OPINIÃO

O fim de Bolsonaro

Por Moisés Mendes / Publicado em 25 de março de 2021

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Bolsonaro pode fingir que ainda governa e seus aliados podem fingir que são por ele governados. Até os empresários, os banqueiros, os militares, os milicianos, os grileiros, todos os que sustentam Bolsonaro podem participar desse fingimento.

Mas Bolsonaro passa a ser uma representação de si mesmo, sem nenhum poder que não seja o de ceder poder aos outros que garantem sua sobrevida.

Bolsonaro está dependurado por dois fios, um amarrado ao Centrão e outro aos militares. Talvez continue assim até a eleição do ano que vem, fraco, rejeitado e quem sabe até sem chances de ir para um segundo turno. Se não cair antes.

Os empresários já abandonaram Bolsonaro e apenas dão a entender que estão com ele. Os economistas tucanos, os banqueiros, todos os que assinaram uma nota recente em que consideram Bolsonaro incapaz sabem que o sujeito não pode continuar governando.

A concessão feita é apenas a do tempo, para que alguma coisa aconteça, daqui a pouco ou mais adiante, que empurre Bolsonaro para a sarjeta da política. Antes, é preciso pensar numa solução alternativa.

Nesta quarta-feira, dia 24, uma semana depois do manifesto dos economistas e empresários tucanos, o presidente da Câmara, Arthur Lira, fez o mais forte gesto político de alerta a Bolsonaro.

Lira não falou de improviso, não cometeu um erro no impulso de uma fala não planejada. O deputado leu um longo discurso em que diz, depois de falar dos erros cometidos por Bolsonaro: “Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais”.

Lira reuniu-se com Bolsonaro no dia seguinte, para fazer a cena da reconciliação e da trégua. Foi protocolar, por acovardamento do advertido. O cenário geral é de retirada.

Bolsonaro talvez conte somente com o suporte fiel dos militares, mesmo que os militares muitas vezes apenas pareçam fieis, ou os golpes não existiriam.

Na quarta-feira em que realizou a reunião para forjar a formação de um comitê contra a pandemia, Bolsonaro se reuniu com todos os chefes militares, da Defesa, do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Pra quê? Para combinar as comemorações do 31 de março?

No mesmo dia à tarde, o general Braga Netto, chefe da Casa Civil, teve um mal súbito em Maceió, onde passava as férias. E na mesma quarta, enquanto o terraplanista Ernesto Araujo prestava depoimento no Senado, Filipe Martins, assessor diretor de Bolsonaro, fazia ali mesmo um sinal supremacista com os dedos.

Parece que são fatos que apenas dão sequência aos desatinos, mas agora a reação é mais forte. A sensação é de que o bolsonarismo, em todas as frentes, passou dos limites, mesmo que esse limite venha sendo ampliado há meses.

Bolsonaro sabotou o combate à pandemia, quebrou a economia, dividiu ainda mais o país com seu negacionismo e se jogou no colo do que existe de pior no Congresso.

Se a direita do Centrão o abandonar, sobrará para Bolsonaro o apoio dos generais. Bolsonaro não será derrubado pelo povo, porque o povo está quieto, encaramujado e resignado.

Quem pode derrubar Bolsonaro, sem tirá-lo do governo, é o capitalismo e os ex-parceiros da sua base política, com o Supremo e com tudo.

Não interessa mais aos capitalistas assegurar apoio a um Salles, a um Araujo ou a uma Damares, entre outras tantas aberrações.

Interessava ao capitalismo que existisse um Paulo Guedes, mas Guedes é fraco e medíocre e nada consegue, nem as reformas, nem as privatizações.

Bolsonaro foi uma gambiarra que a direita inventou, sem a chance de uma opção tucana, para derrotar as esquerdas. Nunca foi político, mas um miliciano avulso que ficou 27 anos no Congresso sem fazer nada.

Nunca foi do Centrão, nem do baixo clero. Bolsonaro sempre foi uma figura sem turma, de uma extrema direita à margem até do coronelismo. Nunca fez parte da estrutura do ultraconservadorismo organizado do Congresso.

Bolsonaro não era nem mesmo um dos 300 picaretas citados por Lula em 1993. Nem para picareta Bolsonaro servia.

O sujeito era um fascista à espera de um povo que o consagrasse. Mas não teve habilidade nem para ser fascista. Seu lastro social é calculado pelos institutos de pesquisa em no máximo 14%.

Outros agregados variados e instáveis se juntam a esse contingente para formar um terço da população que ainda o apoia, não se sabe até quando.

Bolsonaro pode colocar a máscara, defender a vacina e tentar aproximações, mas sabe que não governa mais. Mesmo que para muitos nunca tenha governado.

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