OPINIÃO

Verdades de varejo

Publicado em 20 de novembro de 2001

As correspondências realmente já não oferecem segurança. Para os inimigos já não se manda pó-de-mico, é antraz mesmo, ou antrax para os gringos. A suspeita da inteligência norte-americana é que o pó partiu deles mesmos e que não teria relação com o Bin Laden, o satã da vez. Seria sofisticado demais para um árabe, dizem. Quem optou pelo correio eletrônico se viu as voltas, não com bactérias, mas com vírus mortais para os sistemas de computação. Os nomes parecem títulos de videogame: Sircam, Fun Love – surgem dezenas a cada semana. Durante o nosso fechamento desta edição fomos assolados por estas criaturinhas digitais, verdadeiras bombas-relógio executáveis. Sobrevivemos e mais um Extra Classe está nas ruas.

Mas o que fica é a total de sensação de insegurança, seja nas torres, no congresso americano, diante da tela do computador ou nas sinaleiras do centro de Porto Alegre. O que é agravado pela atitude cultural de viver fantasiosamente dentro com a sensação de invulnerabilidade. Os episódios dos últimos meses obrigaram as pessoas a pensar mais na finitude humana, pelo menos deveriam. Baudrillard em seu livro A Ilusão Vital (ver comentário no Extrato) constata que a ciência no mesmo momento que entrega a possibilidade de imortalidade, dá a deixa para que se repense a verdadeira necessidade de ser imortal.

No meio de tudo isso, a indústria da guerra, a indústria da informação, a indústria farmacêutica, a indústria de boatos. A verdade é vendida no varejo, no atacado, em pílulas de sabedoria e livros de auto-ajuda. Há verdades para todos os gostos, credos, opções sexuais. Há verdades para qualquer um e qualquer verdade que se queira. Tudo, no fim das contas é uma questão de ponto e vírgula, de palavras escolhidas ao gosto do freguês …ou do patrão.

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