OPINIÃO

Bolsonaro é um fio desencapado

Por Moisés Mendes / Publicado em 28 de fevereiro de 2019

Jair Bolsonaro

Foto: Alan SantosPR

Foto: Alan SantosPR

Se Bolsonaro fosse um jogador de futebol, nunca seria convocado para a Seleção. Se fosse um cantor, nunca concorreria ao Grammy. Se fosse um ator, seria apenas um figurante gritando ao fundo do cenário.

Mas Bolsonaro, um mediano que nem esforçado era como político, chegou ao posto máximo de uma democracia e virou presidente da República. Bolsonaro é o fenômeno da mediocridade. Em dois meses de governo, não conseguiu levar adiante nenhuma decisão, nenhuma ideia, nada que tivesse impacto na vida de alguém.

Tudo o que Bolsonaro diz ou pensa vale pouco ou quase nada. Ninguém presta atenção no que ele  possa estar pensando. Os filhos de Bolsonaro têm mais a dizer, mesmo que como incitação ao ódio, do que o pai.

Bolsonaro não conseguiu ser nem ajudante de golpista na tentativa de derrubada de Nicolás Maduro. Ações que ele pensa estar decidindo são desmentidas por alguém dias depois. É o homem que recua, nunca avança.

Por que então Bolsonaro virou presidente? Porque o Brasil desistiu da direita tradicional, por achar que esta nunca mais iria prosperar (como não prosperou) e se agarrou ao que havia. E o que estava por perto era Bolsonaro.

Bolsonaro será lembrado para sempre como a mais surpreendente e a mais arriscada gambiarra política. Poucos, uma minoria a ser ainda contabilizada, acreditavam que Bolsonaro iria combater a corrupção e caçar bandidos.

A maioria queria apenas que Bolsonaro fosse Bolsonaro para derrotar o lulismo e o PT. Bolsonaro foi o improviso ao alcance do Brasil imbecilizado, incluindo pobres, mulheres e jovens liderados por uma classe média quebrada e decadente.

E fazer o que agora com essa gambiarra que entrou em curto? Não há o que fazer. Bolsonaro detém o poder, mesmo que de forma precária, com o respaldo do voto.

Hamilton Mourão, o vice que fala sobre qualquer assunto, como falou essa semana na GloboNews, é dependente dos votos de Bolsonaro. Os filhos de Bolsonaro têm votos. Os três são políticos com representação popular. Os filhos dizem o que querem porque têm eleitores.

A gambiarra, que junta toda uma família, pode se prolongar por meses, talvez anos, se o ministério Público e a Justiça forem para os Bolsonaros o que sempre foram para Aécio, Serra, Fernando Henrique, Michel Temer. Lentos, displicentes, omissos e resignados.

Os Bolsonaros só existem porque a democracia os inventou. Desinventar os Bolsonaros, antes de uma nova eleição, é apostar no improvável.

É esperar que o caso Queiroz ande mais rápido do que o normal para delitos envolvendo a direita, que a tentativa de reforma da Previdência seja um fracasso e que um poder alternativo se instale, mesmo que pelas bordas, nos escombros do que sobrar do bolsonarismo.

Esta semana, Bolsonaro reuniu um grupo de 13 jornalistas num café da manhã no Planalto, para tentar uma trégua com a imprensa. Depois de dizer que iria destruir a Globo e a Folha, chamou repórteres e comentaristas para uma conversa.

Foi um pedido de afago, de alguma manifestação favorável, de uns dias de silêncio pelo menos na ladainha diária sobre os vínculos da família com as milícias.

Bolsonaro não aguenta mais a exploração pelos jornais dos erros cometidos em série por um ministério de medíocres trapalhões. Nem Sergio Moro se salva.

Quando fala, Bolsonaro diz ser fã de Alfredo Stroeesner, o ditador paraguaio que o Brasil protegeu até morrer. Está em desespero em busca de uma base política, enquanto é abandonado pelo próprio partido. Tem a pior avaliação de um governante em início de mandato e ainda enfrenta a sombra do pop Mourão. Bolsonaro é um fio desencapado.


* Moisés Mendes é jornalista, escreve quinzenalmente para o jornal Extra Classe

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