POLÍTICA

O ministro da Saúde é agro

Futuro ministro da Saúde, além de investigado por fraude, tráfico de influência e caixa 2, enfrentará a falta de médicos em aldeias indígenas com a saída de cubanos do Mais Médicos
Por Igor Carvalho* / Publicado em 22 de novembro de 2018

 

A Polícia Federal investiga Mandetta por fraude na implantação de plataforma de Gestão de Informação da Saúde (Gisa) em seu estado. Trata-se da mesma plataforma que que Jair Bolsonaro anunciou que quer implementar no Ministério da Saúde

Foto: Rafael Carvalho/Governo de Transição/Divulgação

A Polícia Federal investiga Mandetta por fraude na implantação de sistema de Gestão de Informação da Saúde (Gisa) em seu estado. Trata-se da mesma plataforma digital que Jair Bolsonaro pretende  implementar no Ministério da Saúde

Foto: Rafael Carvalho/Governo de Transição/Divulgação

O presidente eleito Jair Bolsonaro confirmou na terça-feira, 20 de novembro, que o deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) será o ministro da Saúde. Acusado de caixa 2, fraude e tráfico de influência, o parlamentar é mais um nome ligado à bancada ruralista que integrará o governo do presidente eleito. Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado é mais um ruralista do governo Bolsonaro, que já tem dois do Mato Grosso do Sul, onde as aldeias sofrem com falta de remédios.

A deputada federal reeleita Tereza Cristina (DEM-MS) já tinha sido confirmada como ministra da Agricultura e o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ocupará a Casa Civil.

Na declaração de bens entregue em 2014 ao Tribunal Superior Eleitoral, Mandetta informou possuir R$ 634 mil em patrimônio. Entre suas propriedades está a Fazenda Bom Jesus, no município de Dois Irmãos do Buriti.

Um dos desafios de Mandetta será separar sua atuação política anti-indígena do compromisso do ministério com a universalidade do acesso à saúde. A gestão pública do acesso de indígenas à saúde tem complexidades específicas, pois e eles habitam lugares de difícil acesso e são vulneráveis às enfermidades levadas pelos não-indígenas.

Saúde precária no Mato Grosso do Sul

Foto: Divulgação/Organização Panamericana de Saúde (Opas)/CIMI

Com saída dos médicos cubanos (foto) a crise de assistência médica em aldeias deve se agravar ainda mais. Indígenas com cardiopatia chegam a esperar dezoito meses para realizar um eletrocardiograma

Foto: Divulgação/Organização Panamericana de Saúde (Opas)/CIMI

O novo ministro da Saúde terá trabalho para reverter os dados negativos da saúde indígena em seu estado. De acordo com relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), houve em 2017, no Brasil, registros de 42 ocorrências de desassistência aos povos indígenas na área da saúde. Cinco delas ocorreram no Mato Grosso do Sul.

De acordo com o Cimi, as crianças apresentam “quadro grave de desnutrição por falta de alimentos e água potável”. Isso ocorre principalmente nas comunidades Guarani Kaiowá que vivem nos acampamentos de Kurusu Ambá, em Coronel Sapucaia, e Pyelito Kuê, em Iguatemi, ambos os municípios na região de fronteira com o Paraguai. Centenas de crianças estão desnutridas.

Em Douradina, na Terra Indígena Caarapó, representantes do Cimi apuraram que não há remédios. O deputado e ex-governador Zeca do PT denunciou desvio de dinheiro público pela Missão Evangélica Caiuá: ela teria recebido R$ 100 milhões do Ministério da Saúde para o atendimento das comunidades indígenas de Caarapó e Douradina. No local faltam medicamentos, viaturas para o transporte de gestantes e pacientes em situação de emergência.

Na Aldeia Bororó, em Dourados, 83% da frota está sucateada, “o que paralisa atendimentos importantes”. As visitas domiciliares das equipes médicas tinham sido suspensas. O posto de saúde estava sem água e teve de ser fechado. Ainda na região, indígenas com cardiopatia chegam a esperar dezoito meses para realizar um eletrocardiograma.

Denúncia de fraude justamente na área da Saúde

Médico, ortopedista pediátrico, Mandetta pertence a uma família de políticos. Seu pai, Hélio Mandetta, foi vice-prefeito de Campo Grande durante a ditadura. Um de seus primos, o senador eleito Nelson Trad Filho (PTB-MS), ex-prefeito de Campo Grande, foi condenado no dia 13 por improbidade administrativa, por ter feito propaganda pessoal em obras públicas.

Mandetta (filho) e Nelsinho Trad foram denunciados em 2015 sob a acusação de terem manipulado para a contratação das empresas Consórcio Telemídia & Technology e Alert Serviços de Licenciamento de Sistemas de Informática, para a implementação da Gestão da Informação da Saúde (Gisa), quando o futuro ministro era secretário de Estado da Saúde. A plataforma Gisa é a mesma que Jair Bolsonaro anunciou que quer implementar no Ministério da Saúde.

De acordo com a Polícia Federal, os valores, já pagos integralmente, não correspondem ao ritmo de instalação da Gisa na rede de saúde pública do Mato Grosso do Sul, pois o programa ainda está em fase de implementação. De acordo com Rodrigo Janot, procurador-geral da República à época da investigação, havia evidências de que Mandetta influenciou a contratação das duas empresas para garantir benefícios à sua campanha para a Câmara em 2010.

*Repórter do observatório De Olho nos Ruralistas, em parceria com o jornal Extra Classe

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