OPINIÃO

Quem ganhou e quem perdeu após segundo turno das eleições?

Outra marca do processo elei­toral, que já era esperada em função da pandemia do novo co­ronavírus, foi o elevado índice de abstenção
Por Marco Aurélio Weissheimer / Publicado em 8 de dezembro de 2020

São Paulo Sp 18 11 2020 Guilherme Boulos (PSOL) faz a primeira caminhada segundo turno no centro de São Paulo, acompanhado de Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PCdoB)

Foto Filipe Araújo/ Fotos Publicas

Foto Filipe Araújo/ Fotos Publicas

Os primeiros balanços sobre as eleições municipais deste ano, finalizadas no segundo turno realizado dia 29 de novembro, coincidem em torno de alguns pontos: a vitória de candidatos da direita tradicional nas principais cidades do país, a derrota de candidatos ligados diretamente ao presidente Jair Bolsonaro e o surgimento de uma articulação até então inédita no campo da esquerda, em várias capitais, com a emergência de novas e jovens lideranças em partidos como PSOL, PT e PCdoB. No segundo turno, foram disputadas eleições em 2º turno em 57 cidades e os resultados apontaram um predomínio da direita mais tradicional, que recuperou parte do espaço que havia perdido para o bolsonarismo. Os principais vencedores, do ponto de vista quantitativo, foram dez disputas  vencidas pelo MDB (10 vitórias) , PSDB (8) e Podemos (7).

PT não elegeu prefeitos em capitais

No campo da esquerda, pela primeira vez, o PT não elegeu nenhum prefeito nas capitais. Em 2016, o PT havia eleito só um prefeito de capital, em Rio Branco, no Acre. Marcus Alexandre, o prefeito eleito naquela ocasião, renunciou em 2018. Por outro lado, o partido conseguiu quatro vitórias entre as cem maiores cidades do Brasil: José de Filippi Jr., em Diadema (SP),  Marília Campos, em Contagem (MG); Margarida Salomão, em Juiz de Fora (MG); e Marcelo Oliveira, em Mauá (SP). Em 2016, o PT não havia conseguido nenhuma vitória neste grupo das cem maiores cidades.

Dez vereadores de esquerda em Porto Alegre

Em Porto Alegre, embora tenha perdido a eleição no segundo turno, a esquerda obteve uma vitória expressiva na Câmara Municipal, elegendo uma bancada de dez vereadores – 4 do PT, 4 do PSOL e 2 do PCdoB – fazendo 75 mil votos ao todo. Além disso, cinco dos dez vereadores mais votados em Porto Alegre são de esquerda, com destaque para Karen Santos (PSOL), a campeã de votos para o Legislativo da capital. Pela primeira vez, foi eleita uma bancada negra com quatro mulheres e um homem, todos jovens e representantes de uma nova geração de militantes do PSOL, do PT e do PCdoB.

Boulos cresce como liderança

Ainda no terreno da esquerda, a eleição municipal consolidou Guilherme Boulos (PSOL), que fez mais de 2 milhões de votos em São Paulo, como uma liderança nacional. Juntamente com Manuela D’Ávila (PCdoB) e Marília Arraes (PT), Boulos oxigena a esquerda, abrindo a possibilidade de construção de alianças e frentes que não se limitem à esfera eleitoral. Embora nenhum deles tenha conquistado a vitória em suas cidades, fizeram votações expressivas e saíram da eleição municipal como referências de caráter nacional.

Abstenção alta

Outra marca do processo eleitoral, que já era esperada em função da pandemia do novo coronavírus, foi o elevado índice de abstenção. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o índice médio de abstenção em nível nacional ficou próximo de 29,5%, maior taxa em duas décadas e meia. Em várias cidades, superou a casa de 30%, como foram os casos do Rio de Janeiro (35,45%), Porto Alegre (32,76%) e São Paulo (30,81%). Alguns dados de eleições anteriores para comparar a dimensão destes números: no primeiro turno deste ano, a média nacional foi de 23,14%; no segundo turno da eleição de 2016, foi de 21,55%, enquanto que, em 2012, foi de 19,12%. Em Porto Alegre, a soma da abstenção, votos brancos e nulos ficou acima de 394 mil votos, número superior aos votos feitos por Sebastião Melo (370.550) e Manuela D’Ávila (307.745). O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, reconheceu que a abstenção foi muito alta, mas considerou positivo o comparecimento médio de 70% do eleitorado levando em conta o contexto da pandemia de covid-19.

Bolsonarismo perde terreno, mas ainda é ameaça

Embora tenha perdido terreno, o bolsonarismo ainda tem força na sociedade. Vale a pena ter em mente o que João Paulo Rodrigues, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), disse ao jornal Brasil de Fato, ao fazer um rápido balanço sobre o segundo turno. Para João Paulo, o bolsonarismo segue sendo “uma ameaça consistente”, mesmo que “escondido” em partidos tradicionais. Até 2022, assinalou, veremos uma migração do Bolsonaro para os partidos do ‘centrão’, “que é uma reserva política dele para fazer um segundo mandato e nos atacar”.  Isso foi visto, por exemplo, em Porto Alegre, onde a campanha de Sebastião Melo abraçou o discurso anticomunista e largou carros de som pelas ruas da cidade dizendo que Porto Alegre “ia virar a Venezuela” e a população acabaria comendo “carne de cachorro” caso Manuela ganhasse a eleição.

 

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