OPINIÃO

A encruzilhada histórica e política do Rio Grande do Sul

Por Marco Aurélio Weissheimer / Publicado em 17 de junho de 2009

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Arte de Claudete Sieber sobre foto de Tânia Meinerz/ arquivo Extra Classe

Arte de Claudete Sieber sobre foto de Tânia Meinerz/ arquivo Extra Classe

Rio Grande do Sul encontra-se em uma encruzilhada histórica. A sucessão de denúncias e escândalos envolvendo o governo Yeda Crusius (PSDB) assumiu proporções tais que não é mais possível fazer de conta que se trata de um episódio menor, inscrito em disputas partidárias. Neste momento, agentes públicos ligados direta ou indiretamente ao governo, foram e/ou são objeto de investigações de órgãos como o Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Ministério Público de Contas, Ministério Público Eleitoral, Supremo Tribunal Federal e Polícia Federal. As investigações incluem tipos penais como formação de quadrilha, fraude de licitações, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica e peculato, apenas para citar alguns.

OPERAÇÃO RODIN – Alguns desses agentes públicos já foram indiciados na Operação Rodin, que desbaratou um milionário esquema de desvio de dinheiro público no Detran, com um prejuízo de mais de R$ 40 milhões para o Estado. Outros são objeto de investigação da Operação Solidária, que pode revelar uma fraude ainda maior. Uma das denúncias mais recentes envolve uma assessora direta da governadora Yeda Crusius.

Walna: braço direito da governadora

“Misteriosa”, “toda-poderosa”, “braçodireito da governadora”: essas são algumas das expressões utilizadas para definir o papel de Walna Villarins Meneses, atual coordenadora de ações administrativas do gabinete de Yeda. No dia 23 de maio, o nome de Walna voltou ao noticiário em uma matéria de Adriana Irion, publicada em Zero Hora. Segundo a matéria, nas investigações da Polícia Federal e do MP Federal, na Operação Solidária, há gravações de conversas entre Walna Villarins e Neide Viana Bernardes, indiciada por crimes como formação de quadrilha, corrupção e crimes previstos na lei de licitações. Neide Bernardes é apontada como responsável pelo repasse de dinheiro da Magna Engenharia, também investigada na Solidária, para Chico Fraga (PTB), ex-secretário-geral do governo Marcos Ronchetti (PSDB) em Canoas.

AS CONVERSAS – Nestas conversas, Walna e Neide utilizam termos como “flores”, “arranjos”, “bonsai” e projeto de jardim” para ocultar negociação ilícita de valores. Além disso, falam sobre idas a banco e complicações para fazer uma transação envolvendo uma conta bancária. Um dos trechos publicados na matéria revela a seguinte conversa:

Walna: Você vai a algum banco hoje?
Neide: Não.
Walna: Aquele lá numa conta seria complicado né?
Walna: E eu vou ter a tempo?
Neide: Eu te ligo em seguidinha, tá bem?
Operação Solidária
Nas investigações da Solidária, Neide é apontada como responsável por tratar de interesses da Magna em supostas fraudes. Walna Vilarins seria o elo de ligação entre o governo do Estado e investigados por crime de fraude em licitações. Estão sendo investigados, entre outros, os peemedebistas Eliseu Padilha, Alceu Moreira e Marco Alba. O esquema montado para fraudar licitações nas áreas de pavimentação, saneamento e irrigação teria desviado cerca de R$ 400 milhões. As investigações do MP Federal e da Polícia Federal apontam ainda para outras pessoas muito próximas à governadora. Além de Walna Villarins, também estão sendo investigados Delson Martini, ex-tesoureiro do PSDB e exsecretário- geral do governo, a ex-secretária estadual adjunta de Obras, Rosi Guedes Bernardes, e Chico Fraga, que foi coordenador de transição do governo.
Morte de Marcelo Cavalcante

O nome de Walna Villarins também aparece no caso da morte do ex-chefe do Escritório de Representação do RS em Brasília, Marcelo Cavalcante. Entre 2002 e 2006, Marcelo e Walna trabalharam juntos no gabinete da então deputada federal Yeda Crusius. Ambos trabalharam na campanha de 2006 e, com a vitória de Yeda, passaram a integrar o governo. A viúva de Marcelo Cavalcante, Magda Koenigkan, disse ao Jornal Já, de Porto Alegre, que, no final de 2008, Walna Villarins esteve em Brasília onde conversou com Marcelo. “Em novembro ou dezembro eles tiveram encontros. Mas não sei se foi sobre política”, declarou Magda. Walna voltou a Brasília no dia 17 de fevereiro, quando o corpo do exassessor foi encontrado no lago Paranoá.

OS PACOTES – Nas denúncias feitas pelo PSOL, em fevereiro deste ano, o nome de Walna Villarins aparece mais uma vez. Ela apareceria, junto com Delson Martini, em gravações de áudio e vídeo, distribuindo pacotes de dinheiro, apelidados de “ mensalinho”. O foco do requerimento de uma CPI, apresentado pela bancada do PT na Assembleia, propõe a investigação dessas denúncias levantadas a partir da Solidária e suas possíveis conexões com a Rodin. Há indícios de que os personagens nas duas fraudes são os mesmos. O fato é que não param de aparecer indícios de uma fraude milionária contra o Estado patrocinada por agentes públicos e empresas privadas. Uma fraude que pode se transformar no maior escândalo político da história do RS.
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