OPINIÃO

Na pressão

O Editor / Publicado em 24 de setembro de 1999

Andavam dizendo que o Extra Classe dava atenção demais a assuntos pesados, as matérias não apontavam solução nenhuma para as eternas crises, que resolvemos mudar um pouco de assunto. É assim mesmo que funciona o jornalismo: sob pressão. Se gostam do jornal, mas consideram- no excessivamente sério, lá vamos nós levantar as boas notícias que nos rondam para falar também um pouco delas.

E foi isso que a repórter Dóris Fialcoff fez durante todo o mês de agosto. Ela foi ouvir as histórias desses obstinados inventores que usam a criatividade para criar um mundo novo e, com isso, apontar a todos nós o caminho. É a perseverança. A obstinação. A vontade. Em alguma dimensão, a própria teimosia. Nada melhor que falar dessas características – presentes na maioria de nós, mas trabalhada por poucos – para mudar um pouco de rumo.

O panorama que a repórter traçou, no entanto, não pôde diferir muito do quadro de dificuldade que tem rondado as reportagens do Extra Classe. Enquanto sobra criatividade a nossos inventores, falta apoio para as engenhocas saírem das planilhas. E olhem que não estamos falando de inventos mirabolantes. Não. Nossos homens e mulheres de idéias estão ocupados em facilitar a vida das pessoas, em tornar o cotidiano mais simples, em avançar na tarefa que todos temos de construir um mundo melhor. Mas, ainda assim, custa muito a governos e empresários acreditar nessas boas intenções.

O resultado pode ser acompanhado em quatro páginas, onde o leitor poderá encontrar também um quadro com os inventos que deverão ser encontrados no mercado já a partir do ano que vem. Não estamos falando de inventar um carro voador ou coisa que o valha. São inventos saídos das cabeças de nossos inquietos pesquisadores, que na maioria das vezes nem passam pelas universidades mas que se mostram mais úteis que anos de pesquisa teórica. A reportagem aborda também essa questão: como conciliar a rigidez e a formalidade da pesquisa cientiífica com a liberdade e o improviso próprios da invenção tecnológica?

Mas não temos só isso. O Extra Classe lembra também dos 20 anos da anistia e entrevista dois intelectuais da cultura gaúcha que falam sobre um mito: o homem do pampa. Paixão Côrtes e Vítor Ramil têm em comum apenas o fato de fazerem de seu trabalho um mergulho no cotidiano, na história e na fascinante trajetória de um povo marcado pelas suas lutas e pela sua geografia. São visões que acrescentam densidade a uma data cada vez menos lembrada por nós, o 20 de setembro.

 

Comentários