MOVIMENTO

Integrante do MST é morto em manifestação

Sem-terra distribuíam alimentos em ato contra corte de água pela prefeitura quando foram atingidos por caminhonete junto ao acampamento Marielle Vive, no interior de São Paulo
Por Gilson Camargo / Publicado em 18 de julho de 2019
O assentamento em fazenda improdutiva teve o abastecimento de água cortado pela Prefeitura e agora manifestantes foram alvo de atentado

Foto: Mídia Ninja

O assentamento em fazenda improdutiva teve o abastecimento de água cortado pela Prefeitura e agora manifestantes foram alvo de atentado

Foto: Mídia Ninja

Luiz Ferreira da Costa, de 72 anos, integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) morreu ao ser atingido por uma caminhonete que invadiu o acampamento Marielle Vive, na Estrada do Jequitibá, Km 7, em Valinhos, interior de São Paulo, na manhã desta quinta-feira, 18. Outras cinco pessoas ficaram feridas. O motorista fugiu do local.

De acordo com testemunhas, ele jogou o veículo de forma deliberada sobre um grupo de sem-terra que participava de manifestação com distribuição de alimentos aos acampados. O objetivo do ato era pressionar a prefeitura a suspender o corte no fornecimento de água aos acampados. Outras cinco pessoas, entre as quais um jornalista que registrava a manifestação, ficaram feridas. Em nota, a coordenação nacional do MST informou que o atropelamento foi intencional e alertou para o clima de ódio disseminado contra os movimentos sociais. “Exigimos punição imediata a este assassino, que age sob o clima de terror contra os movimentos populares, incentivado por autoridades irresponsáveis dos que estão no governo brasileiro”, diz o comunicado. O local foi isolado pelas polícias militar e civil e guarda municipal. Ao menos duas pessoas deram entrada no sistema de saúde municipal. Além de Luiz Ferreira da Costa, que não resistiu aos ferimentos, o jornalista Filipe Tavares, de 59 anos, sofreu escoriações e passou por exames na UPA.

ARMADO – O motorista, que de acordo com testemunhas atingiu os sem-terra de forma intencional, estava armado e ameaçou manifestantes que tentaram impedir que ele fugisse do local. “O protesto ocorria em frente ao acampamento. É uma estrada movimentada, mas eles estavam ali em denúncia à situação de falta de fornecimento de água no acampamento, distribuindo alimentos da reforma agrária e panfletos para os carros que passavam”, informou Kelli Mafort, integrante da coordenação do MST. “Nós já temos a descrição da caminhonete, mas vai ser fácil a identificação da placa do carro e do assassino do Luiz. A estrada é toda cercada de câmeras de segurança”. A polícia civil instaurou inquérito por homicídio simples e lesão corporal junto à 1ª DP de Valinhos

ASSENTAMENTO – O MST vinha denunciando o descaso e grave violação dos direitos humanos por parte da Prefeitura, que vem negando, por mais de um ano, o abastecimento de água às famílias sem-terra do assentamento Marielle Vive.

O acampamento abriga mais de mil famílias desde 14 de abril de 2018, na Fazenda Eldorado Empreendimentos, reconhecida como área improdutiva pelo judiciário. Em dezembro do ano passado, a 37ª Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a suspensão de reintegração de posse solicitada pelos antigos proprietários da fazenda, acatando recurso do MST alegando que “a fazenda ocupada estava abandonada, improdutiva, a serviço da especulação imobiliária e sem cumprir sua função social, por isso é exigido que essas terras sejam destinadas a Reforma Agrária, respeitando os artigos da Constituição brasileira”.

De acordo com o movimento, a empresa Eldorado Empreendimentos foi denunciada por não cumprir da função social da terra, o que legitima a criação de um assentamento rural. A proposta do MST é construir um assentamento agroecológico, para a produção de alimentos orgânicos e saudáveis para Valinhos e região. “A implantação do assentamento possibilitará a geração de renda das famílias, o cuidado com o meio ambiente, fortalecimento da economia interna e desenvolvimento regional”, ressalta um comunicado da entidade anterior ao ataque desta manhã.

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