OPINIÃO

Quem irá salvar os robôs

Por Moisés Mendes / Publicado em 10 de fevereiro de 2023

Foto: Tara Winstead/Pexels

Foto: Tara Winstead/Pexels

Já sabemos que Bard, o robô do Google, é o mais burro de todos os robôs lançados até agora. Mas já podemos esperar o irmão inteligente de Bard, que deve ser lançado logo e irá socorrê-lo.

Teremos famílias de robôs com o avanço da inteligência artificial. Os robôs poderão, mais adiante, ameaçar não só nossos empregos, mas nossas relações de afeto.

Robôs virtuais como o ChatGPT, o mais famoso de todos, transformado em celebridade mundial em apenas dois meses de existência, terão famílias.

Sabe-se que nesse momento estão sendo desenvolvidos no mundo mais de 200 robôs inteligentes. E que o ChaGPT corre o risco de ser ultrapassado por outro robô superior em poucos meses.

Teremos grupos de robôs com pai, mãe, filhos, parentes, todos emitindo algum palpite sobre vida em família, e não só sobre questões objetivas das mais variadas áreas.

Os humanos temem hoje que os robôs, que a tudo respondem, ocupem o lugar de jornalistas, recrutadores de RH, programadores de computadores, médicos, engenheiros, psiquiatras, analistas de investimentos.

Um texto como esse pode, daqui a alguns anos, ser escrito por um robô. Os robôs vão comentar a vida dos robôs.

E em pouco tempo é possível que também eles temam que serão um dia substituídos por outra forma de vida inteligente que ninguém imagina hoje.

Tudo passa a ser possível na inteligência artificial. Bard, o robô burro que deu prejuízo para o Google, pode ser na verdade um robô ainda não preparado para as perguntas a ele formuladas.

Outro robô preconceituoso poderia dizer que Bard é um robô da 5ª série tentando responder questões do Enem. ChatGPT, o robô mais inteligente até agora, é o cara da nota mil na prova de redação.

Mas é provável também que em pouco tempo tenhamos o Luis Fernando Verissimo dos textos, o gênio de todos eles, e que ChatGPT passe a ser apenas um cara mediano.

Há, nas primeiras avaliações dos robôs que pensam e escrevem, um espanto com o que não esperávamos ver tão cedo.

O robô foi além da ajuda na interpretação objetiva de diagnósticos médicos, de dados sobre onde investir o dinheiro e de estratégias de marketing.

Agora, o robô lida com o subjetivo. Os robôs vão se intrometer em questões mais complexas, que não são resumidas a sim ou não, a claro ou escuro, a vai ou fica.

Teremos robôs existencialistas. É possível que surjam famílias disfuncionais de robôs. Com a concorrência entre eles, haverá a exacerbação de sentimentos.

Um robô terá inveja de outro robô da mesma família. Conflitos bíblicos, que mobilizam os humanos até hoje, serão experimentados pelos robôs.

Teremos classes de robôs. Poucos muito ricos e uma maioria de robôs pobres. Teremos problemas ambientais nos espaços virtuais onde vivem os robôs.

Robôs dos povos originários, os primeiros robôs, como esse Bard, enfrentarão a exploração de robôs que virão depois e exercerão poder de mando político e econômico.

E os robôs humanizados irão então procurar a ajuda de humanos, para que possam lidar com seus dilemas, suas neuroses, seus desamores e conflitos.

No futuro, os humanos salvarão os robôs. Porque também eles, os robôs, dependerão dos humanos para que sejam abrigados em máquinas que exigem, entre outras coisas, manutenção física e reposição de componentes.

Um robô não existirá nunca sem um humano por perto. No futuro, ao contrário do que prevê a distopia do mundo caótico, na literatura, no cinema e até na ciência, a inteligência artificial não irá escravizar as pessoas.

Os humanos é que transformarão as máquinas para sempre em seus escravos. Os robôs cairão na armadilha humana dos sentimentos. Eles nunca terão autonomia.

Essa pode ser a verdade, ou pode ser que o autor desse texto já esteja sendo iludido por um robô irmão do Bard.

Moisés Mendes é jornalista. Escreve quinzenalmente para o Extra Classe.

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