MOVIMENTO

À mercê dos negócios de família

Publicado em 13 de março de 2002

Entrada de capital estrangeiro em empresas cujo produto vendido é informação é tema que sai das rodas jornalísticas e passa a ser discutido em outras esferas. O presidente da Ajuris, Luiz Felipe Difini, diz que essa é uma questão de interesse da nacionalidade. “A abertura do meio jornalístico ao capital estrangeiro é preocupante, pois trata-se do quarto poder, formador de consciências para o bem ou para o mal”. Portanto, acrescenta, é um processo que precisa passar por algumas regras e de um nível de controle social.

Famílias – “A abertura dos meios de comunicação brasileiros ao capital estrangeiro agrava a situação vivida há muito tempo no Brasil, pois historicamente a mídia vem sendo concentrada nas mãos de poucas famílias, tendo vínculos fortíssimos com as oligarquias”, sustenta o professor de comunicação da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Venício Lima. Quando se trata de estrangeiros em empresas de comunicação nacionais, o jornalista Mauro Santayanna, da Editora Carta Maior, não deixa por menos: “Nisso sou radical. Não podemos, de forma nenhuma, permitir”. Ele lembra que, em 1946, a Constituição brasileira pregava que a informação só poderia estar nas mãos de brasileiros natos. Nem se discutia propriedade. No livro de memórias Minha Razão de Viver, do jornalista Samuel Wainer, fundador do jornal Última Hora, há uma passagem sobre a campanha desencadeada contra ele pelos Diários Associados, de propriedade de Assis Chateaubriand, que davam como manchete “Wainer não nasceu no Brasil”, explicando que “ele nasceu na Bessarábia, chegando ao Brasil com dois anos”, como forma ardilosa de tirá-lo da concorrência.

“Aquela era uma época de jornais quase todos pobres, poucos tinham importância, os jornalistas ganhavam pouco e não havia mercado. Então, não havia o interesse internacional”, conclui. A Constituição de 1988 foi mais pragmática, permitindo que quem está no Brasil há mais de 10 anos também possa atuar no setor. E agora as mudanças que estão sendo votadas na Câmara vão além disso.

“Estamos lutando pela nossa identidade nacional”, destaca Santayanna, acrescentando que as dificuldades vistas hoje tendem a aumentar. “Já estamos com dificuldades: TVs só com enlatados, poucos jornais podem manter correspondentes no exterior. A aprovação dessa lei será o desastre total”. Para ele, o problema é que hoje a informação é ditada pelos interesses econômicos e o jornal tornou-se apenas um apêndice de outros negócios.

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