MOVIMENTO

Exposição marca mês da visibilidade trans na Galeria Ecarta

A exposição pode ser visitada na Fundação Ecarta até 28 de janeiro, de terça a domingo, das 10h às 18h, com entrada franca
Por Nicoly Owicki / Publicado em 8 de janeiro de 2024
Exposição marca mês da visibilidade trans na Galeria Ecarta

Foto Lúcio Tavora

Marina Reidel é professora e artista transexual. Aborda atrvés da arte agressões sofridas pelas pessoas trans na sociedade

Foto Lúcio Tavora

A exposição Corporeidade trans: fragmentos cotidianos está em cartaz no projeto Professor Artista/Artista Professor, com obras da professora, artista, pesquisadora e ativista Marina Reidel.

Por meio da arte, Marina aborda as agressões sofridas pelas pessoas trans na sociedade. O Brasil é o país que mais mata transexuais, ao mesmo tempo em que lidera o consumo de pornografia trans.

A artista apresenta uma instalação composta por objetos, oratórios e capelas, convidando a perceber cenas do cotidiano destes corpos violentados socialmente numa espécie de Via Crucis contemporânea.

A mostra é uma das exposições em cartaz na Fundação Ecarta até 28 de janeiro, de terça a domingo, das 10h às 18h, no térreo da Fundação (Avenida João Pessoa, 943).

Também podem ser visitadas outras duas exposições que estão em cartaz, reunindo peças de 23 ceramistas do Bando de Barro, além da mostra El Tendedero, no Projeto Potência, trazendo a interação com a temática feminista.

A exposição Corporeidade trans: fragmentos cotidianos, soma-se ao calendário do mês dedicado à visibilidade e a importância da luta pela garantia dos direitos das pessoas trans. O Dia Nacional da Visibilidade Trans é comemorado em 29 de janeiro.

Em vigor desde 2004, a data busca a sensibilização da sociedade por mais conhecimento e reconhecimento das identidades de gênero, para combater os estigmas e a violência sofridos pela população transexual e travesti.

Marina Reidel é uma artista transexual, licenciada em Artes Visuais pela Universidade Feevale, pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Castelo Branco do Rio de Janeiro e mestra em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora arte-educadora da Fundarte em Montenegro e Supervisora Escolar da Escola Estadual Especial Renascença em Porto Alegre.

Além da sua carreira de 33 anos como professora, Marina já atuou como gestora da política LGBT do Rio Grande do Sul e, nos últimos seis anos, foi diretora do Departamento LGBT do governo federal.

Coordenadora LGBTQIA+ do Fundo Positivo e Secretaria da Igualdade do RS, a ativista social tem desenvolvido nos últimos anos, diversos trabalhos em artes visuais com os temas de direitos humanos e direitos LGBT.

“Esta performance corporal remete ao processo cultural de violência cotidiana que se reproduz nos espaços da sociedade todo o tempo”, pontua.

Na exposição, ela convida a vivenciar e perceber cenas do cotidiano de pessoas trans, narrativas de vidas e corpos que na maioria das vezes são negados e violentados socialmente.

“Estes fragmentos pretendem provocar uma reflexão a partir do meu universo e do cotidiano, trazendo as marcas de vidas com os corpos que insistem em resistir”, completa.

A ativista ressalta que a exclusão social faz com que a prostituição se converta em espaço de sobrevivência.

Violência e prostituição

Em uma pesquisa com 1.788 pessoas trans em São Paulo, o destaque é a parcela elevada de travestis (46%) e de mulheres trans (34%) que se declararam profissionais do sexo, acompanhantes e garotas de programa.

Entre os homens trans, praticamente, não existe a ocorrência de pessoas que se declaram profissionais do sexo e, para as não binárias, o índice foi de 3%.

Considerando as entrevistadas que se declaram garotas de programa, 74% já sofreram violência física constatou o Mapeamento de Pessoas Trans na Cidade de São Paulo realizado pelo Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec) junto à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo (SMDHC), em 2021.

Evasão escolar e ciclo de exclusão

Crianças e adolescentes trans sofrem violência doméstica e são até mesmo expulsos de casa por suas famílias.

O preconceito no ambiente escolar e por vezes na própria família, a evasão escolar é recorrente, o que fortalece o ciclo vicioso de exclusão social e do mercado de trabalho pela falta de acesso à educação e pelo preconceito.

A prostituição acaba sendo um dos poucos meios de sobrevivência para 90% da população trans no país.

Em uma pesquisa feita pela Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABLGBT), 45% dos estudantes afirmam que já se sentiram inseguros devido à sua identidade de gênero no ambiente escolar. E ainda, com pequenas variações, de 70% a 85% da população trans já teriam abandonado a escola pelo menos uma vez na vida.

Comentários