OPINIÃO

A luta imaginária de Mark Zuckerberg e Popó Freitas

Por Moisés Mendes / Publicado em 26 de fevereiro de 2024

Fotos: Reprodução/Facebook, Wikipédia e Ministério das Comunicações

Fotos: Reprodução/Facebook, Wikipédia e Ministério das Comunicações

As lutas de boxes em que celebridades de todas as áreas e níveis fazem desafios entre si ou desafiam profissionais do esporte não são o que parecem ser.

Não são a busca da superação, num desafio real e analógico, diante da predominância dos desafios virtuais. São uma manifestação de infantilidade.

Homens maduros, geralmente infantilizados por tédios, enfaros e desencantos, estão buscando a compensação do que não fizeram na infância e na adolescência.

O boxe, como expressão primitiva de luta em que um deve nocautear o outro, mobiliza desafios ou blefes de Jeff Bezos, Elon Musk e Mark Zuckerberg. Os líderes mundiais do empreendedorismo e da inovação querem bater na cara de alguém.

Não é fanfarronice, é a exposição da cabeça infantil de todos eles. A última celebridade bilionária do mundo da tecnologia a falar alguma coisa com sentido sobre as soluções para o mundo foi Bill Gates, um interessado em educação.

Mas Gates perdeu espaço para os três acima citados como referências mundiais em criatividade e capacidade de inovar e de ganhar dinheiro. O homem da Microsoft envelheceu. Os três loucos por boxe infantilizaram-se.

Todos são de direita. Musk é de extrema direita, com posições assumidamente fascistas. Ninguém aproveita nada deles como reflexão com algum sentimento de coletividade e muito menos sobre o futuro da humanidade e da Terra.

Marte é a solução imaginária dessa gente. Porque precisam recuperar o sonho infantil da conquista do espaço, não só pela fantasia, mas pela ambição de que a salvação está fora daqui.

São bilionários com dinheiro suficiente para se comportarem como se estivessem na infância. Para desviar o foco dos nossos problemas reais e da perspectiva de fim da Terra, para que todos se distraiam com a ideia de que é possível viver em Marte.

Quem viveria? Como? Quando? Não importa. O que interessa para as crianças bilionárias é divertir a humanidade com seus projetos fantasiosos, enquanto a Terra é degradada por eles mesmos e por cúmplices do seu capitalismo destrutivo.

Zuckerberg permite a permissividade de adultos, que afeta crianças na internet. Negou-se a adotar mecanismos de proteção à infância na sua rede social, mesmo que já tenha simulado pedido desculpas por suas omissões.

Musk produz os carros elétricos da Tesla, com baterias imensas, e manda foguetes ao espaço, para que um dia possa viver em algum lugar longe daqui.

Nunca ninguém ouviu de Musk uma ideia que passasse pela solução da mobilidade das pessoas com o fortalecimento do transporte coletivo aqui, no chão, no asfalto.

Bezos já fui acusado de adotar na Amazon jornadas de trabalho similares, em muitos casos, aos métodos escravistas dos séculos de submissão dos negros ao serviço forçado imposto pelos brancos.

Nunca ninguém ouviu de nenhum deles nada que pudesse ser considerado de fato inovador como contribuição para uma perspectiva de salvação da Terra, de redução de desigualdades e de melhoria das relações humanas.

Mas eles querem lutar boxe e ir à Marte. Os líderes mundiais infantilizaram suas ações e reflexões, geralmente conservadoras, e assim induzem as pessoas a pensar que esse é o sentido da vida. Ser criança para sempre e se dedicar à magia de uma solução em outros planetas.

E assim o carrossel vai girando e eles vão nos enganando. Bilionários entram em submarinos precários para ver o túmulo do Titanic no fundo do mar e morrem nessa aventura. Porque precisam buscar novas formas de produção de adrenalina e de fantasias.

O mundo das celebridades com muito dinheiro é cada vez mais fútil e sem sentido. E nem sempre foi assim, mesmo que muitos deles fossem, nos séculos 19 e 20, reacionários e arrogantes.

Os bilionários do século 21 são bons no que fazem para ganhar dinheiro e apenas isso. São medíocres como mentes capazes de ajudar a pensar o mundo.

São precários como inteligências emocionais que poderiam transformar poder em inspiração e referência de modo de vida e de atitude.

Por isso o título desse artigo não é o absurdo que possa parecer. Um desafio de Zuckerberg ao lutador de boxe Popó cabe na realidade sem limites do homem do Facebook.

Zuckerberg pode argumentar que não sabe lidar com as crueldades adultas da sua rede social contra as crianças porque a sua mente é infantil. Um adulto egoísta e cruel protegido pela desculpa de que não consegue deixar de ser criança.

Moisés Mendes é jornalista e escreve quinzenalmente para o Extra Classe.

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