Trabalhadores gaúchos aderem à greve de fome contra a reforma da Previdência
Foto: Caco Argemi/ALRS
A partir das 10h30min desta quarta-feira, um grupo de dez trabalhadores urbanos e rurais do Rio Grande do Sul aderiu ao um movimento nacional de greve de fome contra a reforma da Previdência proposta pelo governo de Michel Temer (PMDB), projeto que pode ser votado em plenário na Câmara dos Deputados no dia 18 de dezembro. A manifestação ocorreu na esplanada da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Entre os grevistas estão militantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Levante Popular da Juventude, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Frente Brasil Popular, FeteeSul, Pastorais Sociais da CNBB, pelo Serviço de Justiça, Paz e Integridade e a Província Franciscana do Rio Grande do Sul. De acordo com o MST e o MPA, o jejum deve durar até a data prevista para a votação do projeto.
Foto: Caco Argemi/ALRS
A deputada Stela Farias e os deputados Tarcísio Zimmermann, Jeferson Fernandes, Nelsinho Metalúrgico, Altermir Tortelli e Adão Villaverde, da bancada do PT, aderiram ao jejum. “Aqueles que foram pedir os votos dos trabalhadores e produtores rurais para seus deputados têm por obrigação pegar o telefone, fazer um contato e dizer que são contrários à reforma da previdência. Quem se portar contra a classe trabalhadora e ficar do lado do capital e do sistema financeiro a história haverá de cobrar o pagamento desta conta política”, enfatizou o presidente da Assembleia, Edegar Pretto (PT).
O parlamentar lembrou que seu pai, o ex-deputado Adão Pretto, foi o primeiro colono eleito para a Assembleia gaúcha e disse que “não seria digno” desse legado, “se nessa hora eu cruzasse os braços e não estivesse aqui, mesmo em que pese ser o chefe de um Poder. Não estou dizendo apenas que sou contra essa reforma, mas também chamando à responsabilidade deputados e deputadas estaduais que têm suas relações com parlamentares federais, com senadores e senadoras para que também se levantem contra a proposta”, ressaltou.
Em sua manifestação de apoio ao movimento, o bispo Dom Adilson Busin, da Arquidiocese de Porto Alegre, natural de Sarandi e filho de pequenos agricultores, afirmou que o lugar da Igreja é “onde estiver o povo que sofre e luta”. “Essa reforma é sim uma violência contra a sociedade. Estamos junto nessa caminhada em defesa da vida e dos nossos direitos, na superação de todas as violências, sejam as físicas ou sociais”, destacou. Dom Humberto Maiztegui Gonçalves, da Igreja Anglicana, membro do Fórum Interreligioso e Ecumênico em Defesa da Democracia, Diversidade e Direitos, afirmou “que a fome de hoje, que se inicia neste momento, seja aquilo que nos sacie no futuro. Hoje se faz greve de fome para que o povo não venha a passar fome, para que não haja escravidão. A Previdência já estava mal com o Fator Previdenciário e agora querem escravizar ainda mais a população, querem que a gente morra trabalhando”, disse.
A mobilização integra o movimento iniciado no dia 5, em Brasília, em que três agricultores iniciaram a greve de fome no Salão Verde da Câmara e receberam a adesão de outros manifestantes (Leia reportagem do Extra Classe). Trabalhadores rurais também iniciaram um jejum na Assembleia Legislativa de Sergipe. A vigília Dias de Fome Contra a Reforma da Previdência, na Assembleia Legislativa de SC reúne militantes do MMC/SC, MPA/SC, MAB/SC e MST/SC, que receberam pela manhã o apoio do Levante Popular da Juventude.
Foto: MPA/ Divulgação
REFORMA DA MORTE – Desde que iniciou a greve de fome no país, entidades e movimentos populares denunciam que as recentes notícias da proposição do relator da Reforma da Previdência, Arthur Maia (PPS-BA), de retirar os trabalhadores rurais da proposta encaminhada para votação não se confirma. De acordo com o militante do MPA, Maister da Silva, a reforma acaba com direitos que foram conquistados com muita mobilização social e que até então estão assegurados na Constituição de 1988. “Eles querem retirar a nossa condição de segurado especial, alterar a idade mínima para aposentadoria e excluir a maioria dos agricultores da Previdência. A vida útil do trabalhador rural não vai alcançar até a época dele se aposentar. É uma reforma da morte, porque vai condenar muitos camponeses à morte no Brasil”, ressalta. Roberta Coimbra, dirigente do MST, afirma que a proposta de Temer penaliza principalmente as mulheres rurais, que carregam uma jornada tripla de trabalho dividida entre os cuidados da casa, da família e da lavoura. “As mulheres sempre tiveram dificuldades no tema da Previdência. Faz pouco tempo que conquistamos o direito à aposentadoria pelo ofício do trabalho, antes recebíamos uma pensão após a morte do marido. Mas ainda hoje somos as mais prejudicadas em relação aos direitos. O aumento da idade mínima mostra que as mulheres camponesas trabalharão até a morte sem se aposentar”, alerta.
PRESSÃO – Um calendário 2018 de parede lançado pela CUT-RS no início da semana exibe as fotos, nomes e partidos dos deputados e senadores gaúchos que votaram a favor da reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017). O projeto, apresentado por Temer foi aprovado por maioria na Câmara em 26 de abril e, no Senado, em 11 de julho, sendo sancionado às pressas para vigorar a partir de 11 de novembro. O material já está disponível para download na seção Publicações do site da CUT-RS, onde os sindicatos e as federações filiadas poderão baixar, colocar a sua logomarca e fazer a distribuição aos trabalhadores neste período de fim de ano. “Não podemos esquecer, principalmente na hora da eleição em 2018, os deputados e senadores do Rio Grande do Sul que ficaram do lado dos interesses dos golpistas, rasgando a CLT e precarizando o mundo do trabalho”, destaca Claudir Nespolo, presidente da CUT-RS. Já a reforma da Previdência altera mais de cem itens da CLT, e anula direitos conquistados pela classe trabalhadora ao longo da história, lembra o dirigente. “As alterações foram feitas sob encomenda das grandes federações empresariais para aumentar os lucros das empresas, tentar enfraquecer as entidades sindicais e desmontar a Justiça do Trabalho, prejudicando os trabalhadores”.