OPINIÃO

A saída é pelo cooperativismo

Por Marcelo Couto / Publicado em 12 de dezembro de 2022
A saída é pelo cooperativismo

Foto: Reprodução/Web

Cooperativismo: as primeiras cooperativas como as conhecemos surgiram na Inglaterra no século XIV

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A versão mais conhecida da origem do cooperativismo data de 1844 – uma experiência realizada por 27 tecelões e uma tecelã no bairro de Rochdale-Manchester, na Inglaterra. O grupo se organizou no formato do cooperativismo para se defender dos efeitos das traiçoeiras práticas do capitalismo.

No entanto, quase meio século antes, em Lanark, na Escócia, Robert Owen, preocupado com as questões sociais e a educação e bem-estar de seus filhos, empreendeu, a partir de 1799, um modelo de negócio mais humanizado, do ponto de vista de condições de trabalho, reduzindo a carga horária e elevando os salários dos trabalhadores.

Robert Owen deu, assim, o ponta pé inicial de uma estrutura societária regida pela solidariedade.

Seu empreendimento ganhou um desenho de negócios que serviria de base para a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale e para os princípios fundamentais das cooperativas: adesão livre e voluntária; gestão democrática, com a participação do associado; econômia sem especulação; autonomia e independência; promoção da educação, formação e informação; intercooperação; e interesse pelo desenvolvimento sustentável das comunidades locais.

Experiências no Brasil

A literatura sobre o tema nos mostra ainda que, antes dessas experiências, há exemplos de sociedades solidárias nas Reduções Jesuíticas há dois séculos antes do “marco” de Rochdale. Movidos pelo princípio do auxílio mútuo, os padres jesuítas organizaram comunidades jesuítico-guaranís (ainda que esses povos indígenas já estivessem organizados solidariamente antes da chegada dos jesuítas) com processos de produção, organização e com controle contábil. Os planejamentos de construções de igrejas, escolas e casas, se configuram fundamentalmente em ideais cooperativistas.

Outro grupo que nos traz ricas experiências no campo social, assim como os indígenas, também foram e ainda são, as comunidades quilombolas que trabalham no sistema cooperativo, com organizações sociais e econômicas, sobrevivendo da agricultura e trazendo seus costumes através de gerações.

Há alguns anos, comunidades quilombolas, reunidas em cooperativas e em parceria com os ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Desenvolvimento Social (MDS), juntaram-se ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC), em Porto Alegre (RS) para fornecer alimentos produzidos de forma orgânica, abastecendo em parte, uma demanda que servia mensalmente cerca de 270 mil refeições para pacientes, funcionários e acompanhantes.

Cooperativismo e sistema financeiro

Ao longo dos tempos, se localizam experiências com as mesmas fórmulas outrora utilizadas pelos corajosos empreendedores sociais: a implantação de um modelo econômico-social, democrático e solidário, assim como também a perseguição constante da justiça social.

A existência de cooperativas atuais, como em suas origens, não tem dono; elas nasceram de uma forma solidária, onde se tem o objetivo da conquista de um mundo melhor, mais humano e sem desigualdades.

Assim nasceram também as cooperativas financeiras. A Cresol, por exemplo, é resultado da união de pequenos agricultores de Francisco Beltrão, Paraná, que, em 1995, se uniram para obtenção de renda e serem incluídos no sistema financeiro, com voz ativa e participação dos resultados no final do período.

O Brasil conta, atualmente, com inúmeros sistemas financeiros cooperativos, confirmando a consolidação desse modelo de economia no país, a exemplo de grandes cooperativas internacionais, como a Monjardim, do Canadá, a Mondragon, da Espanha, a Raiffeisen Bank, Shultz e Delitz, Volks Bank (Volks-Povo) da Alemanha. Todas cooperativas de crédito, com uma importância fundamental nas comunidades onde atuam.

As estatísticas mostram que, as cooperativas de crédito no Brasil, juntas, reuniram mais de 13,9 milhões de cooperados, gerando mais de 89 mil empregos diretos (dados de 2021), aumentando exponencialmente a qualidade de vida e de desenvolvimento das comunidades onde atuam, comprovando seu 7° princípio, o interesse pela comunidade.

Diante deste breve relato, concluo que o cooperativismo persevera um mundo melhor, mais humano, sem desigualdades e democrático, este já está há muito tempo na engrenagem do mercado, sem a voracidade do lucro, confrontando o atual e perverso modelo capitalista.

Marcelo Couto cursa MBA em Cooperativismo, Liderança e Integridade Corporativa (concluindo); é cooperado e Gerente PJ na Cresol Gerações Porto Alegre RS – Carteira de  Sindicatos, Associações, Federações e Cooperativas.

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