OPINIÃO

Por que Luciano Huck deletou Aécio Neves

Por Moisés Mendes / Publicado em 25 de maio de 2017

Por que Luciano Huck deletou Aécio Neves

Foto: Pragmatismo Político/Divulgação

Foto: Pragmatismo Político/Divulgação

A direita sempre abandonou os seus pelo caminho. Os parceiros feridos são trastes jogados na sarjeta, onde Aécio Neves já está. Não há solidariedade na direita quando alguém tem que ser carregado nas costas.

Foi por isso que Luciano Huck, amigo de Aécio há duas décadas, viu sumirem todas as fotos dele com o parceiro no seu Instagram, no seu perfil no Facebook, nos sites, até no Orkut e nos álbuns de família.

Tudo o que é do moço nas redes sociais não tem mais nenhuma foto com Aécio. Um misterioso bug apagou tudo que tenha o homem da mala de Minas. Huck disse que não sabe o que aconteceu, que lamenta, mas que não há nada a fazer.

Huck quer ser presidente do Brasil. E Aécio sumiu da vida de Huck. Assim como sumiu da vida de Alckmin, de Fernando Henrique Cardoso, de Serra e de todos os tucanos. Um mecanismo elimina sumariamente fotos e incômodos na direita.

Andrea, a irmã de Aécio, pediu da cadeia que a Justiça lhe dê a liberdade e pegue seu irmão, porque o quadrilheiro é ele. Andrea se sente abandonada pelo irmão.

Lula sempre defendeu a mulher e os filhos da caçada do Ministério Público e do Judiciário de Curitiba. Dilma Rousseff é defendida em entrevistas do ex-marido Carlos Araújo. Até ex-marido de gente da esquerda protege os seus.

Na direita, irmão joga irmã na cadeia e amigo deleta fotos do cara que emprestava até o avião do governo para seus passeios em Minas. O golpe amplificou os defeitos de caráter da turma do pato da Fiesp.

João Doria Júnior, inventado por Alckmin em São Paulo, contra a vontade de todos os tucanos da velha guarda, virou prefeito e agora quer ser candidato a presidente. Mas e Alckmin, seu padrinho, que está na fila há anos?

Alckmin, envolvido em escândalos variados, do metrô à merenda, também pode ser jogado na sarjeta. Fernando Henrique já disse que Doria, o caçador de viciados em crack nas ruas de São Paulo, e Huck, a imagem cínica do altruísmo patrocinado na TV, são o que há de novo no PSDB.

A direita se digladia até na imprensa, onde a Folha de S. Paulo (pró-governo do jaburu) enfrenta a Globo (que quer derrubar o governo interino). Folha e Globo se agridem com armas pesadas. Uma desqualifica o trabalho da outra. As duas exaltam suas virtudes e dizem que não têm lado. A imprensa golpista se diverte com a ignorância que ajudou a produzir.

Os golpistas do século 21 não convergem como os golpistas do século 20. A direita medíocre que chegou ao poder se esfacela por falta de companheirismo e por desconfianças. A Globo abandonou Temer e pode abandonar outros parceiros para não carregar baleados pela estrada.

O PSDB é parceiro do PMDB se puder, mais adiante, compartilhar o golpe da eleição indireta. Se não conseguirem andar juntos, um tentará comer o outro. E o mais provável é que os dois se devorem.

O golpe não conseguiu consensos, e o governo do jaburu, se sobreviver por mais alguns dias, será o território das desconfianças e das traições.

Nem a esquerda contava com essa autofagia. Cúmplices precisam um do outro, para que não morram antes do tempo. Mas todos planejam apagar as fotos dos parceiros feridos com gravidade.

A direita abandonou Roberto Jefferson, lá do começo da guerra anti-PT, e agora largou Eduardo Cunha na cadeia, de onde o chefe do golpe manda mensagens aos traidores. A direita deleta amigos e memórias. Se puder, manda matar parentes.

O desembargador aposentado Lauro Pacheco de Medeiros Filho é pai de Frederico Pacheco de Medeiros. Frederico é o Fred, primo de Aécio encarregado de pegar a mala de dinheiro da JBS. Medeiros defende o filho e diz que “falta qualidade moral e intelectual” ao tucano.

Ele vê o filho como um manobrado pelo chefe da quadrilha de Minas. Mas não é isso o que mais o incomoda. O que o enraivece é que Aécio disse ao pagador de propinas que, se fosse preciso, depois do serviço feito por Fred, poderia mandar eliminá-lo, antes que Fred virasse delator.

Esse é o perfil da direita sem escrúpulos (e já sem Aécio), que prepara a próxima etapa do golpe, com uma provável eleição indireta que pode acionar o imponderável. Se a ideia da eleição indireta for levada adiante com naturalidade, como se nada de anormal estivesse acontecendo, as ruas poderão oferecer uma resposta que os golpistas não esperam.

E nada mais será previsível. A reação popular a um novo golpe irá provocar dissidências e guerras internas. Para sobreviver, novos ‘democratas’ vão deletar de seus álbuns antigos parceiros na trama que derrubou Dilma.

A campanha das Diretas precisa tumultuar a direita, mesmo que não consiga o que pretende. Se ajudar a deletar alguns golpistas, já terá cumprido sua missão.

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