foto: Deivulgação

Oito funcionários da mineradora Vale foram presos temporariamente nesta sexta-feira, 15, em uma operação deflagrada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), com o apoio das polícias civil e militar dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Os alvos dos mandados de prisão cumpridos pela manhã são suspeitos de responsabilidade criminal pelo rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais. O colapso da barragem de rejeitos de mineração ocorreu no dia 25 de janeiro e provocou a morte de 166 pessoas – outras 155 estão desaparecidas.

Entre os presos estão quatro gerentes e quatro técnicos diretamente envolvidos na segurança e estabilidade do empreendimento. Todos ficarão detidos por 30 dias e serão ouvidos pelo MPMG em Belo Horizonte. Além dos crimes de homicídio qualificado, eles poderão responder por crimes ambientais e falsidade ideológica.

Estão sendo cumpridos ainda 14 mandados de busca e apreensão nos três estados, incluindo a sede da empresa Vale no Rio. Foram levados pelos agentes computadores e documentos em diferentes endereços. Também são alvos dos mandados de busca e apreensão quatro funcionários da empresa alemã Tüv Süd, que prestou serviços de estabilização da barragem rompida para a Vale, entre eles, um diretor.

“Os documentos e provas apreendidos serão encaminhados ao MPMG para análise. De acordo com os promotores de Justiça, as medidas estão amparadas em elementos concretos colhidos até o momento nas investigações conduzidas pela força-tarefa e são imprescindíveis para a completa apuração dos fatos”, comunicou o MPMG em nota.

Há duas semanas, o MPMG, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal conduziram outra ação em decorrência do rompimento da barragem de Brumadinho, que resultou na prisão temporária de três funcionários da Vale responsáveis pelo empreendimento e dois engenheiros terceirizados que atestaram a segurança da barragem. Eles já foram liberados.

PRISÕES – Na operação desta sexta-feira, sete prisões ocorreram na capital mineira e uma em Itabira, a 111 quilômetros de Belo Horizonte. Ao todo, 14 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Minas, Rio de Janeiro e São Paulo. Os funcionários da Vale presos na operação do MP em conjunto com as polícias civil e militar são:

Joaquim Pedro de Toledo – Gerente-executivo de geotecnia operacional. Ele era responsável por gerenciar a equipe que faz o monitoramento e manutenção da barragem rompida. Segundo o MP, “qualquer anomalia era a ele comunicada por seus subordinados”.

Renzo Albieri Guimarães Carvalho – integra a gerência de geotecnia e é responsável pelo monitoramento e manutenção da barragem rompida.

Cristina Heloiza da Silva Malheiros – da gerência de geotecnia, encarregada do monitoramento e manutenção da barragem que, segundo a Justiça, foi “amplamente referenciada pela gestão da barragem I” nos depoimentos dos primeiros funcionários presos.

Artur Bastos Ribeiro – da gerência de geotecnia, responde pelo monitoramento e manutenção da barragem. Teria participado ativamente da conversa entre funcionários da Vale e da Tüv Süd nos dias 23 e 24 de janeiro deste ano, às vésperas do rompimento.

Alexandre de Paula Campanha – Gerente-executivo de geotecnia corporativa. Responsável por canalizar informações sobre questões de geotecnia, dentre elas a estabilidade de barragens. Segundo a Justiça, Campanha era responsável pela “regularidade formal das estruturas a partir do controle de revisões periódicas e auditorias técnicas”.

Marilene Christina Oliveira Lopes – membro do setor de gestão de riscos geométricos. Participava do gerenciamento de dados corporativos que avaliam a qualidade das estruturas. Integrava o setor que colocou a barragem I na “zona de alerta”.

Hélio Márcios Lopes da Cerqueira – membro do setor de gestão de riscos geométricos. Participava do gerenciamento de dados corporativos que avaliam a qualidade das estruturas. Integrava o setor que colocou a barragem I na “zona de alerta”.

Felipe Figueiredo Rocha – membro do setor de gestão de riscos geométricos. Participava do gerenciamento de dados corporativos que avaliam a qualidade das estruturas. Integrava o setor que colocou a barragem I na “zona de alerta”.

Entre os detidos, está o gerente-executivo de geotecnia corporativa da Vale, Alexandre de Paula Campanha. Segundo o MPMG, o engenheiro Makoto Namba, da empresa alemã Tüv Süd, disse em depoimento que se sentiu pressionado por Campanha a assinar o laudo que atestou a segurança da barragem. Os oito presos foram levados para o Dema (Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Meio Ambiente), na região Centro-sul de Belo Horizonte, onde devem ser ouvidos por membros do Ministério Público. As prisões são preventivas e têm validade por 30 dias.

*Com MPMG e EBC.

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