JUSTIÇA

Criança Yanomami morre por desidratação e desnutrição em Roraima

Crise humanitária provocada pela omissão do governo Bolsonaro e avanço do garimpo em terras indígenas já matou mais de 570 crianças e 651 indígenas estão hospitalizados
Por Gilson Camargo / Publicado em 6 de fevereiro de 2023

Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Entrega de doações em ajuda humanitária aos Yanomami na Casa de Saúde do Índio, onde está instalado Hospital de Campanha da FAB, que presta atendimento aos indígenas levados em situação de emergência para Boa Vista

Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Uma criança de apenas um ano e cinco meses de idade morreu no domingo, 5, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, vítima de desnutrição grave e desidratação.

A informação foi repassada à Agência Brasil por Júnior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’Kuana (Codisi-YY), uma das principais lideranças da região de Surucucu, no extremo Oeste do estado e próxima à fronteira com a Venezuela.

De acordo com o relato, a criança estava em estado grave desde sábado, 4, e as equipes de saúde pediram sua remoção imediata para Boa Vista, mas o mau tempo impediu a decolagem da aeronave.

A criança Yanomami era da região Haxiu, que fica a cerca de 15 minutos de helicóptero do polo base de Surucucu, onde há um aeródromo e um pelotão de fronteira do Exército Brasileiro.

Acossados pelo avanço do garimpo ilegal, os Yanomami sofrem com a destruição da floresta e a contaminação da água e dos peixes com mercúrio. Sem alimentos e impedidos pelos garimpeiros de acessar os serviços de saúde indígena, as comunidades vivem uma realidade de desnutrição e doenças como malária e pneumonia. Nos últimos quatro anos, foram registradas 570 mortes de crianças no território.

O ministro da Justiça e Segurança, Flávio Dino, anunciou na manhã desta segunda-feira, 6, um aumento dos efetivos da Polícia Federal (PF) e da Força Nacional de Segurança Pública em Roraima.

A medida foi definida pelo decreto presidencial 11.405, que autoriza os ministérios responsáveis pelas principais ações diretas de enfrentamento à crise humanitária que se abateu sobre a Terra Indígena Yanomami a solicitarem ajuda de outros órgãos públicos.

Base Aérea Yanomami

Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Em coletiva, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, detalhou o atendimento ao povo Yanomami no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e afirmou que os garimpeiros estão deixando a região

Em visita a Roraima, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirmou que a base aérea no Surucucu vai ser reestruturada para que possa receber aviões de maior porte.

Com isso, disse, será possível levar a infraestrutura para montar um hospital de campanha na região.

A pista de Surucucu não opera por instrumentos e só permite voo visual, o que limita o acesso em horário noturno ou com mau tempo.

A FAB instalou um Hospital de Campanha ao lado da Casa de Saúde Indígena (Casai) em Boa Vista (RR), a fim de auxiliar o Ministério da Saúde no apoio à crise da região. Desde 27 de janeiro, houve 600 atendimentos a indígenas Yanomami.

O hospital conta com equipe multidisciplinar e já foram empregados mais de 300 militares médicos, com especialidades em ortopedia, cirurgia geral, pediatria, radiologia, ginecologia e patologia.

A estrutura também tem capacidade de realizar exames laboratoriais, ultrassonografias e dispõe de leitos de estabilização. Pacientes em estados mais graves são encaminhados para outros hospitais de Boa Vista.

Remoção de pacientes

De acordo com o Centro de Operações Emergenciais (COE), colegiado interministerial criado pelo governo federal, em janeiro, foram removidos 223 pacientes da terra indígena para a capital do estado.

No balanço mais recente, o COE informou também que a Casa de Saúde Indígena (Casai), em Boa Vista, abriga, no momento, 601 yanomami, entre pacientes e seus acompanhantes. Além disso, há 50 indígenas internados, no Hospital Geral de Roraima (HGR) e no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), ambos na capital.

O governo federal informou que foram entregues mais de 75 toneladas de mantimentos (3.785 cestas básicas) e medicamentos à população da região até 3 de fevereiro.

O trabalho é coordenado pelo Ministério da Defesa e executado pela Força Aérea Brasileira (FAB), que transporta os suprimentos desde 21 de janeiro, diariamente para aldeias Yanomami – o maior território indígena do país. A montagem, preparação e entrega dos suprimentos fazem parte de um trabalho conjunto com o Exército.

Os kits estão sendo enviados por cinco aeronaves (C-98 Caravan, C-97 Brasília, C-105 Amazonas, C-130 Hércules e KC-390 Millennium), que realizam os lançamentos aéreos com paraquedas, em função do difícil acesso à região, e helicópteros, em especial o H-60 Black Hawk.

Neste período, a FAB viabilizou, também, 37 evacuações aeromédicas com indígenas em situação grave de saúde. Os militares já realizaram mais de 600 atendimentos médicos e acumulam mais de 340 horas de voo em trabalho de ajuda humanitária.

Acesso restrito

Para garantir a segurança do Povo Yanomami, uma portaria assinada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) estabeleceu procedimentos de acesso à Terra Indígena Yanomami durante o período de vigência da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional. O ingresso será coordenado a partir das ações prioritárias definidas no Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-Yanomami).

O objetivo é garantir o resguardo e respeito aos povos indígenas. Entre as exigências de acesso estão comprovante de esquema vacinal completo, comprovante de teste de Covid-19 negativo realizado 24 horas antes da data prevista de ingresso na Terra Indígena e um atestado de avaliação médica que comprove a não existência de doença infectocontagiosas.

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