OPINIÃO

Professor: uma profissão estressante

Eduardo Augusto Remor / Publicado em 6 de março de 1998

O stress com seus antecedentes e conseqüentes, vem sendo estudado cada vez mais nas diferentes áreas, a área profissional está entre elas. Diversas profissões tem sido consideradas estressantes, uma delas é a de Professor.

Acredita-se que a razão para este fato é a necessidade de interrelações com outras pessoas no desempenho da função – incluindo, muitas vezes, o papel mediador entre o aluno e os pais, a escola e os pais, diferentes instâncias da escola e a direção – sem deixar de considerar os aspectos de formação, políticos, econômicos, culturais e individuais (por exemplo: a percepção subjetiva de que a demanda excede aos recursos pessoais de afrontamento, ou variação da motivação em função da atividade, entre outros).

Sabe-se que diferentes fatores externos ao professor podem contribuir para o stress profissional, mas também que ele próprio pode agravar ou minimizar este, em decorrência da forma como ele afronta ou interpreta os eventos estressantes.

Quando falo em stress profissional, quero referir-me especificamente ao que se denominou Síndrome do burn out (ou Síndrome do “Queimado”), descrito como um estado de debilitamento psicológico causado por circunstâncias relativas às atividades profissionais que ocasionam sintomas físicos, comportamentais, afetivos e cognitivos, inicialmente observados e mais amplamente estudados nos profissionais de saúde que realizam uma labor assistencial, caracterizada por uma atenção intensa e prolongada com pessoas que estão em uma situação de ‘necessidade’ ou de ‘dependência’.

Portanto, Síndrome do burn out – no que se refere aos professores – pode ser definido como um stress crônico produzido pelo contato com a demanda escolar, a qual leva a uma extenuação e um distanciamento emocional com os beneficiários do seu trabalho e uma perda gradual da preocupação e de todo sentimento emocional em relação às pessoas com as quais trabalha e que direciona a um isolamento ou desumanização.

O modelo de progressão em direção ao Síndrome do burn out, de acordo com alguns autores, estaria composto pelas seguintes etapas: (a) fase de idealismo e entusiasmo, com expectativas excessivas a respeito dos possíveis logros no trabalho, (b) fase de progressivo estancamento e decaimento a respeito das expectativas e resultados iniciais, (c) fase de frustração e decepção, e (d) fase de apatia, despersonalização e atitudes negativas frente ao trabalho. É importante destacar que estas fases ou etapas ocorrem de uma forma cíclica e não linear.

As conseqüências deste processo são o esgotamento psicológico, despersonalização dos profissionais afetados, e disfunções no desempenho profissional (ou abandono da realização pessoal), além das possíveis complicações de saúde decorrentes do stress crônico e deterioração da qualidade de vida.

Tendo em vista a relevância e conseqüências destes fatos, devemos considerar a importância de intervir desde uma perspectiva preventiva neste e outros possíveis transtornos relacionados ao labor do professor. Tomando medidas para o desenvolvimento de programas de prevenção da Síndrome do burn out – onde deve-se trabalhar a fortificação da informação sobre os aspectos carências do professor; treinar habilidades de auto-controle (temores pessoais, auto-estima, identificação de pensamentos negativos) e do controle do stress; formação em habilidades de comunicação e utilização do apoio social (equipe, comunidade).

Para finalizar, fica o alerta e a crença de que estes poderiam ser os primeiros passos para afrontar o stress profissional, decorrente da labor do professor, na tentativa da melhora do bem-estar e da qualidade de vida dos professores.

* Eduardo Augusto Remor é psicólogo clínico, especialista em Terapia Cognitivo-comportamental dos Transtornos de Ansiedade e Depressão, especialista em Promoção e Educação para Saúde, doutorando em Psicologia da Saúde, na Universidad Autónoma de Madrid/Espanha. Porto Alegre.

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