JUSTIÇA

Polícia Federal nega acordo para nova delação no caso Marielle

Acordo de delação premiada do assassino de Marielle Franco, que entregaria nome do mandante do crime gerou crise na investigação do caso
Por Gilson Camargo / Publicado em 24 de janeiro de 2024
Polícia Federal nega acordo para nova delação no caso Marielle

Foto: Marcello Camargo/ Agência Brasil

Notícia de uma suposta delação premiada de Ronnie Lessa, autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson, gerou crise na PF

Foto: Marcello Camargo/ Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) informou, em nota divulgada na noite de terça-feira, 23, que, até o momento, ocorreu apenas uma delação premiada nas investigações do caso envolvendo o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

O comunicado contestou as informações do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, sobre o andamento de um acordo de delação premiada que beneficiaria o miliciano Ronnie Lessa, autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson. Publicada no domingo, 21, a informação desencadeou uma crise no núcleo das investigações da PF.

Lessa teria delatado o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Domingos Brazão (ex-MDB), como um dos mandantes do atentado que matou a vereadora e seu motorista.

O comunicado da PF diz que não há delações além daquela feita pelo ex-PM Élcio Queiroz, que dirigiu o carro usado no atentado, e que está preso desde março de 2022.

“A Polícia Federal informa que está conduzindo há cerca de onze meses as investigações referentes aos homicídios da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes. Ao longo desse período, a Polícia Federal trabalhou em parceria com outros órgãos, notadamente o Ministério Público, com critérios técnicos e o necessário sigilo das diligências realizadas. Até o momento, ocorreu uma única delação na apuração do caso, devidamente homologada pelo Poder Judiciário”, afirma a nota.

A suposta novidade no caso provocou manifestações da irmã de Marielle, a ministra da Igualdade Racial Anielle Franco.

“Recebi as últimas notícias relacionadas ao caso Marielle e Anderson e reafirmo o que dizemos desde que a tiraram de nós: não descansaremos enquanto não houver justiça”.

A PF, no entanto, não confirma as informações envolvendo Lessa e acrescentou que elas podem comprometer as investigações.

“As investigações seguem em sigilo, sem data prevista para seu encerramento. A divulgação e repercussão de informações que não condizem com a realidade comprometem o trabalho investigativo e expõem cidadãos”, reclama a corporação.

Caçadores de cliques

A viúva de Marielle, a vereadora Mônica Benício, também se manifestou sobre os recentes capítulos envolvendo o crime.

Ela criticou a atuação de alguns veículos de imprensa e jornalistas, que disse estarem mais preocupados com likes. “Matérias clickbait começam a surgir de forma irresponsável, com os familiares, com as investigações e a elucidação do caso e com o papel democrático que a imprensa deve ter”.

Mesmo assim, ela exalta que a “imprensa teve e terá um papel de suma importância no andamento das investigações, na elucidação e na penalização dos envolvidos, executores e mandantes.”

Hipótese de vingança

Citado na delação de Queiroz em julho do ano passado, o ex-deputado estadual e conselheiro do TCE-RJ, Domingos Brazão foi acusado formalmente pela PGR de obstruir as investigações do caso Marielle no âmbito da Justiça estadual. A suspeita foi determinante para que o caso fosse enviado ao STJ. Na delação, Queiroz afirma que Brazão, teria encomendado a excução de Marielle por vingança.

Em 2017, Brazão foi preso no âmbito da Operação Quinto do Ouro, acusado de receber propina de empresários.

De acordo com a delação de Queiroz, Brazão teria ordenado a execução de Marielle por vingança contra o atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo, ex-deputado estadual pelo PSol e atualmente no PT. Marielle trabalhou com Freixo na Assembleia Legislativa do Rio na época em que Brazão era deputado.

Em 2008, Brazão foi citado no relatório da CPI das Milícias como um dos políticos liberados pelo crime organizado para fazer campanha no Rio das Pedras. Freixo foi o relator da CPI.

Em maio de 2020, a ministra Laurita Vaz, do STJ, informou que a polícia civil e o MP chegaram a investigar o envolvimento do conselheiro do TCE como mandante do crime. No relatório, a ministra afirma que foi cogitada a “a possibilidade de Brazão ter agido por vingança”, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações movidas pelo Ministério Público Federal, que culminaram com seu afastamento do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.

“Informações de inteligência apontaram no sentido de que se acreditou que a vereadora Marielle Franco estivesse engajada neste movimento contrário ao MDB, dada sua estreita proximidade com Marcelo Freixo”, afirmou a ministra.

No dia 11 de janeiro, uma reportagem do site Intercept Brasil revelou que o MP tinha voltado a analisar documentos e anexos do inquérito policial sobre a milícia em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio.

As investigações do MP e da polícia civil apontaram que a milícia da região é suspeita de manter relações com os Brazão e com o Escritório do Crime.

Chefiado por Domingos, o influente grupo político dos Brazão é composto pelo deputado estadual Manoel Inácio Brazão, o Pedro Brazão, e Chiquinho, que era colega de Marielle na Câmara na época do atentado.

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