MOVIMENTO

Audiência pública em Porto Alegre condena medidas do governo federal

Por Flávio Ilha, com fotos de Igor Sperotto / Publicado em 11 de novembro de 2016

Audiência pública em Porto Alegre condena medidas do governo federal

Foto: Igor Sperotto

Uma audiência pública que reuniu centenas de pessoas na tarde desta sexta-feira, 11, e que lotou o Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, condenou as medidas de ajuste do governo de Michel Temer contidas na PEC 241/55 e a medida provisória 746.

O ato reuniu parlamentares, estudantes, professores, servidores públicos e os reitores dos três institutos federais no Estado. A audiência foi precedida de uma caminhada de manifestantes pelas ruas centrais de Capital. Não houve confronto com a Polícia.

O balanço dos reitores, apresentado durante a audiência, indicou que há 13 campi ocupados no Estado em protesto contra as medidas de ajuste. A reitora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha, Carla Jardim, apelou que o governo “abra o diálogo” para evitar prejuízos às atividades acadêmicas. O reitor em exercício do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Hamilton de Moura Figueiredo, foi mais longe. “Estamos aqui para defender a educação pública de qualidade desse governo arrogante, que usa a arrogância da maioria parlamentar para golpear o ensino”, disse.

O presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), Marcelo Bender, informou que as medidas de ajuste fiscal ameaçam retirar R$ 1,4 bilhão do orçamento das instituições já em 2017 apenas para despesas de custeio. “As necessidades da estrutura dos institutos federais exigem um investimento de pelo menos R$ 3,5 bilhões, mas o governo nos ofereceu apenas R$ 2,1 bilhões. Com esse cenário, vamos voltar ao nível de 2012 quando nossa estrutura era muito menor”, disse.

Segundo ele, é real a possibilidade do fechamento de unidades no Rio Grande do Sul. Bender citou pelo menos cinco instituições que correm risco caso não haja repasse de recursos. Todas abertas em 2014 e que ainda estão em fase de estruturação. “Se isso ocorrer, o prejuízo para as comunidades será imenso. Em algumas regiões, são as únicas estruturas federais de ensino”, comparou.

Dia de Paralisações
Na Capital gaúcha, um ato público na Esquina Democrática encerrou as manifestações do dia nacional de paralisação, convocado pelas centrais sindicais como protesto à PEC 241/55, à proposta de reforma da Previdência e aos projetos que precarizam as condições de trabalho, como a terceirização da atividade-fim.

Audiência pública em Porto Alegre condena medidas do governo federal

Ato Público em Porto Alegre

Foto: Igor Sperotto

A manifestação contou com mais de 10 mil pessoas entre estudantes, servidores públicos, professores do ensino privado, sindicalistas, artistas e integrantes dos mais diferentes grupos do movimento social, que saíram em caminhada pelas ruas centrais e bairros próximos.

A manhã em Porto Alegre foi marcada pela violência de tropas da Brigada Militar (BM) contra estudantes  estudantes e trabalhadores que protestavam em várias regiões da cidade. A ação começou ainda de madrugada, quando a Polícia ocupou a entrada das garagens da Carris e da Sudeste e impediu piquetes. Também houve relato de repressão policial em frente à garagem da Nortran, que atende à zona norte de Porto Alegre. A BM ocupou a frente das garagens a partir da meia-noite.

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), onde mais de 15 unidades seguem ocupadas pelos estudantes, foram registrados conflitos entre estudantes e BM. No início da manhã, no campus do Vale, estudantes que tentavam realizar uma caminhada pela avenida Bento Gonçalves foram atacados com bombas de gás.

Um grupo de estudantes que protestava na avenida Ipiranga também foi atacado pela Brigada Militar. Os estudantes tiveram de se abrigar no campus da Saúde. Outro conflito ocorreu em frente à faculdade de Arquitetura, no campus central, também pela manhã. O conflito mais grave ocorreu quando os policiais jogaram bombas de gás contra o campus da universidade e usaram balas de borracha para dispersar estudantes e servidores que realizavam a manifestação. A servidora Érica dos Santos, que trabalha na creche da Universidade, foi atingida por uma bala de borracha na perna esquerda.

Mobilização
Atos, bloqueio de ruas e estradas, caminhadas e aulas públicas marcaram as manifestações no interior do Estado. Escolas públicas e privadas adeririam à paralisação. Os professores também protestam contra a Medida Provisória 746, que reforma o ensino médio, e os projetos de lei que tentam impor restrições à liberdade de cátedra dos docentes.

Somente na Capital 13 escolas particulares fecharam as portas com a decisão dos professores pela adesão à greve. Entre as instituições de ensino privado que pararam estão colégios tradicionais como Anchieta, Bom Conselho, João XXIII, Projeto, Monteiro Lobato, Santo Inácio e Instituto São Francisco. Em Uruguaiana, na fronteira oeste do Estado, todas as instituições privadas não funcionaram; e, em Rio Grande, na zona sul, 17 aderiram à paralisação. Docentes de universidades privadas também pararam em Santo Ângelo, Canoas, Pelotas e Cruz Alta.

Em Pelotas e em Rio Grande a greve atingiu as empresas de transporte, que interromperam a circulação de ônibus a partir das 3h30. A situação começou a se normalizar a partir das 11h. Na RS 734, que liga Rio Grande do balneário Cassino, estudantes da Fundação Universidade de Rio Grande (Furg) bloquearam o ingresso ao campus a partir das 7h. Na BR 392, entre Pelotas e Rio Grande, houve queima de pneus em pelo menos três pontos. A Furg e o Instituto Federal de Rio Grande suspenderam as aulas. Também não houve aulas na rede pública das duas cidades.

Em Pelotas, técnicos, professores e estudantes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) já estavam em greve. O Instituto Federal Sul-Riograndense (IFSul) e o campus Visconde da Graça (CAVG) não tiveram aulas. Professores da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) pararam.

Audiência pública em Porto Alegre condena medidas do governo federal

Trabalhadores mobilizados em Passo Fundo

Foto: divulgação Sinpro/RS

Houve manifestações também em Passo Fundo, Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Bagé, Bento Gonçalves, Ijuí, Santa Rosa, Caxias do Sul.

Confira imagens da mobilização em Porto Alegre

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