MOVIMENTO

MST denuncia ofensiva de vereadores e prefeitura contra assentados em Candiota

Na região da Campanha, 2,2 mil famílias de assentados da reforma agrária denunciam mobilização de vereadores bolsonaristas e ação da prefeitura com escolta da Brigada Militar em assentamento
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 23 de março de 2023

Imagem: MST/RS/ Divulgação

Escavadeira utilizada para abertura de açudes no assentamento João Antônio, em Candiota, foi recolhida pela prefeitura com escolta da Brigada Militar

Imagem: MST/RS/ Divulgação

A direção do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra do Rio Grande do Sul (MST/RS) e agricultores familiares da região da campanha repudiaram em nota pública a ação de vereadores, da prefeitura e de policiais militares contra os assentados do movimento na cidade de Candiota, na região sul do estado, próximo à fronteira com o Uruguai.

Os trabalhadores rurais denunciam que houve manifestações de preconceito e discriminação contra os sem-terra em uma reunião de vereadores de Aceguá, Bagé, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra e Pinheiro Machado.

Nesses encontros, os vereadores se mobilizaram para pedir ações do governo do estado contra supostas ocupações de terras pelo MST.

No outro episódio, uma máquina utilizada para a construção e limpeza de açudes no assentamento de Companheiro João Antônio foi retirada do local por ordem da prefeitura com uma escolta da Brigada Militar.

O equipamento da prefeitura de Candiota, segundo o documento, acabou não atendendo a demanda de 14 famílias que sofrem devido à grande estiagem na localidade.

Ouvida pelo Extra Classe, uma liderança que pede para não se identificar para evitar retaliações entende que os fatos foram desrespeitosos contra pequenos agricultores.

“Como que vereadores se juntaram aqui nessa ‘frente parlamentar’ para dizer que vão botar no campo a polícia contra ocupações sem nenhum tipo de informação concreta?”, questiona ela, referindo-se à chamada Frente Parlamentar de Segurança no Campo, criada sob inspirações bolsonaristas na região.

Produzindo alimentos em meio a latifúndios 

De acordo com a nota do MST, são trabalhadores que além de produzirem, pagam impostos, geram renda e desenvolvimento para a região através de recursos públicos destinados às políticas de reforma agrária.

Ao contrário dos latifúndios da região, que têm como cultura predominantemente a soja, os assentamentos da região da Campanha formam uma localidade que é considerada uma grande bacia leiteira.

Segundo dados apresentados por uma pequena agricultora local que também solicitou anonimato, somente a produção de leite por 200 famílias assentadas faz uma circulação de recursos entre R$ 500 mil e R$ 600 mil reais por mês.

“Já foi mais”, diz ela. “Algo em torno de R$ 800 mil a R$ 1 milhão”. A redução se deu pelo impacto da seca, que fez a produção baixar.

“São muitos assentamentos e bastante produção de leite aqui”, relata.

Os assentados da Reforma Agrária na região são cerca de 2,2 mil famílias que, além da majoritária presença do leite, também se dedicam à pecuária, com gado de corte, e ovinocultura.

Também há produção de sementes, cereais e grãos nos assentamentos.

Foi na região da Campanha, mais especificamente nos municípios de Candiota e Hulha Negra, que se iniciou a Rede de Sementes Agroecológicas BioNatur.

A Bionatur é uma cooperativa de assentados pela Reforma Agrária que são produtores de sementes de diversas espécies de hortaliças, plantas ornamentais, forrageiras e grãos.

Com bases em sistemas de produção agroecológica, a cooperativa iniciou com 12 famílias e hoje congrega mais de 350 nos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Em agosto de 2017, O MST e a Cooperativa de Produção, Trabalho e Integração (Coptil) inauguraram no assentamento Conquista da Fronteira, em Hulha Negra, uma unidade de recebimento, secagem e armazenagem de grãos e uma agroindústria de processamento de vegetais com capacidade para receber 32 toneladas por hora e para armazenar 30 mil sacas de grãos.

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