POLÍTICA

Governos de direita recebem baixa aprovação

Assim como Bolsonaro, a maioria dos seus colegas conservadores da América do Sul têm recebido avaliações negativas nas pesquisas de opinião
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 28 de fevereiro de 2019
(Foz do Iguaçu - PR, 26/02/2019) Presidente da República Jair Bolsonaro, cumprimenta o Presidente da República do Paraguai, Mário Abdo Benitez. Foto: Alan Santos/PR

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No dia 26 de fevereiro, em Foz do Iguaçu – PR, o Presidente da República Jair Bolsonaro saúda o Presidente da República do Paraguai, Mário Abdo Benitez fazendo o gesto arminha. Na mesma  ocasião, Bolsonaro elogiou o ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner, cujas ligações iam do narcotráfico à pedofilia.

Foto: Alan Santos/PR

Se serve de consolo para o presidente Jair Bolsonaro, que nessa terça, 26, amargou a pior avaliação de série histórica desde 2003 nas pesquisas sobre início de mandatos da CNT/MDA, seus pares conservadores nos mais importantes países da América do Sul também não têm a avaliação de seus compatriotas muito positiva. Além do Brasil, dos cinco mais importantes países governados por líderes de direita, apenas o presidente do Peru tem a boa avaliação do seu povo.

O cenário piora para as lideranças de direita quando se deparam com os altos índices de aprovação do presidente da Bolívia Evo Morales e a pesquisa que no final do ano passado apontou Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai, no topo do ranking de mandatários aprovados na região.

Na metade de 2018, Maurício Macri, da Argentina viu sua aprovação despencar para 62,7% de imagem negativa nos entrevistados pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (CEOP). O fator determinante: a sua decisão de recorrer ao FMI. Traumatizados pela história recente, 77% dos argentinos desaprovaram a atitude e enxergam um futuro com pessimismo.

Já o ultradireitista Ivan Duque, após sua postura dura contra a Venezuela conseguiu um novo fôlego, chegando a 43% de aprovação, depois de em menos de 3 meses de sua posse como presidente da Colômbia no ano passado ter caído de 53.8% para 27.2%, especialmente por contrariedade da população ao seu projeto de lei que busca aumento de impostos e protestos de estudantes.

No Chile, no último dia 18, pesquisa da empresa Cadem mostrou que o presidente Sebastián Piñera caiu dois pontos percentuais e ficou em 42%, abaixo da desaprovação de 44%. Além disso, o estudo mostrou que apenas em sete dias houve aumento da sua rejeição que chegou a 45% de desaprovação. Piñera, em meio a crise das aposentadorias herdada da ditadura Pinochet, vivencia 31% de aprovação.

Em janeiro passado, pesquisa realizada pelo Instituto de Comunicação e Arte (ICA) revelou o que pensam os paraguaios dos primeiros meses da gestão de Mario Abdo Benítez. Protagonista de um ato em Itaipu Binacional, onde Jair Bolsonaro chamou Alfredo Stroessner, ex-ditador do Paraguai de estadista, quando a história registra em sua vida casos de torturas, assassinatos, ligações com o narcotráfico e até pedofilia em série, Abdo é desaprovado por 40,9%. Insegurança, corrupção e saúde pública são os principais problemas que o tornam impopular.

Estudo mais recente da empresa equatoriana de pesquisa Cedatos, indica que o índice de aprovação do presidente Lenin Moreno continua em declínio.
Os dados da empresa, fechados em janeiro passado, dizem que 31,1% dos equatorianos apoiam Moreno enquanto 61,7% são contrários ao seu trabalho. Dado mais significativo é o que aponta que 59,9% da população não acredita na palavra do seu presidente.

Ilhas de popularidade 

Dos mandatários na América do Sul, Martin Vizcarra, que assumiu a presidência do país após a renúncia em março de 2018 do economista liberal Pedro Pablo Kuczynski, chegou ao final de 2018 com 66% de aprovação popular. Definido como mais ao centro e menos conservador do que seu antecessor, Vizacarra tem em seu passado político os cargos de ministro e governador.

Ironicamente, o engenheiro de 55 anos é filho de uma professora primária e de um ex-militante da Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), tradicional partido peruano hoje com posições mais de centro.

Na Bolívia, no final de 2018, pesquisa conduzida pela Apoyo Opinión y Mercado (Ipsos) descobriu que a popularidade de Evo Morales aumentou três pontos a mais do que em 2017. Mesma sorte não tem seus opositores. A Ipsos observou que a oposição ao presidente indígena atualmente acumula uma rejeição de 61%, enquanto em 2017 estava em 55%.

No Uruguai, um paradoxo: Enquanto Tabaré Vázquez em recente pesquisa realizada entre 362 líderes de opinião de 14 países é colocado, com 75% de respaldo, em primeiro lugar do ranking de presidentes com boa aprovação na América do Sul, a empresa Cifra diz que “30% dos uruguaios aprovam a administração de Vázquez como presidente, 50% a desaprovam e 20% não aprovam nem desaprovam ou expressam uma opinião”.
Mesmo dizendo que Vázquez experimentou uma recuperação em outubro, o estudo é questionado por se basear somente em sondagens feitas em amostras da população com mais de 17 anos que tem acesso a telefone fixo ou celular em todo o país (urbano e rural).

“O Zap que dá é o mesmo que tira”

Sobre a performance de Bolsonaro que registrou 38,9% de aprovação na pesquisa CNT/MDA em seus quase dois meses de governo, comparando que a mesma empresa verificou 56,6% de aprovação à Lula em janeiro de 2003, Lucio Uberdan, consultor de posicionamento político em ambiente de internet e diretor da Bateia – Mineração de Dados, tece o seguinte comentário: “se na pré-campanha e durante a campanha o discurso de Bolsonaro na rede conectava rapidamente com o cidadão e agregava apoio, agora no governo, com discursos e ações do presidente e do governo, ele pode distanciar na mesma velocidade”.

Concretamente, para Uberdan, isso é um possível indício da baixa aprovação do presidente que chegou com uma massa eufórica nas redes sociais. “Tirando o pacote anticrime, o restante da agenda está praticamente toda sem apoio da sociedade. É a máxima: o Zap que dá é o mesmo que tira”, sentencia.

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