OPINIÃO

Ruralistas investigados

Publicado em 12 de dezembro de 2016

No fechamento da última edição do ano, parlamentares da bancada ruralista trataram de tornar ainda mais contundente a reportagem de capa, que trata do envolvimento de deputados e senadores em uma ação permanente de incitação da violência contra as populações indígenas. Em uma reunião pública e aberta à imprensa, em uma mansão do Lago Sul, em Brasília, o líder da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Luís Carlos Heinze (PP/RS), assim como outros ruralistas, irritou-se com as perguntas sobre mudanças climáticas e mandou expulsar jornalistas da casa – onde acontecem os encontros semanais da FPA. É nesse local que são definidas as estratégias para pressionar as populações indígenas, vistas por esses parlamentares como obstáculo aos interesses expansionistas do agronegócio que eles defendem com unhas e dentes no Congresso – à base de projetos de supressão de direitos e contra a demarcação de terras.

Heinze e outros dois parlamentares gaúchos, o deputado Alceu Moreira (PMDB) e a senadora Ana Amélia Lemos (PP) são apontados como os principais articuladores da cultura de intolerância que a FPA nem faz mais questão de esconder e que tem como alvo indígenas, jornalistas e defensores dos direitos humanos. É o que mostra o relatório de 172 páginas do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), base da reportagem, que pede ao Ministério da Justiça a investigação de denúncias contra parlamentares da bancada ruralista por semearem o ódio aos indígenas entre os produtores. A investigação foi deflagrada após o assassinato de um bebê Kaingang na rodoviária de Imbituba (SC).

Além da Frente, que conta com 169 deputados e senadores, o Grupo de Trabalho denuncia agentes públicos e autoridades por agressões e declarações de conteúdo racista e violações aos direitos humanos relacionadas a conflitos fundiários, violência policial e aprisionamento de lideranças na região Sul. Heinze é o mesmo deputado que, em uma audiência pública na paróquia do município de Vicente Dutra, no norte do RS, em novembro de 2013, conclamou agricultores a usarem segurança armada para expulsar índios das terras que os latifundiários e pequenos produtores alegam ser de sua propriedade. Na audiência, Heinze destilou ainda mensagens de ódio às minorias, xenofobia e racismo: “quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta…”. Em suas andanças pelos estados do Sul, o líder da FPA e Moreira não economizam argumentos em seus discursos públicos e entrevistas a rádios de ruralistas incitando fazendeiros contra as comunidades indígenas – permanentemente sob tensão devido a um processo histórico em que pequenas propriedades acabam indo para as mãos de latifundiários.

Boa leitura!

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