MOVIMENTO

Informação e notícia sempre foram vítimas dos exércitos

CÉSAR FRAGA / Publicado em 25 de maio de 1999

“A primeira vítima, quando começa uma guerra, é a verdade”. A frase, dita pelo senador norte-americano Hiram Johnson, em 1917, nunca esteve tão atual. Jornalistas que estiveram nas frentes de batalha sabem que a censura sempre foi rotina nas coberturas de guerra, como nos conflitos do Vietnã (1967), na guerra dos Seis Dias (1967) e no Yon Kipur (1973). Flávio Alcaraz Gomes, que cobriu os três conflitos para a Companhia Jornalística Caldas Júnior, diz que a figura do correspondente clássico – infiltrado nos fronts de batalha – na verdade nunca existiu.

“Mesmo quando havia a possibilidade de cobrir a guerra de perto, enfrentávamos mecanismos de censura por parte dos exércitos”, recorda o correspondente. No Yon Ki-pur, por exemplo, eram 743 jornalistas cobrindo uma guerra sangrenta entre árabes e judeus. “No começo podíamos alugar um carro e nos deslocarmos por conta própria para qualquer lugar, o que de certa forma acabava prejudicando as ações das forças armadas. Então começaram as restrições”, conta o jornalista. Por fim, ele relata que os textos tinham de ser apresentados – em inglês – a um censor, antes de serem transmitidos.

Carlos Kolecza, que também cobriu a guerra dos Seis Dias e do Vietnã para a Zero Hora, igualmente acha que não se deve mitificar ou romancear a figura do correspondente. “De uma maneira ou de outra acabávamos cobrindo sob a ótica do lado que nos credenciava, pois mesmo quando não havia censura direta o repórter sempre era conduzido a concluir determinadas coisas”, analisa. Ele lembra que todas as manhãs um helicóptero transportava os repórteres ao front. “Só que, no caso do Vietnã, éramos levados sempre para os locais onde a situação estava controlada pelos americanos”, critica Kolecza.

Em coberturas de guerra, cinegrafistas e fotógrafos são os que mais se arriscam. Na guerra do Vietnã, por exemplo, pelo menos 45 correspondentes morreram e 18 foram dados como desaparecidos. O porto-alegrense Assis Hoffmann, que fez cobertura fotográfica de conflitos no Oriente Médio e de guerrilhas na América Latina, esteve várias vezes na linha de fogo. “As cenas de guerra nos mostram a total desvalorização da vida humana”, lamenta o fotógrafo. “No Oriente, o que mais me impressionava era que o exército israelense deixava para trás os cadáveres dos inimigos para que pudéssemos fotografá-los”, registra. Para Assis, a intenção era clara: a de que fosse divulgada uma suposta superioridade militar sobre os inimigos.

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