MOVIMENTO

Orgânicos, diversão e arte

MST inaugura mais quatro lojas do Armazém do Campo, espaços para comercialização de produtos da reforma agrária, promoção de atividades culturais, debates e oficinas de gastronomia
Por Gilson Camargo / Publicado em 21 de dezembro de 2018
Espaço para venda de produtos agroecológicos dos assentamentos da reforma agrária, o Armazém do Campo foi inaugurado na Lapa em setembro e terá mais quatro unidades no país até março de 2019

Foto: Pablo Vergara/ MST/ Divulgação

Espaço para venda de produtos agroecológicos dos assentamentos da reforma agrária, o Armazém do Campo foi inaugurado na Lapa em setembro e terá mais quatro unidades no país até março de 2019

Foto: Pablo Vergara/ MST/ Divulgação

As prateleiras lotadas evidenciam a diversidade da produção de alimentos nos assentamentos e das empresas parceiras, que oferecem legumes, frutas e verduras frescas, mel, leite, arroz, feijão, achocolatados, pães, cereais, embutidos. As paredes dos armazéns são espaço para a exibição de pinturas de artistas populares que assinalam, para além da comercialização dos produtos da reforma agrária, esse é um espaço para a promoção de atividades culturais como lançamento de livros, debates, oficinas. E comida saudável. “A esquerda precisa recuperar formas mais alegres e culturais de fazer política. O povo quer música, teatro, trabalho, comida, renda”, explica João Pedro Stédile, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Armazém do Campo do Rio de Janeiro foi inaugurado em setembro, na Lapa, com arroz de carreteiro e ato à memória da vereadora Marielle Franco (PSol)

Foto: Pablo Vergara/ MST/ Divulgação

Foto: Pablo Vergara/ MST/ Divulgação

Armazém do Campo do Rio de Janeiro foi inaugurado em setembro, na Lapa, com arroz de carreteiro e ato à memória da vereadora Marielle Franco (PSol). A estratégia consiste em atrair a parcela da sociedade que prefere produtos orgânicos, produzidos a partir de princípios de sustentabilidade e associa a alimentação saudável ao contexto de resistência social. Além de Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, outras quatro cidades terão lojas do Armazém do Campo, com inauguração prevista até março de 2019: Recife (PE), São Luís (MA), Teixeira de Freitas (BA) e Bauru (SP). “São espaços para a comercialização dos produtos da reforma agrária, promoção da alimentação saudável, da cultura, do debate e do diálogo com a sociedade”, define Carla Guindani, coordenadora de produção e gerente de comercialização do MST.Os espaços fixos para comercialização dos produtos da reforma agrária fora das feiras agroecológicas surgiram a partir da Loja da Reforma Agrária no Mercado Público de Porto Alegre, inaugurada em janeiro de 2002. Já com a marca Armazém do Campo, o primeiro espaço foi aberto em julho de 2016, na região central de São Paulo.

“A esquerda precisa recuperar formas mais alegres e culturais de fazer política", aponta Stédile

Foto: Pablo Vergara/ MST/ Divulgação

“A esquerda precisa recuperar formas mais alegres e culturais de fazer política”, aponta Stédile

Foto: Pablo Vergara/ MST/ Divulgação

Outras duas lojas foram inauguradas em 2018, em Belo Horizonte, no começo de abril, e na Lapa, Rio de Janeiro, em setembro. Na programação de abertura da unidade do Rio, o almoço foi um arroz carreteiro preparado por Stédile, que recordou as carreteadas do avô entre Antônio Prado, no Rio Grande do Sul e Sorocaba, em São Paulo, transportando carnes e mercadorias. “Essa loja é fruto da luta pela terra que norteia o MST. A partir dela, os trabalhadores urbanos têm contato com a produção que resulta da luta no campo. O Armazém cumpre o objetivo de proporcionar o acesso à produção dos assentamentos da reforma agrária, também de fazer o diálogo em torno da alimentação saudável, além de ser espaço das manifestações culturais. Com as diversas atrações que teremos, as pessoas podem se encontrar aqui e ocupar esse ambiente. É uma loja de todos nós, trabalhadores. Queremos que seja construída no dia a dia”, explicou Ademar Suptitz, coordenador do Armazém do Campo.

PRODUÇÃO – Os agricultores familiares e assentados da reforma agrária são os dois principais grupos responsáveis pelo aumento da produção de alimentos orgânicos no país, modo de produção que aumentou a área plantada duas vezes e meia nos últimos oito anos e vem agregando cerca de duas mil propriedades por ano. A Coordenação de Agroecologia (Coagre) da Secretaria de

Foto: MST/ Divulgação

Foto: MST/ Divulgação

Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) registrou 17.420 unidades voltadas para a produção agroecológica em 2018, ante 15,7 mil unidades em 2017 e 6,7 mil em 2013.

Do total de produtores registrados no Cadastro Nacional de Agricultores Orgânicos (CNPO) em 2018, 80% são classificados como produtores familiares, a maioria agricultores dos assentamentos da reforma agrária. “Os assentados da reforma agrária são os maiores incentivadores da produção orgânica, que se caracteriza pelo cultivo de alimentos com qualidade e preços acessíveis”, avalia a especialista em políticas públicas e gestão governamental da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) Suiá Rocha.

Identificado com a agricultura familiar, o MST já é o maior produtor de orgânicos do país em culturas como a do arroz sem agrotóxicos nos assentamentos do RS. Na safra de 2017/2018, a colheita atingiu 27 mil toneladas.

Para a safra 2018/2019, a meta das famílias é colher pelo menos 320 mil sacas de grãos de arroz orgânico, numa área de cerca de 3,3 mil hectares e em 16 assentamentos situados em 13 municípios das regiões Metropolitana de Porto Alegre, Carbonífera, Campanha e Fronteira Oeste. Já a estimativa para sementes é colher 12 mil sacas em 110 hectares.

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