JUSTIÇA

Ataques à democracia permanecem nas redes apesar do alegado esforço das plataformas

Estudo levanta dúvidas sobre o quanto as Big Techs das redes sociais cumprem de fato suas próprias políticas. Pesquisadores apontam falta de moderação efetiva contra desinformação
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 22 de maio de 2023

Imagem: Youtube/ Reprodução

O sempre enfurecido pastos Silas Malafaia no Youtube é apontado como exemplo de ataques à democracia disseminados nas redes e que permanecem latentes

Imagem: Youtube/ Reprodução

Ataques ao Judiciário e questionamentos às urnas eletrônicas publicados nos últimos dois anos e que foram desmentidos permanecem expressos nas principais redes sociais.

A conclusão é de um grupo de monitoramento integrado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/Rio) e Universidade de Lisboa, Portugal.

Mais do que expor a demora na resposta das Big Tech que controlam as plataformas quando da análise de conteúdos que violam suas próprias regras, o estudo aponta a preocupação de essas postagens antigas voltarem a circular em outros meios como Telegram e WhatsApp.

Os resultados do trabalho serão apresentados no mês de julho, no encontro anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós).

Se para se contrapor à proposta de regulamentação por meio do PL das Fake News as Big Tech têm informado que se esforçam para retirar conteúdos não apropriados, por outro lado os pesquisadores apontam que falta transparência no processo de moderação e identificação de casos de violação de regras significativamente feito de forma automatizada.

Ações de baixo impactoAtaques à democracia

Uma das experiências realizadas mostra o baixo impacto das medidas que são adotadas.

No Youtube, a pesquisa mostra que em um universo de 29.755 publicações peneiradas em 193 mil vídeos de canais com diferentes posicionamentos ideológicos publicados entre julho de 2022 e janeiro de 2023, a plataforma atuou diretamente somente em 142 casos que violaram suas políticas.

Já em 17.384 vídeos, não houve justificativas por não estarem mais no ar e outros 11.769 conteúdos foram retirados ou tornados privados pelos próprios canais.

Os números registram que o maior índice de conteúdo retirado do ar é de manifestações de extrema direita. Isso vale tanto para os casos de violação de regras quanto para aqueles em que o próprio canal retira a publicação.

Para o estudo, isso é um indicativo de que a estratégia dos canais de retirar essas fake news do ar se tornou uma tática para prevenir sanções na plataforma ou de implicações jurídicas.

No caso de conteúdos falsos e ataques à democracia, advogam os pesquisadores, é sempre importante a remoção, porque se mostra mais eficaz na desestruturação de conteúdos ou comunidades.

As medidas de redução de visibilidade são consideradas ações paliativas.

Entre os exemplos apontados no estudo estão um vídeo no qual o pastor Silas Malafaia, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, faz ameaças ao ministro Alexandre de Moraes e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no YouTube e Twitter.

Há também uma postagem do canal Folha Política com pedidos de intervenção militar e ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e vídeos da deputada federal Bia Kicis (PL/DF) contestando a confiabilidade das urnas eletrônicas.

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